Meteorologia
Nórdicos com calor recorde, verão tímido em Portugal. O que se passa com o clima?
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Nórdicos com calor recorde, verão tímido em Portugal. O que se passa com o clima?
Há locais onde os termómetros sobem a temperaturas que nunca antes tinham marcado, há nevões que obrigam ao cancelamento do mítica Tour, a Volta a França em bicicleta. Fenómenos climáticos extremos destes ainda surpreendem, mas vão tornar-se cada vez mais frequentes, explica ao Expresso Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da Universidade de Aveiro
Texto Marta Gonçalves
Nos últimos dias, Paris atingiu os 43 ºC, o valor mais alto de sempre, na Suécia, no norte do país, a cidade de Markusvinsa chegou aos 34,8 ºC. Em França, por exemplo, o Tour teve de ser interrompido devido à intensidade da chuva e neve, em Barcelona as fortes chuvas provocaram inundações… O que se está a passar? Como é que se explica esta disparidade de fenómenos?
Um único evento extremo não pode ser associado às alterações climáticas. No entanto, o aumento recente do número e da intensidade deste tipo de eventos parece ter como origem as alterações climáticas. Os modelos climáticos também preveem o aumento deste tipo de acontecimentos extremos na Europa: estamos a falar de calor intenso durante dias consecutivos e de tempestades mais típicas de regiões tropicais e subtropicais durante o primavera, verão e outono.
São apenas as alterações climáticas as responsáveis pelo aumento da frequência destes fenómenos?
As causas primárias são o aumento da emissão de gases com efeito de estufa de origem humana, que tem vindo a aumentar desde a revolução industrial, no final do século XIX.
Este ano já se falou pelo menos duas vezes em ondas de calor na Europa. Porque estão a acontecer?
A temperatura tem vindo, em média, a aumentar e aquilo que era considerado uma onda de calor muito pouco frequente há algumas décadas passa a ser cada vez mais frequente. Portanto, é normal que ondas de calor que nunca se registaram no passado comecem a acontecer com temperaturas máximas nunca anteriormente registadas.
Também pela segunda vez a onda de calor não chegou a Portugal? Desta vez, o anticiclone voltou a proteger o território nacional?
Exatamente. O extremo oeste da Península Ibérica tem escapado às ondas de calor devido à posição do anticiclone dos Açores. Mas isto não significa que não venham a ocorrer ondas de calor durante este verão em Portugal, embora ainda não seja possível prever se vão ou não acontecer.
O verão tem sido pouco quente. Isto é apenas uma perceção ou confirma-se que tem sido dos verões menos quentes?
O verão ainda não terminou. Segundo informação divulgada pelo IPMA, Portugal continental registou em maio temperaturas 2ºC a 3 ºC acima da média e em junho 0,5ºC a 2 ºC abaixo da média. O mês de julho está a terminar e, embora a informação do IPMA só seja publicada dentro de dias, tudo indica que este mês também vai ter temperaturas abaixo da média. Resta aguardar por agosto e setembro para tirar conclusões sobre o verão. O IPMA publica previsões de longo prazo e podemos dizer que para a semana de 29 de julho a 4 de agosto prevê-se temperatura abaixo da média para o litoral centro e norte e precipitação inferior à média; na semana seguinte (entre 5 e 11 de agosto), continua a previsão de temperatura inferior à média no Norte, Centro e Alto Alentejo, enquanto se espera precipitação superior à média.
Há uns dias um estudo dava conta que nunca a temperatura subiu tanto. Qual o motivo? Isto também está a acontecer em Portugal? Porquê?
Em média, a temperatura média global, a média da Europa e a média de Portugal, têm vindo a aumentar — e espera-se que assim continue no futuro. Isto não significa que todos os meses e anos sejam mais quentes que os anteriores. Poderá haver meses, e mesmo anos, mais frios. Mas, a longo prazo, a temperatura tem vindo a aumentar. Por este motivo, é de esperar que venham a ser batidos recordes de temperaturas elevadas cada vez com mais frequência.
Há locais onde os termómetros sobem a temperaturas que nunca antes tinham marcado, há nevões que obrigam ao cancelamento da mítica Tour, a volta à França em bicicleta. Fenómenos climáticos extremos destes ainda surpreendem, mas vão tornar-se cada vez mais frequentes, explica ao Expresso Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da Universidade de Aveiro