INOVAÇÃO
Já pode fazer a sua casa com... CO2
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São blocos reciclados. Chegam ao mercado já com um prémio europeu no currículo
Margarida Cardoso
A eCO2Blocks, uma spin-off da Universidade da Beira Interior, está a terminar a fase de prototipagem de um novo tipo de blocos para a construção civil criados com materiais reciclados, água não potável e CO2. A nova tecnologia chega ao mercado no segundo semestre de 2019 já com um prémio no currículo, depois de vencer a final internacional do ClimateLaunchpad, uma iniciativa da Comissão Europeia para distinguir ideias de negócio amigas do ambiente.
O projeto, iniciado com a tese de doutoramento de Pedro Humbert à volta da utilização de resíduos industriais da Siderurgia Nacional na indústria da construção, junta o investigador e o seu orientador de tese, João Castro Gomes, e já tem grupos nacionais e internacionais dos sectores da construção e da energia como potenciais clientes. Tem, também, uma empresa industrial interessada na produção dos novos blocos, mas o segredo ainda é a alma do negócio nesta fase dos trabalhos por isso o nome de clientes e parceiros “é confidencial”.
Na base do trabalho estão resíduos industriais. Nesta fase, o trabalho está centrado em resíduos da Siderurgia Nacional, endurecidos com CO2. “Na prática, replicamos e aceleramos o que a natureza faz nas pedras calcárias, com um processo de carbonatação”, explica Pedro Humbert. “Se o cimento é misturado com água para endurecer, nós juntamos dióxido de carbono concentrado para garantir isso”, acrescenta.
“O prémio atraiu mais atenções para o nosso trabalho, mas já tínhamos clientes para a solução que propomos”, diz o investigador, a terminar o processo de certificação dos novos blocos, com patente registada em Portugal e em fase de registo internacional, mas a pensar também na etapa seguinte, em que a eCO2Blocks poderá entrar no segmento das estruturas de construção, como pilares e vigas, mais exigente e demorado em termos de certificação.
Mais rápido, barato e verde
A confiança é alicerçada nos estudos de viabilidade económica do projeto, uma vez que o processo de fabrico é 10 vezes mais rápido e 50 por cento mais barato do que a opção tradicional, com blocos de cimento.
“A resistência ao fogo atinge os 900 graus Celsius, contra os 400 graus do cimento. A resistência mecânica é cinco vezes superior”, garante este engenheiro civil.
Como alternativa ao cimento, que “consome recursos naturais e é extremamente poluente no seu processo produtivo”, a eCO2Blocks propõe a utilização de resíduos e de dióxido de carbono que é retirado da atmosfera e armazenado nos blocos. Pedro Humbert garante que esta solução permite reduzir as emissões de CO2 em 2/3 face ao cimento. “Olhando ao consumo da construção civil em Portugal e Espanha num ano, estamos a falar em mais de 600 mil toneladas”, refere. “Os blocos são pretos por fora, mas são um produto verde”, promete.
O principal problema, diz, “está na exigência de precisão de todo o processo industrial”. “Tudo tem de ser cuidadosamente controlado em termos de regras e condições de produção”, acrescenta.
Mas neste negócio, a eCO2Blocks vai ficar fora da fase industrial de produção. O objetivo da spin-off é desenvolver a tecnologia e, depois, vender a licença de utilização numa base de royalties, continuando a dar suporte técnico ao processo.
São blocos reciclados. Chegam ao mercado já com um prémio europeu no currículo