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Vitória vai a votos. Saiba o que faz correr os três candidatos

O Vitória de Guimarães roubou o quinto lugar na última jornada do último campeonato, indecisão que levou os sócios a contestar a direção liderada por Júlio Mendes <span class="creditofoto">Foto Getty Images</span>

O Vitória de Guimarães roubou o quinto lugar na última jornada do último campeonato, indecisão que levou os sócios a contestar a direção liderada por Júlio Mendes Foto Getty Images

Nos últimos 10 anos, apenas por uma vez o Vitória Sport Clube, o quarto grande dos idos dos anos 90, ficou à frente do vizinho Sporting de Braga, rival que lhes roubou o antigo estatuto. Este sábado, após ter assegurado na última jornada o quinto lugar e o acesso à Liga Europa, Júlio Mendes e restante direção bateram com a porta. Agora há três candidatos a correr para o lugar e todos prometem morder os calcanhares dos três grandes

Texto Isabel Paulo

António Miguel Cardoso (Lista A)

FOTO D.R.

António Miguel Cardoso, candidato da lista A, tem 42 anos, é natural do Porto e ganha a vida como empresário do ramo do turismo e lazer. Integrou durante três meses a direção do Vitória liderada por Vítor Magalhães, tendo-se demitido por sentir que o projeto mudou de rumo. Jogou ténis no Clube de Ténis da Foz, modalidade em que integrou a seleção de sub-14 e sub-16. Na juventude, foi guarda-redes no Futebol Clube da Foz, Clube Marechal Gomes da Costa e representou a Florida Internacional University no campeonato universitário dos EUA. Os pais fizeram-no sócio do clube logo que nasceu, fez um interregno durante três anos e fidelizou-se sem quebras nos últimos 23 anos.

Apresenta-se como o candidato da terceira via, sem forças de pressão e livre de compromissos. Lembra que a lista A foi a terceira a anunciar a candidatura mas a primeira a apresentar o programa, por uma explicação simples: “Sabíamos o que queremos para o Vitória e, perante as outras candidaturas, sentimos o dever moral e a obrigação de apresentar uma candidatura livre e independente”, sustenta António Miguel Cardoso, para quem uma das candidaturas concorrentes é o seguimento da linha da atual direção, “comprometida com políticas erradas”, e a “outra lista vai de encontro às pretensões do acionista, por isso perigosa para o futuro do clube.”

Ivo Vieira foi contratado pelo presidente cessante há um mês. Vai ser o seu treinador? É uma boa aposta?

A escolha do treinador é de todo o nosso agrado. Temos apreciado bastante a forma como tem encarado este período, a forma como tem trabalhado a equipa.

Júlio Mendes renunciou ao mandato após a conquista do 5.º lugar, agastado com o clima de guerrilha por parte dos sócios. A que se deve a crónica contestação e como pretende acabar com ela?

O primeiro mandato de Júlio Mendes é muito bom, teve força para pegar no clube numa fase difícil. No entanto, veio a perder gás, a não conseguir defender o Vitória e a perder a relação com o acionista e o apoio dos sócios. Mais a mais, as últimas eleições foram muito crispadas e isso deixou marcas profundas nos associados.

O acionista maioritário (56%) da SAD queixa-se de financiar o clube e de não ter poder de influência por ser apenas representado por um administrador não executivo. Vai mudar a estrutura acionista? Em caso afirmativo, como?

Desde a primeira hora, propomos que seja aprovada uma blindagem dos estatutos da SAD, em defesa dos interesses do clube. Propomos que seja a Assembleia Geral do clube a aprovar alterações estatutárias na SAD que impliquem a perda do domínio do futebol. Hoje e sempre serão os vitorianos e associados a decidirem o que fazer.

Na última década, o Vitória de Guimarães apenas por uma vez – em 2016/17 – ficou à frente do vizinho e rival Sporting de Braga (ficou em 4.º lugar e o Braga em 5.º). O clube tem condições para retomar o estatuto perdido de quarto grande?

Estamos preocupados e centrados no que são os passos que temos de dar para melhorarmos ano após ano. Se conseguirmos essa superação, vamos colocar o Vitória no seu lugar e esse é, claramente, a morder os calcanhares aos três grandes

Caso vença as eleições deste sábado, quais são os três desafios prioritários para o seu mandato?

Claramente mudar os estatutos para defender o clube. Depois reorganizar a máquina do clube de forma a que ela seja mais transversal no apoio às modalidades e claro apostar no futebol e na formação.

Miguel Pinto Lisboa (Lista B)

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Miguel Pinto Lisboa, candidato da lista B, tem 47 anos, é natural de Guimarães, profissional da banca privada e, se vencer as eleições este sábado, fará a sua estreia no dirigismo desportivo. Conta que a experiência que tem no futebol é na área da negociação de contratos, trabalho que fez com vários jogadores e que acompanha na gestão de património. “Sempre fui mais dado ao apoio, tal como a minha família, que sempre viveu intensamente o Vitória, mais até do que o desporto”, refere o sócio n.º 1598.

Associado de cartão do clube há mais de 40 anos, decidiu candidatar-se quando Júlio Mendes e restante direção renunciaram ao mandato, em maio, por sentir que o clube precisava de uma mudança de paradigma. “Reuni uma equipa apaixonada pelo Vitória, mas sobretudo competente nas suas funções especificas”, frisa.

Ivo Vieira foi contratado pelo presidente cessante há um mês. Vai ser o seu treinador? É uma boa aposta?

Sem dúvida. Fez uma excelente campanha no Moreirense, com bons resultados e bom futebol. Este ano deu o salto, é o nosso treinador, aquele em que nos pode dar as maiores alegrias.

