Meia Dúzia de Palavras

Meia Dúzia de Palavras

Cristina Figueiredo

A estação ainda tem o seu quê de silly, afinal

Contactos do autor

A mês e meio de eleições, com a greve dos motoristas de materiais perigosos a dominar os noticiários até ceder (e bem) o lugar aos incêndios da Amazónia, julgar-se-ia que a silly season já não é o que era. Errado. Ainda é no verão que pequenos assuntos, notas de rodapé noutras estações do ano, se alcandoram a manchetes. Às vezes para vergonha (alheia) de todos nós. Nada o fazia prever, é um facto: agosto está quase a terminar, Costa já percorre o país em assumida pré-campanha, Rio voltou de férias, Marcelo quase nem chegou a ir e, no entanto, o que dominou o noticiário político esta semana? Um despacho do Ministério da Educação que concretiza medidas previstas na lei de identidade de género (em vigor desde agosto de 2018), nomeadamente o artigo que prevê que jovens transgénero possam escolher (na escola) a casa de banho em que sintam mais confortáveis; e uma proposta eleitoral do PAN, sugerindo a criação de um Serviço Nacional de Saúde para animais domésticos.

Sobre o primeiro, não tardou a surgir uma petição (com dezenas de milhar de assinaturas) contra a entrada em vigor do despacho. O líder da Juventude Popular atirou que “a escola não é um acampamento de verão do Bloco de Esquerda”, deputados do PSD classificaram a medida como uma imposição da “esquerda radical” e até Rio, sempre tão fiel ao seu próprio ritmo, não resistiu desta vez a comentar a atualidade quando ela ainda era... atual: “Uma coisa feita da forma mais insensata que se pode imaginar”, escreveu no Twitter.

Sobre o segundo, foram sobretudo as redes sociais a indignar-se: como é possível propor-se um SNS para cães e gatos quando há ainda tantos portugueses sem médico de família?

Ambos os temas merecem discussão – em planos diferentes, quanto mais não seja porque um já é lei e outro ainda é apenas uma proposta eleitoral (e eleitoralista). Mas se é isto que verdadeiramente anima a discussão política a pouco mais de seis semanas de se escolher um novo Governo, o que diz de nós enquanto povo? E dos nossos políticos enquanto responsáveis pelas linhas com que se cose o nosso futuro coletivo?

P.S. – Estava eu a terminar este texto e entra no mail um comunicado do Reagir Incluir Reciclar (o novo partido do célebre Tino de Rans). O texto, redigido em tom irado (todas as frases acabam com um ponto de exclamação), acusa o partido de André Silva de plágio da ideia do SNS para os animais. É, ou não, de RIR?