Ciência

Campus de investigação internacional ligado ao mar nasce na frente ribeirinha do Tejo, de Pedrouços à Cruz Quebrada

O local onde o novo campus será criado já acolheu a Volvo Ocean Race e trata-se de “uma zona nobre da frente ribeirinha”, que no entender do presidente da Câmara de Lisboa se encontra “há várias décadas com o desenvolvimento adiado” <span class="creditofoto">Foto D.R. </span>

O local onde o novo campus será criado já acolheu a Volvo Ocean Race e trata-se de “uma zona nobre da frente ribeirinha”, que no entender do presidente da Câmara de Lisboa se encontra “há várias décadas com o desenvolvimento adiado” Foto D.R.

Até 2030 vão ser investidos 300 milhões de euros em centros de investigação, laboratórios, uma escola de negócios da economia azul, residências temporárias para cientistas, espaços para a instalação de empresas e startups, postos de atracação de navios oceanográficos, duas marinas, hotel, zonas verdes e de restauração

Texto Virgílio Azevedo

Chama-se Ocean Campus Portugal, vai ocupar uma área de 64 hectares (equivalente a 64 campos de futebol) na frente ribeirinha da foz do rio Tejo entre Pedrouços, em Lisboa, e a Cruz Quebrada, no concelho de Oeiras, e pretende criar um campus internacional de investigação, desenvolvimento e inovação de atividades ligadas à chamada economia azul, através de um investimento global de 300 milhões de euros até 2030.

Cerca de 73% do investimento será privado, 2% público e 25% público-privado, estimando-se que o Ocean Campus Portugal venha a ter uma receita anual de 6,8 milhões de euros. "Este projeto não se preocupa apenas com a rentabilidade, mas é uma forte aposta na devolução desta frente de rio para o usufruto de todos, tendo um papel estruturante para a nossa vida no mar", afirmou Fernando Medina na apresentação pública do Ocean Campus, que decorreu esta segunda-feira na antiga Docapesca, em Pedrouços.

O presidente da Câmara de Lisboa recordou que "este local, uma zona nobre da frente ribeirinha, encontra-se há várias décadas com o desenvolvimento adiado", mas o objetivo do novo projeto "é fazer crescer Lisboa como um polo de investigação e desenvolvimento ligado ao mar".

Centros de investigação, escola de negócios, empresas, marinas

O Ocean Campus tem três fases de construção até 2030. Na primeira, até ao final de 2022, serão investidos 118 milhões de euros na Marina de Pedrouços, cujo concurso público foi também lançado esta segunda-feira na antiga Docapesca, em espaços para a instalação de empresas, na criação de um Ocean Lab (laboratório oceânico), de residências temporárias para cientistas e de espaços de restauração. Na segunda fase (2022-2026) serão investidos 152 milhões de euros num hotel, em espaços para empresas e centros de investigação, na Marina do Jamor, na Blue Business School, uma escola de negócios da economia azul, e em espaços verdes e acessibilidades. Na terceira fase (2026-2030) o investimento será de 30 milhões, igualmente em espaços verdes e acessibilidades.

Manuel Heitor sublinhou na apresentação do projeto que "a meta de duplicar o investimento em investigação e desenvolvimento até 2030 de modo a atingir 3% do PIB, só será possível de alcançar com projetos deste tipo, que criem uma nova relação da ciência com a criação de emprego". O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior acrescentou que "a aposta no mar é crítica neste processo" e o Ocean Campus "será uma marca para a próxima década, uma zona única no contexto nacional e europeu que terá uma relação inovadora entre investigação, ensino e inovação".

A frente ribeirinha Pedrouços/Cruz Quebrada que vai ser alvo de requalificação urbana já tem algumas infraestruturas que serão integradas no futuro Ocean Campus, como o Centro Náutico de Algés, as instalações do IPMA e do Ministério do Mar, o centro de formação FOR-MAR ou o Parque Urbano destinado a grandes eventos. Por outro lado, junto à futura Marina de Pedrouços está localizada a Fundação Champalimaud, que é já hoje um centro de investigação de projeção internacional nas áreas do cancro e das neurociências. A fundação tem projetada a construção no mesmo local de um novo centro de investigação dedicado ao cancro do pâncreas.

Fundações Champalimaud e Gulbenkian interessadas

Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, revelou aos jornalistas no final da apresentação do Ocean Campus, que as fundações Champalimaud e Gulbenkian se mostraram interessadas no projeto. No caso desta última, o Instituto Gulbenkian de Ciência (ciências da vida), que tem igualmente grande projeção internacional e está hoje instalado no centro de Oeiras, poderá mudar-se para o Ocean Campus.

A ministra salientou que a vasta área entre Pedrouços e a Cruz Quebrada "é um espaço de domínio público portuário e assim continuará, apesar de a maioria do investimento no Ocean Campus ser privado". Na apresentação do projeto na antiga Docapesca, Ana Paula Vitorino destacou a sua importância "para a criação de um verdadeiro cluster marítimo de excelência na investigação, no desenvolvimento e na inovação, juntando cientistas, empreendedores, empresas de referência, académicos e profissionais ligados ao setor do mar".

O Governo quer "que o Ocean Campus se constitua como um espaço de referência no contexto internacional nos domínios das ciências marítimas e marinhas e da economia azul, cujo objetivo principal será gerar inovação e investigação qualificada e fornecer aos serviços que aqui se instalem as melhores condições para competirem no mercado global".

Ana Paula Vitorino assinalou que não se pretendeu "fazer apenas um projeto de regeneração urbana, um cluster sectorial ou um hub", mas antes "um centro dinâmico e integrado, que junta instituições, projetos, empresas e escolas numa espaço que queremos que seja aberto, usado, ousado e vivido".