INCÊNDIOS
A onda de solidariedade que quer ajudar a apagar fogos
FOTO D.R.
Aquilo que há uns anos era deficiente parece hoje não faltar - e até abundar. Depois de uma resposta incrível por parte da população e empresas, as ofertas de bens alimentares excedem as necessidades em vários quartéis e corporações de bombeiros do país. Mas toda a ajuda é necessária e continuam a existir outras formas de ajudar
TEXTO MARIA JOÃO BOURBON
Nos principais palcos do país, abrem-se frentes de combate. De um lado, frentes de fogo e de chamas, que avançam rapidamente em vários pontos de Portugal, especialmente no norte, centro e ilha da Madeira. Do outro, os soldados, homens de luta: bombeiros auxiliados por meios terrestres e aéreos, que procuram fazer tudo aquilo que estiver ao seu alcance para que esta guerra não se prolongue ainda mais, destruindo tudo aquilo que vai encontrando no caminho.
Os combates travam-se um pouco por todo o país, mas os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Leiria e Viseu são alguns dos mais problemáticos.
Há 1 mês vencemos o Euro,mas hoje os heróis são outros.O nosso agradecimento aos que combatem os incêndios.No momento particular, na Madeira
— selecaoportugal (@selecaoportugal) August 10, 2016
E tudo pode contribuir para vencer o fogo: por todo o país, multiplicam-se os donativos ou doações para corporações de bombeiros locais ou associações nacionais, naquilo que o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses classifica como sendo “o resultado do sentimento de solidariedade que existe no povo português.” O comandante Jaime Marta Soares diz ao Expresso sentir-se “sensibilizado e até emocionado” por aquilo que considera ser “um profundo respeito da população pelos bombeiros portugueses.”
FOTO PAULO CUNHA/LUSA
As ajudas que têm chegado são variadas e surgem, de forma mais ou menos aleatória, ao sabor dos apelos dos últimos dias por parte de quartéis locais ou representantes de associações que representam os bombeiros. Garrafas de água, barras de cereais, fruta, bolachas, alimentos leves, pediram alguns responsáveis de corporações locais. Produtos que não se estraguem com o sol, acrescentaram ainda representantes dos bombeiros a nível nacional.
Mas neste momento aquilo que há uns anos era deficiente parece não faltar - e até abundar. Os vários representantes de corporações ou associações contactados pelo Expresso dizem que, neste momento, e depois de uma resposta incrível por parte da população e empresas, as ofertas de bens excedem as necessidades.
AJUDA SIM, MAS COORDENADA
Até este ano, a logística de apoio ao bem-estar dos bombeiros era deficiente nos teatros de operações, garante o presidente da Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários (APBV), Rui Moreira da Silva. “Este ano resolvemos meter a mão na massa e vir para o terreno, distribuindo água, sumos, frutos e outros alimentos de fácil transporte a bombeiros no terreno”, explica Moreira da Silva. “Estive hoje no norte do país e pude constatar que os quartéis estão repletos de alimentos e águas. A população tem respondido de forma excelente. Neste momento não estamos com grandes necessidades, o que não quer dizer que não continuemos a necessitar de ajuda.” Moreira da Silva reforça que é ainda muito cedo para contabilizar a ajuda, mas adianta que à APBV têm chegado “largos milhares de euros, em bens alimentares ou em dinheiro.”
O mesmo garantiu ao Expresso o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP): as doações de bens que as pessoas entregam nos quartéis estão por vezes a ultrapassar as necessidades. “Tenho que ser muito cuidadoso a abordar esta situação”, explica o comandante Jaime Marta Soares. “Em muitos casos, temos dificuldade em dizer que num determinado momento não existem necessidades, que não existem insuficiências” para determinados produtos oferecidos. “É de uma beleza de sentimento o que se está a passar, não tenho palavras. Mas estou preocupado que possa existir algum excesso e que, não havendo condições de armazenamento, os produtos se possam deteriorar. Não é uma gestão fácil.”
É então necessário fazer um levantamento constante das necessidades e bases de apoio logístico, para ir coordenando a ajuda de forma eficaz - para que não falte nada, mas também para que não se desperdicem bens alimentares. É isto que estão a fazer neste momento a LBP e a ANBV, para evitar que os alimentos se estraguem em determinados locais, quando são precisos noutros. A ANBV, inclusive, criou uma parceria com o Banco Alimentar contra a Fome, que tem ajudado nessa distribuição e gestão de bens, segundo uma norma simples, mas eficaz: o que é necessário, distribui-se; o que existe em excesso, pode ser canalizado para outros que necessitem.
No Funchal, por exemplo, já não existem grandes necessidades, garantiu uma fonte dos serviços administrativos da direção operacional da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Madeirenses. Neste momento “a situação no terreno está mais calma, porque a temperatura e o vento” estão a seu favor, sublinha. “Talvez existam maiores necessidades na Calheta ou no Regimento de Guarnição nº 3 (RG3) [onde estão alojadas cerca de 950 pessoas]: roupas, medicamentos, águas e sumos talvez sejam necessárias.”
OUTRAS FORMAS DE AJUDAR
Quer isto dizer que estes 'soldados' no terreno não necessitam de ajuda no seu combate? Continuam a precisar, respondem-nos os entrevistados. Mas aconselham a que as pessoas, antes de doarem algo, contactem as corporações locais ou associações nacionais de bombeiros para saber quais as principais necessidades num determinado momento.
Existem ainda outras formas de ajudar no combate às chamas: os donativos. A Liga de Bombeiros Portugueses vai abrir uma conta destinada a esse fim e tem ainda o Fundo de Proteção Social dos Bombeiros, para onde podem ser canalizados alguns apoios. A Câmara Municipal do Funchal já criou uma conta solidária para donativos destinados a apoiar pessoas afetadas pelos incêndios: “Funchal Solidário”. A Caritas também abriu uma conta com esse fim e até alguns clubes de futebol (e o próprio Cristiano Ronaldo) se disponibilizaram para canalizar fundos para ajudar na recuperação da ilha da Madeira ou de outras regiões do país.
Arouca ajuda os bombeiros que lutam contra os fogos, doando 1€ de cada bilhete vendido no jogo contra Olympiacos. pic.twitter.com/10RdRsftYz
— Best Football (@bfootball4u) August 11, 2016
E há também outras opções. “Os donativos podem ser usados por nós para adquirir equipamentos de proteção individual”, avança o presidente da APBV. “Este ano estamos a dar especial destaque aos equipamentos de proteção respiratória.”