Ricardo Costa

Dívida, exportações, população. Não mexer, s.f.f.

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Entre promessas e opções políticas, convém não mexer em variáveis básicas

Primeiro, a dívida, a grande ausente da cavalgada eleitoral. O Santo Graal de uma década de desmando, resgate e recuperação foi metido numa arrecadação, a meias por quem proclama mudança ou novo impulso. É espantoso que tenhamos feito cinco eleições com este elefante no meio da sala — 2009, 2011, 2015, 2019 e 2022 — e agora todos finjam que já não existe, apenas porque o paquiderme emagreceu.

A ausência não é um mistério: é um tema que atrapalha as promessas e, além disso, a dívida pública está abaixo dos 100% do PIB. Também não é, em si, um problema político. Mas apenas e só se a trajetória da dívida continuar a baixar. Qualquer interrupção no caminho acarreta riscos que o país não quererá suportar a prazo.

A ideia de que a diminuição da dívida é incompatível com crescimento é absurda. Quanto muito é incompatível com resolver todos os problemas ao mesmo tempo. É fundamental que o próximo governo perceba que não tem apenas a obrigação de resolver problemas. Tem de o fazer de forma gradual e sem comprometer mais as gerações futuras, quase sempre prejudicadas pelas opções imediatas e que depois têm de pagar a conta.

Por falar em contas, uma das maiores alterações da nossa economia reside no peso das exportações. Em 2000, as exportações portuguesas representavam apenas 28,2% do PIB; em 2022 atingiram, pela primeira vez, o equivalente a 50% do PIB, antecipando em 5 anos uma meta prevista para 2027.

O mérito assenta, obviamente, no trabalho das empresas, na sua capacidade de inovação e de procurar novos mercados. Mas isso também só foi possível graças ao saneamento do sistema financeiro, ao enorme salto nas qualificações (nomeadamente ensino profissional e superior), a infraestruturas adequadas e, nalguns casos, a boa diplomacia (e a muita imigração, claro).

Para que as exportações consigam atingir os 60% do PIB até ao fim da década é fundamental que os governos apostem nas políticas certas, em articulação com as associações patronais, que incentivem a investigação e desenvolvimento e que captem investimento estrangeiro.

Para que tudo isto funcione, precisamos de mais população. É um tema sensível — como se viu esta semana na campanha —, mas inelutável. O que tem permitido a Portugal aumentar a população são os saldos migratórios positivos (emigrantes menos imigrantes) dos últimos anos. No final de 2023 já teríamos mais de um milhão de imigrantes, o que tem um valor económico brutal.

Nenhuma destas variáveis pode ser posta em causa. É só não mexer, s.f.f.