10 perguntas a...
MC SOMSEN
“DIFICILMENTE UM FACEBOOKER CONSEGUIRÁ SER ESPONTÂNEO”
© Expresso Impresa Publishing S.A.
1. As redes sociais são uma espécie de Red Light District das nossas vidas?
O Facebook é um daqueles restaurantes que já tiveram melhores dias e ao qual só regresso porque ainda cá estão os meus amigos. E porque a gerência ainda aceita o meu crédito.
2. O que mudou na sua vida?
Nada mudou. Na minha rede social, ainda sou eu que escolho os pratos do dia e reservo o direito de admissão. As pessoas vão chegando por razões que desconheço, mas acredito que seja porque este estabelecimento raramente fecha para descanso do pessoal.
3. Um Facebooker deixa que a premeditação tome conta da espontaneidade?
Se imaginarmos que tudo na vida é calculado, e tudo o que escrevemos é premeditado, dificilmente um facebooker conseguirá ser espontâneo. Mas isso não significa que ele não possa ser livre. Talvez a liberdade seja o tal dispositivo que leve a espontaneidade a um dia suplantar o calculismo.
4. A popularidade medida a likes terá os dias contados?
Pelo contrário, o futuro é aquele episódio de “Black Mirror” no qual o teu sucesso pessoal e profissional será medido por um rating social determinado por milhares de Moody’s individuais, desde o motorista da Uber ao troll que corrige os erros nos teus posts (mas não nos dele).
Facebooker seguido por milhares. Foi jornalista de “O Independente”, crítico de cinema. Fez o “Resumo de 2017 para Todos” em livro. Um dos responsáveis pela marca Gin Lovers
5. Como pode evoluir o fenómeno das Fake News?
Como evoluiu a propaganda: as fake news vão aproveitar-se da anestesia das pessoas, fazendo-as crer que estão bem informadas sobre o tema polémico da semana ao ponto de se tornarem tão cínicas e pessimistas que depois já não vejam qualquer razão para votar nas próximas eleições. Portanto, o que me assusta nas fake news é elas criarem ainda mais abstencionismo.
6. Algum (mau) jornalismo tem contribuído para reforçar o populismo?
Isso será sempre expectável numa sociedade livre e democrática. O populismo não é o problema, o problema é se não houver uma alternativa que contraponha as ideias populistas. O problema é o populismo ser dominador e denominador comum. Que neste país tenderá a ser.
7. Como seria “O Independente” de hoje?
Seria muito pouco independente, creio eu.
8. A paternidade definiu-lhe os limites do humor?
A única coisa que pode definir os limites do humor são os limites da coragem ou da graça de cada um. Como pai, apenas sinto que me cabe a responsabilidade de ensinar à minha filha que o humor será sempre o único idioma que nos vai unir e salvar.
9. Quem é que o faz rir?
O Insónias em Carvão. O Hugo Van Der Ding. A Cátia “One Woman Show” Domingues e a @sophiaqualquer no Twitter. O RAP, o Bruno Nogueira, o Nuno Lopes. Nenhum deles tanto como o Trump.
10. Quantos grãos de pimenta põe no Gin?
No gin, cada vez menos. Na vida, cada vez mais. Já não imagino a vida sem qualquer tipo de aditivos, sejam eles naturais, sintéticos ou virtuais.
Por Inês Maria Meneses