Juventude Socialista

Candidata a líder da JS alvo de queixa-crime e apelos à desistência

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Foto D.R.

Militante da JS fez queixa de Maria Begonha devido ao “currículo insuflado” que aponta à candidata. Jovens socialistas do Alentejo pedem que abdique da candidatura

Texto Mariana Lima Cunha

Apenas a quatro dias do arranque do Congresso da Juventude Socialista, foi apresentada uma queixa-crime contra a candidata Maria Begonha, apoiada pelos últimos cinco secretários-gerais da estrutura. A queixa, que se deve às incongruências que constavam do currículo de Begonha, soma-se à lista das polémicas que há meses envolvem a jovem socialista. Já há pedidos no interior da JS para que abdique da candidatura, para não manchar a imagem da organização.

O processo, que deu entrada junto do Ministério Público de Lisboa, foi interposto por Gustavo Ambrósio, militante da JS muito crítico da candidatura de Begonha e que foi apoiante de António José Seguro. O amontoar de irregularidades associadas à candidata e ao seu percurso chocam-no, diz, em declarações ao Expresso. “A consequência última de escolher alguém [para uma função] com base em competências que não adquiriu é que, se à Maria forem atribuídas funções de recolha de lixo, a cidade ficará cheia de lixo”, exemplifica.

A preocupação do militante é enquanto “munícipe” de Lisboa, uma vez que Maria Begonha foi contratada como assessora na Câmara de Lisboa depois de ter exercido funções pouco claras na Junta de Freguesia de Benfica (ambas governadas pelo PS): “Enquanto munícipe, acho arriscado que os critérios de contratação continuem a ser duvidosos”.

Foto António Xavier/ Visão

Os problemas começaram por surgir quando o “Público” e o “Observador” noticiaram incongruências na biografia publicada na página da candidata, onde se lia, por exemplo, que tinha completado um mestrado que afinal só frequentou por um ano. Mas havia mais: em Benfica, Begonha foi contratada em 2014, quando era deputada municipal do PS, para exercer “serviços de apoio ao secretariado”. No entanto, na sua página de candidatura está escrito que trabalhou como “assessora na área de Políticas Públicas Autárquicas.”

Foi a própria presidente da junta de Benfica responsável pela contratação de Begonha, Inês Drummond, que confirmou ao Observador que a jovem “nunca foi assessora na junta nessa área e nunca desempenhou esse tipo de funções, a única função que ocupou é a que está no site Base.gov, de apoio ao secretariado”. Ao Expresso, confrontada com o facto de no contrato as funções de Maria Begonha serem classificadas como apoio informático, disse que tudo não passou de um “erro nos serviços”. “É um currículo insuflado, cheio de coisa nenhuma”, comenta o autor da queixa.

O acumular de polémicas - a juntar ao facto de Begonha ter assinado contratos por ajuste direto com a junta e a Câmara de Lisboa, no gabinete do vice de Medina, Duarte Cordeiro, no valor de 140 mil euros - faz com que Gustavo Ambrósio acredite que Begonha deve desistir da candidatura. “Não tem condições para isso e devia resignar. Não só se prejudica como vai arrastar a estrutura”, assegura o militante.

Ivan Gonçalves é o atual presidente da JS

Ivan Gonçalves é o atual presidente da JS

FOTO DR

Não é o único. Depois de o “Público” ter dado conta dos protestos de concelhias da JS como Moita, Proença-a-Nova, Trofa ou Lousada, o Expresso teve acesso a uma carta assinada por dirigentes de uma federação e concelhias da organização socialista, e que pedem a Begonha que abdique da candidatura. “Camarada Maria, não nos revemos, não te podemos apoiar!”, começa a missiva, assinada à cabeça por Luís Martins, presidente da Federação da Juventude Socialista do Baixo Alentejo. Pedindo que a candidata não se deixe mover apenas por um “sonho pessoal”, os subscritores da carta lembram a importância da “dimensão ética” na política. E concluem: “Maria, este é um momento difícil para ti, mas também para todos nós e é nos momentos mais difíceis que mais coragem, altruísmo, sentido de missão e defesa do coletivo em detrimento do pessoal, que se espera de um socialista”.

O Expresso contactou o Ministério Público para confirmar se a entrada do processo dará origem à abertura de um inquérito, não tendo sido possível obter resposta até à hora do fecho da edição deste Expresso Diário. Também contactada pelo Expresso, Maria Begonha disse, para já, “desconhecer totalmente” o processo, assegurando não ter sido até agora “notificada”.