GREVE CLIMÁTICA
“Temos a nossa casa a arder, não é? Estamos a fazer um churrasco numa casa a arder”
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GREVE CLIMÁTICA
“Temos a nossa casa a arder, não é? Estamos a fazer um churrasco numa casa a arder”
Manifestação da Greve Climática Global em Lisboa, esta sexta-feira à tarde
Professor de 61 anos, Joaquim Rente juntou-se às centenas de estudantes que em Lisboa se manifestaram pelo clima, no final de uma semana marcada pela cimeira nas Nações Unidas sobre a emergência ambiental. Em Portugal estavam marcadas concentrações em 30 localidades de todo o país. Aquela que era até agora uma ação marcadamente estudantil chegou também aos professores e outros sectores profissionais (dezenas de coletivos, associações e sindicatos que também participam na Greve Climática Global)
Texto Helena Bento e Marta Gonçalves Fotos Nuno Fox
Está a fazer greve?
Sim.
Porque decidiu juntar-se à manifestação?
Temos a nossa casa a arder, não é? Estamos a fazer um churrasco numa casa a arder. Basicamente é por isso que aqui estou. Acho lamentável terem de ser as crianças e os adolescentes a reparar naquilo que os adultos não estão a ver. Esta luta deveria ser feita nas escolas. Não faz sentido termos programas de disciplinas como Ciências da Natureza e toda a questão do clima ser ensinada de uma forma profundamente académica e vazia. É completamente antiquado e supérfluo, estamos a ensinar para o século passado. O que deveríamos estar a ensinar era maneiras de sobreviver à catástrofe que vem aí. Estamos numa casa prestes a ruir e espero que todos os que aqui estão estejam lúcidos das dificuldades que os espera. Talvez estejam muito mais conscientes que os adultos — e por isso é que estão aqui.
Como vê as críticas à mensagem da urgência climática? As acusações à ativista Greta Thunberg? Acha que a mensagem que têm passado é demasiado alarmista?
Não são demasiado alarmistas. As tricas políticas neste assunto são supérfluas. Há um poema de Bertolt Brecht fabuloso em que a sua casa está a arder e em que a personagem pergunta que tempo faz lá fora para decidir se põe a gravata azul ou encarnada. Faz esta pergunta quando a casa está a arder. Essas tricas políticas são completamente mesquinhas e desnecessárias.
Portanto, acha que todos os alertas que têm sido feitos são precisos…
Infelizmente, as coisas estão muito pior do que se diz. Ainda esta sexta-feira foi divulgado o relatório das Nações Unidas e, mesmo esse, é pouco profundo. A verdade é que não sabemos nada do que estamos a fazer: o oceano é um lixo, aliás, não há parte alguma do nosso planeta que não seja um depósito de lixo. A educação - e por isso é que falo no papel da escola - é aprendermos o que nos faz falta e, neste momento, faz-nos falta sabermos o estado da casa em que estamos. Se pensarmos na ligação invisível entre o estilo de vida, a alimentação... Virgílio dizia que as árvores são a pátria das terras e que, sabendo onde há árvores, se sabe qual o tipo de pátria que o planeta tem. Por exemplo, em qualquer supermercado encontramos todo o tipo de fruta durante todo o ano e esta é também uma das causas do problema: não estamos a respeitar minimamente o ritmo natural da Terra. Esta é a pior ofensa que se pode fazer ao planeta. Estamos a forçá-lo a oferecer-nos coisas que ele não nos pode dar em certas estações.
Nós somos também parte do problema?
A raça racional tornou-se uma praga absolutamente irracional, com uma falta de respeito por todas as criaturas. Há uma conceção mesquinha e muito cobarde por parte do Homem. Gostava de ver os valentões despidos de todas as armas no oceano à frente de um tubarão ou a lançarem-se dos picos da montanha em duelos com as águias. Um confronto cara-a-cara com as armas com que nascemos e que são exatamente as armas com que nascem todos os animais, com que enfrentam a vida e lutam por ela no sentido mais nobre. Somos uma praga cobarde, mesquinha e muito inconsciente.
Veio sozinho à manifestação?
Não. Estou aqui com toda esta gente.
Professor de 61 anos, Joaquim Rente juntou-se às centenas de estudantes que em Lisboa se manifestaram pelo clima, no final de uma semana marcada pela cimeira nas Nações Unidas sobre a emergência ambiental. Em Portugal estavam marcadas concentrações em 30 localidades de todo o país. Aquela que era até agora uma ação marcadamente estudantil chegou também aos professores e outros sectores profissionais (dezenas de coletivos, associações e sindicatos que também participam na Greve Climática Global)