PROJETOS EXPRESSO Europa

Avaliação O mais recente Eurobarómetro revela que 84% da população faz uma avaliação positiva da União Europeia, a percentagem mais elevada dos 27 Estados-membros. A ressaca da pandemia e as forças populistas são riscos presentes

Portugal apoia a UE... mas

Textos Tiago Oliveira Ilustração Carlos Monteiro

O que significa ser europeu? É uma pergunta que pode ter várias respostas, da cultural à geográfica, e que está na génese dos sucessos e tribulações que marcam a história do projeto comunitário da União Europeia. A pandemia foi (é) dura e há dúvidas e críticas que subsistem, mas Portugal destaca-se no apoio à Europa. De acordo com o Eurobarómetro de Primavera do Parlamento Europeu, 84% dos portugueses têm uma imagem positiva da União Europeia (UE), a percentagem mais elevada dos 27 países, e bem acima da média europeia de 48%. Apenas 2% da população inquirida tem uma imagem negativa, abaixo, da média europeia de 17%. “O apoio é consistente por causa das verbas, pelo facto de nos sentirmos bem com os valores europeus e por fazermos parte de uma integração pela positiva”, considera Manuel Porto. O presidente da Associação de Estudos Europeus de Coimbra elogia o “modelo social europeu” e defende que “o seu benefício para nós tem a vantagem de mostrar ao mundo que com este modelo é possível ser-se competitivo”.

Investimento comunitário

Em Portugal, 53% estão satisfeitos com as medidas tomadas, acima dos 48% de média europeia, com 58% dos portugueses também a revelarem mais satisfação com a solidariedade europeia do que a média de 44% registada pelo Eurobarómetro. “Ainda está muito presente na nossa memória coletiva a transformação decorrente da adesão e da chegada dos fundos comunitários”, considera a eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda, Marisa Matias. “Infelizmente, no nosso país o investimento público caiu para valores tão baixos que é normal associar-se investimento a dinheiros comunitários. Creio que essa ideia de investimento é parte da análise positiva”, aponta. “Numa fase inicial da pandemia a resposta comum foi positiva”, ao envolver um esforço para “responder em conjunto” e com uma aposta no “investimento público para investigação e para a vacina, entre outras medidas”, lembra Marisa Matias. Sem esquecer que “apesar de todas as dificuldades e limitações” houve um esforço para pintar um retrato de entreajuda. “Foi feita uma enorme campanha em torno do Fundo de Recuperação, até se chamou bazuca, pelo que essa imagem tem tanto de real como de promovido”, aponta.

Para o eurodeputado eleito pelo PSD, Paulo Rangel, a avaliação positiva feita pelos portugueses revela uma “clara consciência de que Portugal sozinho não poderia lidar com muitas das ameaças globais — pandemia, ambiente, crise financeira, terrorismo — e com o efeito do desenvolvimento trazido pelos fundos europeus”. Pode indiciar também “uma dimensão conjuntural que é muito comum a outros países, o descontentamento com a ação do Governo e das instituições nacionais no dia a dia”. Mais de metade dos portugueses (58%) e quase metade dos europeus (47%) declaram-se de certa forma a favor da UE, mas não da forma como tem sido concretizada até agora, dados que Paulo Rangel acredita estarem relacionados com o facto de a “generalidade dos cidadãos” sentir-se “longe e distante de Bruxelas e dos seus mecanismos de funcionamento”.

Marisa Matias considera que “os portugueses levaram com uma sobredose de regras e imposições durante a intervenção da troika. É um passado ainda muito recente e do qual muita gente ainda não recuperou”. Quanto às forças ditas populistas, o seu aumento “tem ainda, apesar de tudo, mais peso e contornos diferentes em muitos países da UE por comparação com Portugal”, explica. “Precisamos, contudo, de combatê-las no nosso país.” É um fator que pode influenciar o apoio das populações à União Europeia, mas Paulo Rangel aponta que esta subida até pode “ter um influência positiva, já que a UE será sempre uma garantia de que certos limites não podem ser ultrapassados e serão até sancionados”. Por outro lado a gestão contínua da pandemia é determinante e “a questão do chamado passaporte depende de como funcionar. Se realmente resultar será um ponto muito favorável, mas se falhar, aumentará as desconfianças.”