A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

A máquina de populistas

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Enquanto cidadão que perdeu muita coisa para os bancos durante a crise, sinto-me enxovalhado com a petulância de Joe Berardo. É um daqueles raros momentos em que me apetece saltar das palavras aos atos. Enquanto contribuinte massacrado pelo estado que ajudou os bancos que agora não cobram as dívidas de Berardo como cobraram as dívidas de milhares de portugueses, sinto-me humilhado e com uma genuína vontade de implodir o regime que permitiu e ainda permite esta total impunidade.

Na verdade, na verdade vos digo que são figuras como Mr. Joe Berardo que põem em causa a minha crença no perdão universal da hora do juízo final. E reparem que esta não é só uma questão moral, é uma questão política: a impunidade de Berardo é uma máquina populista; um só sorriso de Berardo cria milhares de potenciais votantes populistas à esquerda ou à direita. Berardo é um salva-vidas do náufrago PCP ou o berço de uma Le Pen à portuguesa.

São figuras como Mr. Joe Berardo que põem em causa a minha crença no perdão universal da hora do juízo final

Agora muitos fazem a pergunta como se fossem anjos acabados de chegar a Portugal: porque é que os gestores dos bancos emprestaram dinheiro a este homem? Porque Berardo, entre outras coisas, foi eleito homem do ano por Marcelo Rebelo de Sousa (2007). Porque Joe Berardo fez parta da corte socrática, que, recorde-se, conheceu um período de quase intocabilidade neste país. Berardo é a face negra do regime. É por isso que sorri daquela forma: julga-se intocável. É por isso que é uma máquina de fazer populistas.