Zona euro

Último “show” de Draghi começa esta segunda-feira em Sintra

Mario Draghi preside em Sintra ao primeiro balanço dos vinte anos do euro no fórum organizado pelo BCE até quarta-feira <span class="creditofoto">Foto epa</span>

Mario Draghi preside em Sintra ao primeiro balanço dos vinte anos do euro no fórum organizado pelo BCE até quarta-feira Foto epa

O sexto fórum anual do Banco Central Europeu (BCE) decorre até quarta-feira, tendo por tema os vinte anos da moeda única e a participação de economistas de renome mundial e responsáveis de vários bancos centrais. Saiba quem vai estar no hotel Penha Longa na despedida do presidente do BCE, Mario Draghi

Texto Jorge Nascimento Rodrigues

Mario Draghi preside esta semana ao seu último Fórum do Banco Central Europeu (BCE) enquanto presidente da instituição, num ambiente de crescente guerra fria global, esgotamento da política de estímulos monetários como impulsionadora de inflação crescente e extrema debilidade de uma resposta orçamental proativa na zona euro.

Este seu último 'show' vai decorrer durante o sexto Fórum do BCE, em Sintra, que este ano debate o tema dos 20 anos da União Económica e Monetária. O retiro dos banqueiros centrais decorre no hotel Penha Longa até ao final da tarde de quarta-feira e termina pela mesma altura em que, em Washington, Jerome Powell realizará a conferência de imprensa em que apresentará as conclusões da reunião desta semana do comité de política monetária da Reserva Federal (Fed), a que preside.

O fórum do BCE e a reunião de Washington decorrem numa altura em que a inflação desce na zona euro e nos EUA e há riscos da guerra comercial e de outros acontecimentos políticos disruptivos (como o Brexit e as tensões político-militares em alguns pontos do mundo) precipitarem uma derrapagem da economia mundial. Com um cenário pessimista no horizonte, os bancos centrais vão ter de reforçar as políticas de estímulos monetários e os governos do G20 e da zona euro terão de encarar políticas orçamentais favoráveis ao crescimento.

O Fórum de Sintra, juntamente com a reunião da Fed, nos EUA, e a realização da cimeira de chefes de Estado e de governo da União Europeia, na quinta e sexta-feira, em Bruxelas, marca mais uma semana decisiva para a política monetária. Espera-se que, já esta semana, o nome do sucessor de Draghi à frente do BCE possa ser aflorado na cimeira europeia.

O grande ‘teste’ do euro nos primeiros vinte anos

O italiano só está ao leme do BCE desde novembro de 2011, mas o seu nome vai ficar associado à salvação da moeda única no primeiro grande teste, enfrentando uma crise financeira e económica mundial associada a uma crise das dívidas públicas de vários dos membros do euro. Daghi ganhou o direito a entrar no panteão do euro ainda que não tenha sido um dos seus fundadores. As suas intervenções de abertura da sessão de terça-feira e de fecho do Fórum, no dia seguinte, marcarão esta última reunião internacional a que preside.

O seu papel não deixará de ser sublinhado no balanço destes 20 anos, abordado sobretudo por Olivier Blanchard, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). de 2008 a 2015, no discurso de abertura do jantar desta segunda-feira, e no dia seguinte por Peter Praet, que terminou o mandato na Comissão Executiva do BCE no final de maio.

Praet, que foi o economista-chefe do banco desde junho de 2011, é tido como o braço direito de Draghi no desenho das medidas de estímulo monetário que foram avançadas desde 2012 e que culminaram com o programa de aquisição de dívida pública desde 2015 — que funcionou, para Portugal, como um resgate suplementar ao programa da troika terminado em maio de 2014.

O BCE realiza, precisamente desde 2014, em Sintra, um fórum anual de debate dos desafios teóricos e práticos da política monetária. O encontro reúne académicos, especialistas e banqueiros centrais de todo o mundo, em antecipação ao encontro de verão, em Jackson Hole, nos Estados Unidos, organizado pelo Banco da Reserva Federal de Kansas City. Se o tema em Sintra vai ser o balanço dos 20 anos do euro e o futuro da União Económica e Monetária, nas montanhas do Wyoming vão ser discutidos, de 22 a 24 de agosto, os desafios atuais da política monetária.

Dois dias de debate sobre o passado e o futuro do euro

O Fórum de Sintra divide-se este ano em dois momentos. Na terça-feira, o debate sobre os primeiros vinte anos do euro, com uma apresentação de Peter Praet, e a discussão por dois painéis de peso. De manhã, Praet e Philip Lame, o seu sucessor no cargo de economista-chefe do BCE, vão discutir com Laurence Boone, a atual economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Ricardo Reis, professor português da London School of Economics e colunista do Expresso, e Markus Brunnermeier, professor em Princeton, nos EUA. À tarde, três pesos pesados da política monetária: Draghi; Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra; e Stanley Fisher, ex-vice-presidente da Fed, vão ser moderados por Claire Jones, do “Financial Times”.

No dia seguinte, vai discutir-se o futuro, com uma intervenção de abertura de Jean-Claude Juncker, o atual presidente da Comissão Europeia, que também sai de cena em outubro. Benoît Coueré, membro da Comissão Executiva do BCE e que sai em dezembro, vai presidir ao painel final do Fórum, que conta, entre outros, com a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, que substituiu Maurice Obstfeld no cargo em outubro do ano passado.

O encontro conta na audiência com os banqueiros centrais do euro, com destaque para três dos mais falados candidatos ao lugar de Draghi – Jens Weidmann, presidente do Bundesbank; François Villeroy de Galhau; governador do Banco de França; e Olli Rehn, governador do Banco da Finlândia. Vítor Constâncio, ex-vice-presidente do BCE, está, também, presente, bem como Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, que fará as honras do jantar final aos participantes na quarta-feira.

Duas presenças de fora são de destacar na assistência – Elvira Nabiullina, governadora do Banco Central da Rússia, e o diretor-geral da China Industrial Capital Corporation, um dos principais grupos financeiros chineses. Entre os académicos que participam nos painéis, encontram-se Alan Posen, presidente do Peterson Institute for International Economics, Charles Wyplosz, do The Graduate Institute, de Genebra, e Richard Baldwin, diretor do portal Vox.Eu.