Entrevista

Nuno Melo sobre imigrantes

“Precisamos de pessoas, mas não de quaisquer pessoas”

O Expresso entrevistou Nuno Melo no dia do seu 53º aniversário, no Palácio da Bolsa, Porto <span class="creditofoto">Foto Rui Duarte Silva</span>

O Expresso entrevistou Nuno Melo no dia do seu 53º aniversário, no Palácio da Bolsa, Porto Foto Rui Duarte Silva

Em entrevista ao Expresso, o cabeça de lista do CDS fala do seu futuro no partido, o desejo de presidir à câmara do Porto, a suspensão do partido de Viktor Orbán do PPE ou as incoerências que aponta ao PSD no tema dos impostos europeus. Para ler na íntegra na edição semanal, este sábado

Entrevista Mariana Lima Cunha e Vítor Matos Foto Rui Duarte Silva

Para Nuno Melo, as migrações “não são assunto” em Portugal. Ainda assim, no que toca a deixar entrar imigrantes em Portugal e na União Europeia, é preciso não deixar que a lógica “absurda” do “politicamente correto” faça com que as culturas de quem chega sejam mais respeitadas do que a de quem já cá estava: “Um povo não pode ser constrangido na sua forma de vida por cedência a uma imposição de outros que vêm e têm como obrigação primeira assimilar a cultura que os acolheu”, defende.

Em entrevista ao Expresso, feita esta segunda-feira (dia do 53º aniversário de Nuno Melo) no Palácio da Bolsa, no Porto, o eurodeputado único do CDS falou do que se deve exigir a quem chega: “Precisamos de pessoas, mas não de quaisquer pessoas; têm obrigação de respeitar as nossas leis, tradições e cultura”. E explicou a que se referia quando, em entrevista ao “Observador”, defendeu que “a Europa só deve acolher quem não nos faça reféns”: “Isto é, por exemplo, rejeitar a estupidez de escolas alemãs que proíbem que os alunos comam carne de porco”.

“A carne de porco faz parte da dieta alimentar dos povos europeus. E a Alemanha, como Portugal, são estados supostamente laicos. Tal qual eu não aceito que em bairros como muitos de Bruxelas haja quem defenda a aplicação da Sharia, de ver prevalecer sobre a lei que emana das entidades democráticas”, prossegue o centrista.

Em Portugal, admite, nunca se sentiu “refém” de ninguém. Mas isso é porque o contexto é muito diferente nos diferentes países europeus, explica: “É muito equívoco ter a migração como prioridade equivalente em 28 países. As migrações em Portugal não são assunto. Quem, como nós, não sente essa pressão nem interpreta as migrações como um assunto vital fala de cátedra querendo dar lições a outros povos que não temos como compreender”. Os requerentes de asilo, defende, devem ser recebidos conforme os tratados internacionais preveem. Já a quem procura trabalho devem ser aplicadas leis de imigração “criteriosas”, para não provocar efeitos de chamada que culpa pela “ascensão dos extremismos” na Europa.

Offshore devem terminar, mas só se for no mundo inteiro

Para Nuno Melo, as offshores devem terminar - mas não se isso só acontecer na Europa, o que poria os países do velho continente em desvantagem, frisa. “Acho que [as offshores] devem acabar, se o esforço for à escala global”. Mas distingue offshores de “praças financeiras que dão regimes fiscais mais favoráveis”.

“O problema é que na UE são muitas vezes tratados como offshores casos que não são offshore. Para mim, a zona franca da Madeira não é uma offshore. Poderá ter casos que funcionam como tal”, argumenta. “Coisa diferente é falar de uma ilha de Man ou regiões inglesas no pacífico onde há meia dúzia de casas e centenas de milhares de empresas. Em Portugal também há crime, mas Portugal não é um país fora da lei”.

Confrontado com o argumento do primeiro-ministro de que é preciso acabar com a política de unanimidade para votar questões fiscais na União Europeia, caso contrário os países que funcionam como paraísos fiscais para as grandes empresas do digital bloquearão restrições a essa prática, Melo recusa chamar a esses casos paraísos fiscais. “António Costa justifica os impostos europeus com a necessidade de tributar empresas que, por estarem sediadas nalguns países, funcionam de forma mais atrativa tendo em conta uma certa bonomia tributária”, corrige. E recorda que isto também acontece a nível nacional, para atrair investimento para zonas do interior, por exemplo. “Do ponto de vista da chamada harmonização fiscal, a política fiscal é um dos problemas que os países mais pobres têm para captar para si mais investimento”.

“Uma arma é um bem como é um carro ou uma faca de cozinha, se a questão é o da morte potencial”

Nuno Melo é a única voz na corrida à Europa que tem trazido para o debate a questão das armas, mas defende, nesta entrevista, que tem sido mal compreendido quando critica a proposta de lei para limitar o número de armas que uma pessoa pode deter a 25. “Eu até defendo em alguns casos a restrição à lei portuguesa, que diz nalguns casos que uma pessoa pelo simples exercício de uma função pode ter uma arma, o que é um disparate. Coisa diferente é a licença de detenção, que são, por exemplo, os casos sucessórios. É o direito de ter aquela arma em casa, não a pode transportar nem usar e não pode ter munições em casa”, explica o eurodeputado, que é também atirador desportivo e espera vir a ser colecionador. “Uma arma é um bem como é um carro ou uma faca de cozinha, se a questão é o da morte potencial. Muitos dos atentados na UE foram feitos com carros e camiões”.

Apesar de estarmos num contexto potencialmente hostil a estes argumentos, com os recentes ataques com armas de fogo [caso da Nova Zelândia], Melo corrige: “Portugal é o terceiro país mais pacífico do mundo. Falar-se de terrorismo não lembra a ninguém. Os caçadores e os atiradores não andam a serrar os canos às espingardas para assaltar bancos aos fins de semana”. As imposições a quem possui armas vêm também de uma “certa opressão do mundo urbano”, “de quem desconhece completamente o campo e o mundo rural”: “Em causa não está uma lei das armas, está um modo de vida ancestral”.