ECONOMIA
Chineses já se reuniram com Bruxelas para impedir travão à OPA à EDP
China Three Gorges (CTG) deslocou-se à Comissão Europeia para convencer Bruxelas a não levantar obstáculos à compra da EDP. Maior preocupação da CTG é a negociação que em breve arrancará com as autoridades norte-americanas para viabilizar a OPA
Texto João Vieira Pereira e Miguel Prado
A China Three Gorges (CTG) já iniciou as conversações com a Comissão Europeia relativas à oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP, tendo realizado nos últimos dias uma primeira visita de cortesia a Bruxelas, apurou o Expresso.
A reunião não entrou em pormenores relativos à operação, mas visou abrir um canal de diálogo entre a empresa estatal chinesa e os responsáveis da Comissão Europeia, de forma a evitar que Bruxelas imponha entraves significativos à concretização da compra da maioria do capital da EDP pela CTG, que já tem 23,27% da EDP.
A empresa chinesa, que já é o maior acionista da EDP, anunciou a 11 de maio uma OPA para ficar com pelo menos 50,01% da elétrica portuguesa, oferecendo 3,26 euros por ação. O valor foi considerado baixo pela generalidade dos analistas da banca de investimento e pelo próprio conselho de administração da EDP. Mas a CTG considera que aquela contrapartida é justa face à realidade de negócio da EDP e aos riscos crescentes que o grupo enfrenta, e que os acionistas da EDP vão aos poucos aceitar aquele preço. É por isso que, segundo apurou o Expresso, a CTG nem considera a possibilidade de rever o preço. Até porque acredita que o projeto industrial que tem para a EDP é válido e garante um crescimento de longo prazo para quem queira continuar ao lado da CTG como acionista da EDP. A principal razão para o lançamento da OPA terá sido a possibilidade de consolidação das contas da empresa chinesa na Europa e não por uma mera questão de controlo, pelo que pretende manter a sede em Portugal e empresa cotada na bolsa de Lisboa.
Segundo apurou o Expresso, a CTG já realizou outras diligências para tentar remover potenciais obstáculos à concretização da operação no plano regulatório. Os responsáveis da empresa chinesa também já realizaram uma reunião em Madrid com o governo de Mariano Rajoy, mas a queda do Executivo obrigará a Three Gorges a recomeçar do zero a sua campanha diplomática no país vizinho.
Espanha será uma das geografias delicadas para a obtenção de “luz verde” na OPA sobre a EDP, já que as elétricas espanholas (Iberdrola, Endesa e Gas Natural Fenosa, principalmente) podem exercer a sua influência junto do Governo para dificultar a operação de tomada de controlo da EDP pela CTG.
Fonte próxima da CTG assegurou ao Expresso que a empresa chinesa está otimista quanto à obtenção de aprovações de reguladores e governos na Europa, acreditando que há hoje um ruído em torno dos obstáculos na OPA que não corresponderá à realidade. Um dos problemas que se coloca é a separação obrigatória entre a produção e o transporte de eletricidade, que por lei não podem ser controlados pela mesma entidade. Como a State Grid, também empresa pública chinesa, tem em Portugal 25% da REN, isso pode constituir um entrave ao negócio. A CTG tem uma visão diferente: este não é um problema seu mas sim da REN e da State Grid, que entrou no mercado português meio anos depois da CTG.
Uma das mensagens que os líderes da CTG querem levar aos decisores nos vários mercados em que a OPA tem de ter aprovação prévia é que a Three Gorges, que já está há seis anos na EDP, se posiciona como um investidor de longo prazo e não pretende adquirir o controlo da elétrica portuguesa para logo a seguir revender a empresa ou retalhar os seus ativos.
A fonte ouvida pelo Expresso, que pediu para não ser identificada, salientou ainda que a CTG está igualmente otimista em relação ao Brasil, onde a EDP detém 51% da EDP Brasil, com posições relevantes na produção, distribuição e comercialização de eletricidade. “A CTG e a EDP podem trabalhar juntas para serem o operador número 1 no Brasil”, refere, notando que essa ambição de liderança respeita não apenas ao negócio de produção mas também o de distribuição de eletricidade.
Após o anúncio preliminar da OPA, a CTG fez saber que é sua intenção manter a EDP cotada na bolsa portuguesa, com sede em Lisboa. E é também vontade dos chineses que a EDP Brasil se mantenha cotada na bolsa de São Paulo.
Mais complexa será a obtenção de aprovação das autoridades norte-americanas. Os Estados Unidos representam hoje quase metade das receitas da EDP Renováveis. Mas para que a OPA avance, a CTG precisa que os EUA autorizem a operação. O comité que analisa cada operação de investimento externo (CFIUS) deverá levar 75 dias a analisar a operação, um prazo que se interromperá a cada momento em que o CFIUS solicite nova informação à EDP.
A negociação de eventuais remédios nos EUA para que a OPA seja aprovada terá de ser articulada entre a CTG, o conselho de administração executivo da EDP e o CFIUS, o que obrigará a uma capacidade acrescida de diálogo entre a equipa de António Mexia e os interesses chineses.
No final desta semana, a administração de Mexia deverá emitir um parecer fundamentado sobre a OPA da CTG, no qual poderá ou não recomendar aos acionistas a aceitação da oferta.