João Vieira Pereira

Uma análise diferente à estrondosa vitória da esquerda (numa noite onde só os pequenos brilharam, exceto o CDS)

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Primeiro, os louros a quem os merece. António Costa tem razões para estar contente. Foi, dos partidos tradicionais, o único que ganhou votos em relação a 2015. Mas as boas notícias para ele terminam aqui. Para ele e para a geringonça, que apesar de reforçar o número de deputados registou menos votos do que há quatro anos. Vamos por partes. Primeiro a esquerda, a vencedora, depois a direita, a derrotada. E pelo meio o PAN:

PS – António Costa passa a comandar o partido com o maior grupo parlamentar e consegue obter mais votos do que em 2015. Um resultado que lhe irá permitir formar Governo. Logo no discurso de vitória não fechou qualquer porta para uma solução estável, inventou uma nova geringonça, agora com cinco partidos e não três (entrada do Livre e do PAN), e prometeu mais do mesmo que fez nos últimos quatro anos, sem deixar contudo qualquer agenda fechada em cima da mesa. Atenção que os socialistas conseguiram um dos seus objetivos, ter sozinhos mais votos do que a direita, um cenário que permite que baste a abstenção do Bloco e do PCP para que o PS governe.

Mas se entre os sorrisos de vitória poucos pareciam amarelos, eles estavam lá, principalmente entre os que sonhavam com uma maioria absoluta, que ficou longe, e entre os que repararam que depois de quatro anos com tudo a ajudar, o PS apenas conseguiu mais 120 mil votos do que em 2015. É pouco.

Bloco de Esquerda – Apesar de manter o número de deputados, Catarina Martins perdeu quase 60 mil votos. Resultado que não a inibiu de colocar de imediato as condições para um novo acordo com o PS, para quatro anos ou ano a ano. Tanto faz. Mas este não é um resultado brilhante para o Bloco, que passou a ver o seu principal adversário, o PS, cada vez mais longe.

PCP – O desastre foi total. Os 120 mil votos que o PS ganhou, foram os mesmos que Jerónimo de Sousa perdeu. E com eles foram também cinco deputados. Números que mostram que os comunistas foram o partido que mais perdeu com a geringonça, o que pode pesar em futuros acordos com o PS. O PCP terá de fazer alguma coisa ou, por este andar, pode estar a caminho da extinção.

Geringonça – O mais provável é termos uma nova geringonça para os próximos anos. A três, a quatro ou a cinco. O que parece afastado, a julgar pelas primeiras declarações, é um acordo só a dois. Apesar de ser matematicamente possível uma maioria do PS só com o Bloco ou com o PCP, esse cenário é de difícil concretização pois nenhum dos dois quererá assumir esse risco sozinho.

PAN – André Silva, como esperado, é o grande vencedor da noite. Apesar de não ter chegado ao quinto deputado, o PAN ganhou 100 mil votos e tornou-se uma força política no Parlamento. Agora não é só André Silva. É um partido que tem quase tantos deputados como o CDS. E uma opção futura legítima para acordos de Governo. Mas sozinho continua sem contar. Se o PS precisa só do Bloco e/ou do PCP, para que serve afinal o PAN?

Livre – A grande surpresa da noite. O fenómeno Rui Tavares tanto tentou que conseguiu. Vai ser interessante perceber onde se situa, que espaço vai tentar ocupar e como se vai definir. Se a favor da geringonça, se alternativa.

PSD – Rui Rio cantou vitória, disparou contra os jornalistas, contras as sondagens, a que ele dizia não ligar, contra os críticos internos e até contra os ventos da economia que ajudaram Costa. Rio diz que apesar disto tudo conseguiu um grande resultado, mas o PSD não ganhou nada. Perdeu deputados, votos e relevância. Apenas mostrou que faz boas campanhas, ou pelo menos que beneficia das más campanhas de António Costa. Resta saber se vai desaparecer de novo ou se começa a construir uma alternativa de poder, algo difícil de fazer sobre um dos piores resultados de sempre do PSD em legislativas.

CDS – O descalabro da noite. Não é o partido do táxi (até é se for daqueles de sete lugares) mas para lá caminha. Assunção Cristas está de saída e o CDS pode estar a caminho da insignificância. A dispersão de votos à direita e a entrada da Iniciativa Liberal pode ser o princípio do fim do partido que se tornou o maior dos mais pequenos.

Iniciativa Liberal – O partido sem rostos chegou ao Parlamento. Sem rostos porque poucos conhecem o nome de quem lidera a Iniciativa Liberal (IL) ou o nome do deputado que vai ocupar pela primeira vez um lugar no hemiciclo. Mas tal como o PAN, a IL pode começar agora a ocupar um lugar há muito vazio na direita em Portugal.

Chega – Talvez a notícia mais chocante da noite. A extrema direita chega ao Parlamento e promete nunca mais o deixar...