Estado português paga €120 mil a consultor francês para fazer lóbi junto das agências de rating
Trata-se de Pierre Cailleteau, antigo economista-chefe da Moody's
Texto Miguel Prado
O IGCP, instituto que gere as emissões de dívida pública portuguesa, firmou um contrato por ajuste direto com a consultora Church Street Advisory, do francês Pierre Cailleteau, com o objetivo de “defender a notação financeira” que Portugal tem e melhorar a perceção das agências de rating em relação ao nosso país.
O contrato, assinado a 25 de fevereiro e publicado há dias no portal Base, vigora até ao final deste ano e prevê o pagamento de 120 mil euros (mais IVA) a Pierre Cailleteau, um antigo quadro de topo da agência Moody's, precisamente uma das agências de notação financeira que acompanham Portugal.
Segundo o seu perfil no Linkedin, Pierre Cailleteau esteve na Moody's entre 2004 e 2010, tendo liderado a área que lidava com o rating de dívida soberana, além de ocupar o cargo de economista-chefe da agência, em Londres. De 2010 a 2013 esteve em Paris no grupo financeiro Lazard, de 2013 a 2015 trabalhou para a Amundi Asset Management e de 2015 a 2017 esteve no grupo Rothschild. Em 2018 regressou à Lazard.
O contrato que o IGCP publicou no portal Base elenca com detalhe o que o consultor francês terá de fazer. Entre as tarefas inclui-se a preparação, em conjunto com o IGCP, de uma apresentação para cada uma das agências de rating "que possa ser percecionada como positiva para Portugal".
O contrato prevê igualmente o "acompanhamento junto dos analistas das CRA [agências de rating], incluindo a preparação de resumos analíticos sobre os principais desenvolvimentos em Portugal que sejam sensíveis para os seus ratings, assim como conferências telefónicas regulares e visitas, tudo em coordenação com os calendários das avaliações das CRA e com os prazos de divulgação aos investidores ao longo do ano".
Pierre Cailleteau terá também de identificar as áreas nas quais Portugal possa colaborar com as agências de rating e realizar um estudo comparativo com as notações financeiras de outros países "tendo como finalidade a definição de uma meta de atribuição de rating credível, mas ambiciosa para a República, e um plano metódico para alcançá-lo".
No portal Base, numa pesquisa para os últimos dez anos, não há um histórico de contratos semelhantes ao que o IGCP agora firmou com o consultor francês, com o propósito de melhorar o rating português.
Segundo a mesma fonte, os últimos contratos firmados com agências de rating (para que estas façam a notação financeira da dívida pública portuguesa) foram assinados em agosto de 2017, válidos por dois anos. O IGCP acordou pagar 132.500 euros à Moody's e 97.900 euros à Fitch.
Contactado pelo Expresso, o IGCP admite que "este é o primeiro contrato que o IGCP celebra com este objetivo". "O âmbito do contrato de assessoria em questão é significativamente mais abrangente, conforme disposto nas cláusulas 1.ª e 2.ª. Os serviços estendem-se à estratégia de comunicação com o mercado e ao aperfeiçoamento da análise económica já desenvolvida pelo IGCP, que naturalmente têm como objetivo a defesa de uma notação financeira (rating) consonante com a performance económica e financeira de Portugal, e com a estratégia de financiamento que tem vindo a ser adotada", diz ainda a administração do IGCP.