Escolhida para viver
Aos dez anos, Annie Ernaux ouviu a mãe partilhar em voz baixa, com uma cliente, o grande “segredo” que nunca lhe foi revelado, nem sequer na idade adulta: a existência de uma irmã mais velha, morta aos seis anos, de difteria, dois anos e meio antes do seu próprio nascimento. É esta “narrativa”, história de uma ausência, que Ernaux resolveu explorar aos 70 anos, quando uma editora a convidou a dirigir uma carta a alguém com quem nunca se tivesse correspondido