Júlio Mendes renunciou ao mandato após a conquista do 5.º lugar, agastado com o clima de guerrilha por parte dos sócios. A que se deve a crónica contestação e como pretende acabar com ela?

Está precisamente no nome da nossa lista: ‘Todos Vitória’. Este sábado à noite seremos como sempre todos vitorianos, sem rancor nem mágoa. É com essa união e com uma equipa que represente a guerra, a paixão, a personalidade dos vitorianos, que entre em todo lado para ganhar, e não para competir, que pretendemos uma maior harmonia entre os vitorianos e o Vitória.

O acionista maioritário (56%) da SAD queixa-se de financiar o clube e não ter poder de influência por ser apenas representado por um administrador não executivo. Vai mudar a estrutura acionista? Em caso afirmativo, como?

O mais importante é dotar o Vitória do investimento necessário para poder atingir os seus objetivos. Para tal, temos um plano estratégico de investimento definido, que iremos apresentar aos acionistas. Essa é a prioridade do Vitória. Se os acionistas não estiverem alinhados com esse plano, então poderemos alterar essa estrutura, sempre em harmonia com os acionistas que estiveram ao nosso lado.

Na última década, o Vitória apenas por uma vez – em 2016/17 – ficou à frente do vizinho e rival Sporting de Braga (ficou em 4º lugar e o Braga em 5º). O clube tem condições para retomar o estatuto perdido de quarto grande?

Nunca deixamos de ser o quarto maior clube português, nem iremos deixar de ser. O caminho é para cima. Nos últimos anos não temos tido a equipa entre as quatro melhores da I Liga, mas é precisamente esse rumo que queremos inverter. Com a força da nossa cidade e dos nossos adeptos, queremos estar sempre nesses quatro primeiros, e sempre nas competições europeias.

Caso vença as eleições, quais são os três desafios prioritários para o seu mandato?

São muito claros: a aprovação e implementação do plano estratégico para o futebol, o revitalizar das modalidades e o controle eficaz e racional das contas e das infraestruturas do Vitória.

Daniel Rodrigues (Lista C)

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D.R.

Daniel Rodrigues, candidato da lista C, tem 42 anos, nado em Guimarães, é advogado e ex-dirigente do Juventude de Ronfe. É presidente da Assembleia Geral da Vitória SC – SAD e jogou futebol universitário. Após a demissão inesperada de Júlio Mendes, pensou ser a hora de se candidatar, convicto de que o clube vive um momento fulcral da sua história. “Tenho participado ativamente na vida do Vitória. Ainda no ano passado tive uma intervenção juntamente com outros associados em assembleia geral, onde assumi claramente uma posição contrária à desblindagem dos estatutos”, lembra, defendendo ser inadmissível que se abrisse a porta para que um banco compre o clube.

Ivo Vieira foi contratado pelo presidente cessante há um mês. Vai ser o seu treinador? É uma boa aposta?

É o treinador do Vitória. É com ele que contamos para nos dar alegrias. Espero já este domingo reunir-me com o treinador e expor-lhe o nosso projeto para o futebol. E perceber qual é também a sua visão para ter um plantel do mais competitivo.

Júlio Mendes renunciou ao mandato após a conquista do 5.º lugar, agastado com o clima de guerrilha por parte dos sócios. A que se deve a crónica contestação e como pretende acabar com ela?

Júlio Mendes assumiu a presidência num período muito difícil da vida do clube. Teve o mérito de ultrapassar essa fase. Isso é inquestionável! Mas com o avançar do tempo foi-se notando um certo isolamento da sua parte e afastamento relativamente aos adeptos. O sócio do Vitória é exigente, gosta de fazer perguntas e de obter respostas. Após as eleições, verificou que existia uma estratégia que levasse à desblindagem dos estatutos. Queriam fazer algo nas costas dos associados. E isso jamais pode acontecer.

O acionista maioritário (56%) da SAD queixa-se de financiar o clube e não ter poder de influência por ser apenas representado por um administrador não executivo. Vai mudar a estrutura acionista? Em caso afirmativo, como?

Somos a única lista que apresenta de uma forma clara um modelo de governo para a SAD. O nosso modelo por um conselho de administração de cinco elementos. O presidente da SAD será o presidente do Vitória, a quem caberá liderar toda a estrutura do futebol profissional. Depois propomos dois elementos indicados pelo clube e dois pelo acionista maioritário. Salvaguarda-se a posição dominante do clube, mas permite-se um maior envolvimento do acionista maioritário, que como se sabe, assumiu a vontade de investir mais numa equipa competitiva.

Na última década, o Vitória apenas por uma vez – em 2016/17 – ficou à frente do vizinho e rival Sporting de Braga (ficou em 4.º lugar e o Braga em 5.º). O clube tem condições para retomar o estatuto perdido de quarto grande?

O Vitória é indiscutivelmente o quarto grande, quer em termos de assistências, como de associados, e temos uma história quase centenária que não permite que o Braga se compare ao Vitória. Mas é certo que nos últimos anos os resultados desportivos não têm acompanhado as expectativas. ‘Um Vitória à Vitória’ é o nosso lema e a presença europeia, todas as épocas, uma obrigação. E a partir daí ir mordendo os calcanhares aos três primeiros. É muito difícil, nãoimpossível.

Caso vença as eleições, quais são os três desafios prioritários para o seu mandato?

Unir e mobilizar o maior ativo do clube – os sócios. Este é um trabalho que compete fundamentalmente ao seu timoneiro. Caso vença, vou incorporar na lista ao Conselho Vitoriano elementos que fizeram parte de outras listas. Em segundo lugar, reunir com o plantel de futebol profissional e construir uma equipa forte e competitiva. E em terceiro lugar, garantir condições às várias modalidades para que possam efetuar o seu trabalho nas melhores condições, nesta fase inicial que é particularmente difícil.