Meia Dúzia de Palavras

Meia Dúzia de Palavras

Cristina Figueiredo

Maioria escondida com o ‘absoluta’ de fora

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As maiorias absolutas não se pedem, os eleitores é que decidem se as dão (ou não), costumam afirmar – com óbvia falsa modéstia – todos aqueles que, enaltecendo sempre as virtudes da democracia, do que gostavam mesmo, lá no fundo, era de exercer o poder sem precisar de negociar nada com ninguém.

António Costa é apenas o exemplo mais recente. Por estes dias (e imagino que será assim até 4 de outubro) faz o esforço de não utilizar o substantivo ‘maioria’ e o adjetivo ‘absoluta’ juntos na mesma frase. Curioso é que, há quatro anos, não era assim. A poucos dias das legislativas de 2015, era possível ouvi-lo, uma e outra vez, dizer que “uma maioria absoluta do PS é do que o país precisa para ter paz”. É verdade que, sendo candidato pela primeira vez a primeiro-ministro, depois de ter sido eleito líder do PS com a promessa de transformar “poucochinho” em vitória “clara, inequívoca... absoluta” (porque não?), nada tinha a perder, tudo tinha a ganhar. Tudo mesmo, como se viu: foi quem acabou sentado na cadeira do poder, com uma maioria “absoluta” conseguida não nas urnas, mas apesar delas.

Se agora não repete a estratégia é por saber que, desta vez, teria mais a perder do que a ganhar: pedir expressamente a maioria absoluta seria negar as virtudes da maioria “concertada” que lhe permitiu governar estes quatro anos e, pior, seria queimar pontes que ele não sabe até que ponto continuará a precisar no futuro. Mas nós sabemos que ele sabe que nós sabemos que do ele gostava mesmo, lá no fundo... era de ter maioria absoluta. Ah, governar sem precisar de negociar nada com ninguém... quem não?