Com Centeno, contra PSD e CDS
Centeno e Costa estavam (e estão) a dizer o mesmo que Passos e Gaspar: não há dinheiro, isto é, a narrativa dos “direitos adquiridos” dos professores e de outras classes de funcionários públicos é uma ilusão legal; as leis que tornam os “direitos adquiridos” automáticos e inflexíveis são irrealistas, são insustentáveis e tornam o país ingovernável, como se vê. Centeno e Costa estavam (e estão) com a razão. O PSD e o CDS, que apoiaram o ajuste de Gaspar e de Passos, não podiam agora torpedear o realismo de Centeno, que é o herdeiro à esquerda do realismo passista. PSD e CDS deviam ter atacado a Fenprof, e não Centeno. Onde está a coerência? E a coragem? E o realismo? E o interesse nacional? E a defesa do contribuinte massacrado?
Eu estou onde sempre estive; estive com o realismo de Passos e Gaspar, estou com o realismo de Centeno contra a falácia dos “direitos adquiridos” das Fenprofs, que esmagam o contribuinte e atiram o país para um perpétuo ciclo de bancarrota e ajuste
Esta inflexão mostra-nos, mais uma vez, que temos uma direita invertebrada e incapaz de manter a sua posição: eu estou onde sempre estive; estive com o realismo de Passos e Gaspar, estou com o realismo de Centeno contra a falácia dos “direitos adquiridos” das Fenprofs, que esmagam o contribuinte e atiram o país para um perpétuo ciclo de bancarrota e ajuste. Sim, é verdade que o PS prova assim do seu próprio veneno. O PS, depois de conduzir o país à bancarrota, torpedeou o ajuste de Passos de diversas formas. Usou o Tribunal Constitucional (TC), por exemplo. Ironicamente, diz-se que o PS vai agora usar o mesmíssimo TC para impor a sua fórmula de austeridade. As voltas que a história dá! Sim, isto é verdade, mas é secundário em relação ao principal: o realismo da governação.
Esta inflexão da direita torna-se ainda mais criticável quando percebemos que esta era (e é) uma oportunidade histórica. No Parlamento, os deputados da direita deviam estar a tentar estabelecer uma ponte histórica com o PS no sentido de mudar leis e até a Constituição para impedir que os “direitos adquiridos” nos atirem sistematicamente para a bancarrota. É a grande mudança que falta impor ao regime: a dimensão e a progressão salarial do funcionário público não é um direito cívico, como a liberdade de opinião ou religião, é algo que depende da capacidade demográfica e económica do país. Não pode ser um direito adquirido e automático, não tem sacralidade constitucional, porque depende de variáveis materiais (isto é, dinheiro). Com Centeno no poder, este era o momento para PSD e CDS lutarem por esta mudança histórica. Mas só pensaram nas eleições deste ano. Não sei se vão ganhar votos de professores, mas vão perder votos na sua base.