A nova bolsa de startups chinesas já gerou três novos multimilionários

Nas primeiras cinco sessões, a imitação do Nasdaq em Xangai criou três novos multimilionários e movimentou o equivalente a €18,5 mil milhões <span class="creditofoto">Foto Reuters</span>

Nas primeiras cinco sessões, a imitação do Nasdaq em Xangai criou três novos multimilionários e movimentou o equivalente a €18,5 mil milhões Foto Reuters

Xi Jinping deu ordem em novembro do ano passado para se criar em Xangai uma imitação do índice nova-iorquino Nasdaq. A nova bolsa chinesa, batizada Star Market, começou com 25 cotadas esta semana e registou ganhos de 140%. O objetivo político é convencer as tecnológicas chinesas, entre elas as consideradas ‘unicórnios’, a financiarem-se na China, em vez de Nova Iorque e Hong Kong

Texto Jorge Nascimento Rodrigues

É verdadeiramente uma nova ‘estrela’ no firmamento chinês. O Star Market, uma nova plataforma bolsista baseada em Xangai, começou esta semana com 25 empresas tecnológicas chinesas e assistiu a uma corrida dos investidores domésticos com apetite por startups das áreas de ponta.

Na primeira semana de negociação da Star, os ganhos somaram 140% e a negociação envolveu o equivalente a €18,5 mil milhões. As manchetes dos media financeiros destacaram o nascimento de mais três multimilionários chineses para a lista dos Billionaires da Bloomberg durante esta primeira semana de negociação. Para quem os queira recordar dão pelos nomes de Chen Wenyuan, dono de 74% da Suzhou HYC, Cao Ji, que detém 68% da Zhejiag, e Deng Hui, acionista de 34% da ArcSoft.

Segunda-feira entram mais duas empresas na plataforma e no final da semana é lançado um novo índice de alta tecnologia que quer imitar o Nasdaq nova-iorquino. A partir de agosto espera-se que a reformulação dos índices MSCI e FTSE-Ações de tipo A permitam a atração para este tipo de mercado de novos fundos.

Uma decisão política anunciada por Xi Jinping

A Star nasceu de uma decisão política de Pequim anunciada pessoalmente pelo próprio presidente Xi Jinping em novembro passado. Solenidade que nunca acontecera no lançamento das bolsas de Xangai e Shenzhen.

O objetivo é levar as startups promissoras, mesmo aquelas que ainda não dão lucro, a procurarem financiamento na China em vez de correrem para o Nasdaq em Nova Iorque ou para a Bolsa de Hong Kong.

Na mira da Star estão sobretudo as chamadas empresas ‘unicórnio’, que valem mais de mil milhões de dólares (cerca de €900 milhões), e que, segundo a última contagem na China, são 202. A nova plataforma quer atrair também spin-offs de grandes empresas já cotadas em Xangai ou Hong Kong que decidam autonomizar unidades de negócio e cotá-las em bolsa. Na calha estão para aprovação 148 empresas que querem realizar as ofertas públicas iniciais na Star.

O objetivo é levar a enorme liquidez existente na China a dar gás às jovens empresas. A poupança representa 46% do Produto Interno Bruto chinês (quase três vezes superior ao rácio no caso português) e o número de multimilionários chineses está em segundo lugar depois dos norte-americanos.

Por ora, a plataforma só permite a negociação por traders locais. Que, no entanto, têm de ter no currículo pelo menos dois anos de experiência e pelo menos gerir fundos no valor de 74 mil dólares (€66 mil).

Recorde-se que o Nasdaq e Hong Kong têm atraído as ofertas públicas iniciais de gigantes chineses como a Alibaba e a Baidu, que integram o índice norte-americano FAANG Plus (cujo acrónimo inicial FAANG vem do facto de abarcar o Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Alphabet/Google), ou a Tencent e a Xiaomi, cotadas na bolsa de Hong Kong.

Valorizações exuberantes

As 25 já listadas são oriundas da biotecnologia, semicondutores, inteligência artificial, veículos elétricos, novos materiais, e fornecedores dos comboios de alta velocidade, sectores de ponta que fazem parte das apostas políticas até 2025 da liderança chinesa.

A euforia domina a nova plataforma. As valorizações das 25 cotadas estão em níveis exuberantes, com um multiplicador na ordem de 120, segundo a empresa de dados Wind chinesa, quando o ‘normal’ no Nasdaq ou nas tecnológicas cotadas em Shenzhen é de 24.

Este multiplicador é conhecido pelo rácio P/E, entre a cotação média em bolsa e os lucros líquidos por ação. O que aquele rácio significa é que os preços das ações das empresas cotadas na Star estão 120 vezes acima dos rendimentos esperados. Com o tempo a bolha da hipervalorização desinchará.