ENTREVISTA

Álvaro Santos Pereira

“Como é que os partidos não avançam com medidas concretas para lutar contra a corrupção?”

Álvaro Santos Pereira esteve esta semana no Parlamento para explicar os contornos da pressão que sofreu por parte do Governo para retirar o tópico sobre a corrupção do relatório sobre Portugal. Horas antes passou pela redação do Expresso para uma entrevista que pode ser lida este sábado na íntegra na edição semanal e que antecipamos nesta edição do Expresso Diário

Texto Elisabete Miranda e Sónia M. Lourenço Vídeo José Cedovim Pinto Fotos Nuno Botelho

Portugal não é um país de corruptos mas, na nossa história recente, da banca passando pela energia e pelos próprios governos, abundam casos de corrupção e de compadrio que se mantêm impunes, perante a passividade da Justiça e dos governantes. Esta é uma das mensagens centrais deixadas por Álvaro Santos Pereira na entrevista que concedeu esta semana ao Expresso, onde o antigo governante questiona, com indignação, “como é que os partidos não avançam com medidas concretas para lutar contra a corrupção”, e porque não se retomam medidas tão relevantes como a criminalização do enriquecimento ilícito.

O ex-ministro da Economia do governo de Passos Coelho e atual diretor do departamento de estudos sobre países da OCDE não aponta nomes nem enumera casos – esse papel cabe à Justiça, diz – mas estranha que seja dos poucos a falar do incómodo tema da corrupção.

Terá sido esse incómodo que levou o Governo – ou pelo menos alguns dos seus membros – a quererem pura e simplesmente eliminar qualquer menção à palavra “corrupção” do Economic Survey, o polémico relatório sobre Portugal em relação ao qual manteve um braço-de-ferro com Lisboa.

Na entrevista ao Expresso, Álvaro Santos Pereira deixa uma espécie de roteiro para a luta anticorrupção para o próximo Governo e lamenta que, até agora, a classe politica não tenha estado à altura das suas responsabilidades. E fá-lo de forma reiterada.

Por exemplo, quando diz que “os partidos não têm feito aquilo que deviam perante os portugueses que mostrar que estão na vida partidária para defender o interesse nacional”. Ou quando questiona que, “sabendo que fomos à bancarrota e foram exigidos às pessoas sacrifícios que nunca tinham sido feitos, porque o país estava sem recursos nenhuns, como é que os partidos se podem calar sobre esta questão [da corrupção e do compadrio]”. E ainda quando atira que “os partidos na Assembleia da República deviam sentir vergonha de terem passado mais de mais de quatro anos sobre a última legislação sobre enriquecimento ilícito, sem que nada tenham feito”.

De resto, compadrio, corrupção, impunidade e pouca-vergonha são expressões usadas amiúde pelo diretor da OCDE na conversa que manteve com o Expresso. Mas não foram as únicas. Outro tema de eleição do ex-ministro da Economia são as chamadas “reformas estruturais”. Álvaro Santos Pereira elenca várias que considera urgentes, entre as quais uma reforma do Estado que garanta que “os diretores-gerais, os secretários-gerais, todos esses cargos dirigentes que servem para os “job for the boys”” deixem de ser de nomeação política.

Sem nunca chegar a nomear, Álvaro Santos Pereira também não esconde a acrimónia em relação a algumas personalidades da vida pública nacional. Por exemplo quando diz que, na reforma do Estado, “mais do que documentos panfletários, o que precisamos é uma reforma a sério”. Recorda-se quem foi o autor do último guião para uma reforma do Estado?