Salários

Licenciados perdem 15,8% de poder de compra em dez anos

Os licenciados foram o único grupo de profissionais a registar uma redução no salário médio ao longo da última década <span class="creditofoto">Foto GETTY Images</span>

Os licenciados foram o único grupo de profissionais a registar uma redução no salário médio ao longo da última década Foto GETTY Images

Dados do Ministério do Trabalho mostram que o salário médio dos trabalhadores com ensino superior caiu de 1896,5 euros para 1823,4 euros em dez anos. Uma queda de 3,8% nesta década de crise que dispara para quase cinco vezes mais se tivermos em conta a inflação.

Texto Cátia Mateus

Entre 2007 e 2017, os trabalhadores por conta de outrem com formação superior a trabalhar em Portugal viram o salário médio descer 3,8%, de 1896,5 euros para 1823,2 euros, revelam os dados mais recentes do Ministério do Trabalho que avaliam a evolução dos quadros de pessoal nas empresas nacionais ao longo da última década. Se a análise considerar o valor da inflação, os licenciados perderam 15,8% do seu poder de compra na última década.

Durante o período a que reportam os dados, o grupo dos profissionais com qualificação superior foi o único a registar uma redução do salário médio. Em termos globais, o salário médio dos trabalhadores nacionais registou uma variação positiva de 17,4% ao longo da última década. No caso dos trabalhadores com qualificações abaixo do primeiro ciclo do ensino básico, o ganho foi até superior: 21,1%, dos 602,8 euros para 730,6 euros.

A análise aos restantes grupos mostra que foi entre os profissionais com menores habilitações académicas que o salário médio mais aumentou desde 2007. Nos trabalhadores com qualificações ao nível do ensino básico, o salário médio cresceu 15,6%, dos 746,9 euros para os 863,7, enquanto os que concluíram o ensino secundário não foram além de uma valorização de 2,4%, dos 1052,8 euros até aos 1078,6 que auferiam no final de 2017.

Os dados do Ministério do Trabalho revelam ainda que em 2017, a maioria dos trabalhadores por conta de outrem a trabalhar em Portugal – 1,3 milhões de portugueses – levava para casa menos de mil euros mensais, considerando salário base, prémios, subsídios e outros complementos. Destes, 678 mil auferiam salários entre os 600 e 750 euros mensais e 515 mil trabalhadores estavam no escalão remuneratório entre os 750 e os mil euros mensais. Só 390 mil portugueses ganhavam entre mil a mil e quinhentos euros em 2017.

Para a maior valorização salarial alcançada ao longo da última década pelos profissionais com qualificações mais baixas terão contribuído as sucessivas atualizações ao salário mínimo nacional – de 403 euros em 2007 para os 557 euros em 2017 – que empurraram os trabalhadores com vencimentos mais baixos para patamares salariais superiores. Em 2007, 688 mil portugueses auferiam um salário entre os 403 euros e os 600 euros mensais. Em 2017 eram apenas 67 mil.

Na base da valorização salarial dos profissionais menos qualificados poderá também estar o aumento da procura por profissionais mais técnicos. A braços com uma dificuldade crescente em contratar profissionais qualificados para áreas mais especializadas, muitas empresas optaram por recrutar perfis sem qualificação superior e assegurar a sua formação interna.