Fica em Lisboa um dos espaços de trabalho partilhado mais disruptivos do mundo

A programação cultural é um dos aspetos que diferencia o Village Underground Lisboa

A programação cultural é um dos aspetos que diferencia o Village Underground Lisboa

O Village Underground Lisboa é um dos quatro espaços de ‘coworking’ escolhidos pela revista “Forbes”. Arquitetura, comunidade criativa, arte de rua e programação cultural fazem a diferença

Texto Sónia M. Lourenço Fotos Nash Does Work

É conhecido pelos antigos autocarros da Carris - um transformado em restaurante e outro em salas de reuniões - e pelos contentores marítimos, que agora são escritórios. O Village Underground Lisboa, em Alcântara (bem perto do Tejo e da Ponte 25 de Abril), “é o lugar onde ir”, se for uma pessoa “criativa, à procura de de um espaço de trabalho alternativo”, escreve a revista “Forbes”, que elege este espaço de trabalho partilhado (coworking) como um dos quatro mais disruptivos do mundo.

A publicação faz referência a um “local emblemático“ na capital portuguesa, dizendo que a estrutura “é um hub para a criatividade e a cultura”. Aspetos que, para Mariana Duarte Silva, cofundadora e diretora do Village Underground Lisboa, diferenciam este projeto, inaugurado em 2014 e que conta hoje com cerca de 40 pessoas a trabalhar de forma permanente (coworkers), repartidos entre pequenas empresas e trabalhadores freelancer, sendo 60% portugueses e 40% estrangeiros.

“A primeira coisa que nos torna disruptivos é a arquitetura do espaço, que marca a paisagem de Alcântara e de Lisboa”, diz Mariana Duarte Silva ao Expresso, destacando a “reutilização de equipamentos”, que é um dos princípios do projeto, a par da sustentabilidade.

Logo de seguida, Mariana Duarte Silva aponta a “comunidade criativa, que dá corpo e alma ao espaço”. Desde o arranque foram pessoas ligadas às artes e às indústrias criativas, como o teatro ou a música, que aqui se instalaram. Além disso, como inclui um estúdio de gravação, “é o local escolhido por muitos músicos para fazerem residências artísticas e gravarem”, conta, apontando o exemplo de Branko, Dino d' Santiago, DJ Glue, ou Batida. Atrás vieram “agências de músicos e pessoas ligadas ao design, ao turismo, à psicologia, ao software e à indústria dos jogos”, indica Mariana Duarte Silva.

A responsável junta outras duas vertentes que distinguem o Village Underground Lisboa de outros espaços de trabalho partilhados: ser uma “galeria a céu aberto de arte de rua (street art)”, com mais de 30 peças de artistas nacionais e estrangeiros; e a programação cultural regular. Este “é um espaço de convívio cultural, para além de um espaço de cowork”, frisa a responsável. Contando com uma sala de eventos com concertos, teatro e exposição de novos talentos, “as pessoas vêm visitar-nos, para além de trabalhar”, vinca. Acresce que às sexta-feiras, a partir das 18h, há happy hours, com entrada livre.

Trabalhar aqui custa 150 euros por mês, a que acresce o IVA, por um lugar, que inclui internet, eletricidade e limpeza. Para quem quiser ocupar um dos 14 contentores por inteiro, o preço é de 525 euros mensais, mais IVA.

Uma indústria em expansão

Segundo o estudo “Global Coworking Growth 2019”, da Coworking Resources, o número de espaços de trabalho partilhados a nível global deverá ultrapassar a barreira dos 20 mil no próximo ano, chegando aos 26 mil em 2022. Número que, a confirmar-se, traduzirá um crescimento de 42% face ao projetado para 2019. Portugal é um dos países com maior densidade de espaços de coworking em relação à população. Com 1,5 novos espaços todos os anos por cada milhão de habitantes, ocupa a 13ª posição a nível mundial, numa lista liderada pelo Luxemburgo (8,5).

“Os espaços de trabalho partilhados já não são apenas para as start-ups”, afirma Mário Rocha, diretor da Hays, num comunicado de imprensa desta consultora. O responsável aponta que “as grandes empresas estão cada vez mais a adotar o fenómeno do coworking”. Contudo, este modelo de organização do trabalho “não é para todo o tipo de empresas”, alerta.

A verdade é que há prós e contras a considerar antes de abraçar esta tendência. Do lado das vantagens, Mário Rocha salienta a oportunidade de estabelecer contactos (networking), bem como a promoção de uma cultura mais “colaborativa, pessoal e socialmente dinâmica dentro de uma empresa”. É o resultado da lógica de disposição aberta dos espaços e da promoção do conceito de comunidade, nomeadamente através de eventos sociais. Um terceiro benefício é a oportunidade de detetar oportunidades de negócio emergentes.

Contudo, Mário Rocha aconselha a que se certifique “quais são as outras empresas que estão nesse espaço antes de tomar uma decisão e se as mesmas estão alinhadas com os objetivos da empresa”.

Quanto às desvantagens, Mário Rocha aponta a necessidade de um espaço de coworking “ser capaz de se adaptar às necessidades das pessoas e dos colaboradores”. O que nem sempre acontece. O especialista lembra, em particular, que é preciso garantir “que haja salas de reunião e suficientes áreas privadas para atender telefonemas de clientes ou para conversas particulares”.

Mário Rocha deixa um último alerta: “Se o empregador não tomar medidas adequadas, a cultura de coworking pode tornar-se mais dominante do que a do empregador”. E aconselha “videoconferências regulares com a equipa e escritórios individuais em espaços de coworking” para ajudar a minimizar esse risco.