Antes pelo contrário
José Gomes Ferreira
A verdadeira história do grupo Espírito Santo no último mês
Eu já tinha visto muita coisa na minha vida de jornalista mas confesso que não imaginava ser possível o que aconteceu no último mês com o grupo BES e os seus administradores que ainda são os mesmos do Banco Espírito Santo. O que aconteceu resume-se numa frase. Ao contrário do que seria de esperar de um acionista normal, ao grupo BES interessava toda a turbulência que tem havido com as ações do banco porque ajudava a pressionar o Governo e o regulador para ajudarem o GES. A própria administração Espírito Santo estava interessada em que se dissesse que o seu banco podia estar em risco. Os donos de um grupo, que queriam salvar à custa do contribuinte, deram a entender que a falência do Grupo Espírito Santo iria pôr em causa o ramo financeiro, isto é, que havia mesmo risco sistémico. Mas na verdade já não havia risco sistémico nenhum porque discretamente o Banco de Portugal já tinha obrigado o BES a aumentar o seu capital em mais de mil milhões de euros; tinha obrigado o maior acionista a ESFG (Espírito Santo Financial Group) a provisionar as suas contas em mais de 700 milhões de euros e tinha proibido o banco de emprestar mais um cêntimo que fosse ao grupo, isto é, não havia risco sistémico nenhum. Como nem o Governo nem o Banco de Portugal, nem Angola, nem a Venezuela quiseram ajudar o grupo, fizeram ainda uma última tentativa: a administração do Grupo Espírito Santo, que ainda é a mesma do banco, fez saber aos jornalistas, diretamente e por interpostas pessoas, que há milhares de empresas em Portugal que podem ir à falência porque compraram títulos de dívida da Rio Forte e da ESI (Espírito Santo Internacional) . Passaram a ideia de que essas empresas podem ir à falência. E se forem à falência, como são muitas, provocam um grave problema económico. As administrações e acionistas dessas empresas podem ter de recorrer a tribunal para obrigar o Banco BES a responsabilizar-se, isto porque esses títulos foram vendidos aos seus balcões sem a devida informação sobre o risco. Isto é, o Banco poderia mesmo vir a ter de pagar pelos títulos de divida do grupo.
Sendo verdade que algumas empresas podem ir à falência, este risco para o BES é relativo, contingente, não afeta a sua solvabilidade. Finalmente, a 10 de julho, depois de um gigantesco braço de ferro entre o Banco de Portugal e a administração do BES, que não foi visível na praça pública, a administração do banco foi obrigada a emitir um comunicado. O texto diz que o banco tem reservas de 2 mil milhões de euros para fazer face a eventuais incumprimentos de devedores, nomeadamente do grupo GES. Em resumo, o banco não tem mesmo nenhum problema.
Isto é, uma família que sempre tratou dos negócios pela politica, pelo marketing, pela imagem e ás vezes menos pela qualidade efetiva da gestão, estava interessada em que se dissesse “urbi et orbi” que o seu banco ficaria em risco se o seu grupo não fosse salvo por todos nós. Enganaram-se.
Goste-se ou não dos partidos, e dos protagonistas da maioria no poder, a decisão que tomaram de não arriscar dinheiro do contribuinte no GES foi firme e corajosa. Se o Governo e o Banco de Portugal tivessem ajudado o Grupo Espírito Santo com dinheiro do contribuinte então sim, a oposição e todo o país teriam toda a razão para dar um enorme cartão vermelho ao Governo.