Opinião
Amanhã
Henrique Monteirohmonteiro@expresso.impresa.pt

Chamem-me o que quiserem

Henrique Monteiro

Garissa, os cristãos e a honestidade intelectual da Europa

Desejo que a comunidade internacional não assista muda e inerte a este crime inaceitável, que constitui uma preocupante deriva dos direitos humanos mais fundamentais. Desejo verdadeiramente que a comunidade internacional não desvie o olhar para outro lado”. Estas palavras são do Papa Francisco, proferidas ontem, domingo de Páscoa, no Vaticano, e penso que todos – católicos ou não, cristãos ou não – temos o dever de as secundar. Francisco referia-se ao terrível massacre na Universidade de Garissa, no Quénia, perpetrado por um grupo ligado ao Al-Qaeda.

Um amigo meu tem uma frase que subscrevo na íntegra. Diz ele: “Não sou católico, mas dá-me tanto trabalho explicar porquê que não me importo que os outros pensem que sou”. Levem esta declaração em conta naquilo que escrevo. Sinceramente não o faço por um sentimento de pertença a uma igreja ou a uma comunidade, que não seja a comunidade das pessoas de boa vontade. E o que sinto e penso dever partilhar é simples: neste momento, sendo a Igreja Católica das poucas que perde perdão por atos no passado, vê reinar demasiado silêncio à sua volta quando se torna na mais perseguida religião do mundo.

Vamos por partes, em relação às afirmações que fiz no parágrafo anterior. A Inquisição é inesquecível, todas as perseguições e malfeitorias cristãs após o cristianismo se ter tornado religião oficial em Roma (do século IV para o século V) são condenáveis. Mas alguém se debruçou sobre as malfeitorias de outras religiões no passado? Não me refiro aos muçulmanos (cujos atos são por demais conhecidos, até hoje), mas por exemplo à Igreja Reformada Holandesa que inventou não só o ‘apartheid’ com os ‘boers’ na África do Sul como, no passado, perseguiu barbaramente católicos portugueses quando os holandeses chegaram ao que é hoje a Indonésia. Ou o que fizeram os calvinistas em Genebra? Ou o próprio Lutero nos principados em que a sua fé era maioritária? Podem crer – e quem não acredita que leia História – que todas as religiões, mesmo a Hindu, mesmo as que não têm um Deus sobrenatural, como o Budismo estão repletas de esqueletos no armário.

Mas a singularidade europeia, aqui como noutros casos (a pena de morte, a escravatura) não foi ter este passado intolerante. A singularidade da Europa foi reconhecer que esse passado não era dignificante. A própria Igreja católica, depois de séculos a ser dominada pelo poder e a dominar o poder, numa simbiose pouco saudável, é fiel defensora da separação do Estado. Os crimes cometidos no interior da Igreja, o último dos quais conhecido é a pedofilia, são alvo de combate interno. Enfim, a nossa Igreja ocidental entrou na modernidade.

Ninguém, no geral, é perseguido em países de maioria cristã. No entanto, os cristãos são perseguidos em quase todos os países onde constituem uma minoria. E são-no sem um protesto audível e claro dos líderes políticos de países poderosos – como os EUA, a França, o Reino Unido, a Alemanha, a Itália, etc. – em que a maioria da sua população é, justamente, cristã. Os mesmos líderes que “desviam o olhar para o outro lado”, como referiu o Papa Francisco, são os que pedem (e bem) que a Igreja se afaste dos assuntos mundanos; que a Igreja se desculpe pelos excessos passados (como se a Inquisição e muitos outros crimes não fossem tão ou mais crimes políticos do que religiosos, exigidos pelo poder temporal, o mesmo que exigiu de um renitente Papa Leão X, que nunca a decretou, e depois de um não menos hesitante Paulo III, a introdução da Inquisição em Lisboa).

Há, terá de haver, uma honestidade intelectual que não é feita de meros slogans, de propaganda barata. Há uma comunidade cristã e uma comunidade católica por todo o mundo, que se consideram ‘irmãos em Cristo’ que sofre pelas perseguições que os seus membros mais vulneráveis sofrem. E que sofrem pelo silêncio e pelo ‘desvio do olhar’ dos seus líderes políticos.

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Amanhã

CELEBRAÇÕES

DIA NACIONAL DOS MOINHOS

Os moinhos de Santa Cristina e do Lograssol, na Mealhada, vão ser o centro das comemorações do Dia Nacional dos Moinhos, que se celebra no dia 7 de abril. Para assinalar a data vai realizar-se um conjunto de atividades dirigidas à população, com destaque para visitas a moinhos, demonstrações de moagem de cereais e do processo de cozedura do pão, feira de artesanato e de produtos agrícolas, assim como a hora do conto. A iniciativa contará ainda com conversas sobre nutrição, rastreios de nutrição e workshops. Entrada livre.

LITERATURA

JORGE REIS-SÁ LANÇA NOVO LIVRO

A Guerra e Paz Editores e Bertrand convidam para a sessão de lançamento do livro «A Definição do Amor», de Jorge Reis-Sá, que se realiza na terça-feira, dia 7 de Abril, às 18h30, na Bertrand Picoas Plaza, em Lisboa. Com apresentação de Ana Margarida de Carvalho e João Pereira Coutinho.

CONCERTOS

VIII PURPLE SESSIONS

Já na oitava edição, o Núcleo de Rádio da AEFFUL dá vida e palco às Purple Sessions - Concurso de Novas Bandas Portuguesas. Dia 7 de abril, no Popular Alvalade, com início pelas 22h30, a música portuguesa estará no seu auge. Estarão presentes Ana Galvão e d'O Martim, como jurados convidados, além de quatro bandas a concurso: Os Vultos, Billy Lobster, Then They Flew e Espaço em Branco. Entrada 3 euros.

EXPOSIÇÃO

“100 ANOS DE HISTÓRIA” DA CRUZ VERMELHA EM BEJA

Entre os dias 7 e 11 de abril, o cine teatro Pax Julia em Beja recebe a exposição comemorativa dos 100 anos da Cruz Vermelha Portuguesa nesta cidade, sob o tema “100 anos de história”. A mostra integra fotografias do arquivo fotográfico do Centro Humanitário de Beja e outras mais recentes, da autoria de Marta Augusto e Rui Eugénio. A entrada é livre, das 10h às 19h.