Massa Crítica

Massa Crítica

Luís Marques

Despachem a TAP. Já!

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O ministro Pedro Nuno Santos devia obrigar um assessor a lembrar-lhe todas as manhãs a urgência de despachar a TAP, como os generais romanos a quem nas paradas segredavam ao ouvido: “Lembra-te de que és mortal.” A seguir devia, ele próprio, fazer o mesmo, usando o seu melhor francês para evitar dúvidas de interpretação, com a senhora Christine Widener, a nova CEO da empresa. Juntando esforços nesta patriótica missão, talvez consigam desviar a rota que conduzirá a TAP para o abismo. Salvar o que for possível. Sob qualquer forma. Com quem possa. Bruxelas, que é quem manda. Lufthansa, de quem se fala, que é quem pode. Reestruturar é sangrar em vida. Morrer aos poucos. Não chega para salvar a TAP ou o que restará dela. É uma missão que está muito além dos delírios empresariais do ministro dos Transportes.

O contraste não podia ser maior. Enquanto um sentimento de euforia está a tomar conta do sector aeronáutico, a TAP afunda-se na depressão de um calvário sem fim à vista. Vejamos alguns exemplos. A Ryanair acaba de anunciar a contratação de 2000 pilotos. A TAP vai proceder ao despedimento coletivo de mais 124 funcionários, dos quais 35 são pilotos. Os grandes consórcios europeus já concluíram as respetivas reestruturações e inverteram o ciclo. A TAP ainda nem sequer começou a restruturação, que está retida desde dezembro em Bruxelas sob “investigação aprofundada”. A americana United Airlines comunicou a 29 de junho o maior investimento da sua história com a compra de 270 aviões da última geração. A TAP vai ter de continuar a reduzir frota. As outras companhias tiveram um problema chamado pandemia. A TAP já tinha um grave problema antes da pandemia.

A TAP chega sempre tarde ao destino. Enquanto lá fora estão a descolar da crise, a TAP ainda nem se fez à pista. Os próximos anos mudarão de forma radical o sector da aviação civil. Os aviões serão mais rápidos, mais ecológicos e mais caros. Em 2030, um avião supersónico fará a viagem entre Londres e Nova Iorque em pouco mais de três horas, cerca de metade do tempo gasto atualmente. A Airbus apresentou no final de maio o seu novo avião A321xLR, para distâncias extralongas. Uma nova geração de empresas low-cost está a nascer um pouco por todo o mundo. O sector, que em 2020 perdeu 80% da sua atividade, fervilha de inovação, investimento e otimismo. A TAP está no polo oposto. Uma vez mais por erradas opções políticas.

O problema da TAP não é apenas o brutal custo financeiro e social da reestruturação, cujo conteúdo ainda nem sequer é conhecido. Os 2500 postos de trabalho já perdidos e os que ainda vai perder. A redução salarial. Os milhões gastos e os 3,2 mil milhões de euros por gastar. O verdadeiro problema, a prazo, é a sobrevivência da TAP. Uma empresa velha num sector novo. Pública e obsoleta. A TAP perdeu a primeira vaga de consolidação do transporte aéreo na Europa. Não pode perder a que vai começar. As bravatas ideológicas de Pedro Nuno Santos vão custar muito caro se o ministro ignorar o lembrete matinal: “Despache a TAP.” Não é para amanhã. É já!