Orçamento do Estado

O último Orçamento da legislatura. E de Centeno?

Centeno apresentou o seu quarto Orçamento com sentimento de missão cumprida. Costa não falou no primeiro dia de debate do Orçamento <span class="creditofoto">Foto Lusa</span>

Centeno apresentou o seu quarto Orçamento com sentimento de missão cumprida. Costa não falou no primeiro dia de debate do Orçamento Foto Lusa

Na abertura do debate do Orçamento na generalidade, ministro das Finanças insiste no sucesso da política do Governo e envia recado subtil, muito subtil, à UTAO. Anuncia também o fim do adicional do ISP

Texto João Silvestre

O debate na generalidade do último Orçamento do Estado da legislatura não trouxe grandes surpresas, novidades nem nada de particularmente novo em relação ao que já se conhecia do documento que o Governo entregou ao Parlamento nos últimos minutos do dia 15 de outubro.

A única novidade foi o anúncio do fim do adicional ao Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) na gasolina, embora sem detalhar. E a argumentação usada, de parte a parte, seguiu o padrão das últimas intervenções. De um lado Mário Centeno, que abriu o debate e foi responsável pela defesa da bancada do Governo embora tivesse António Costa a seu lado, que defendeu a descida do défice para “o saldo orçamental mais equilibrado de que há memoria”, insistiu na meta de 0,2% do PIB fixada para 2019 e puxou dos galões para lembrar que chega a esta altura sem apresentar qualquer Orçamento Retificativo.

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Do lado do PSD e CDS, as críticas foram para o “eleitoralismo” e “aldrabices” (nas palavras do social-democrata Adão e Silva) e para “austeridade dissimulada e encapotada” e “habilidade” (Assunção Cristas dixit). No terceiro vértice deste triângulo político, os partidos que apoiam o Governo dispararam contra PSD e CDS mas não pouparam totalmente o Governo. Nomeadamente, Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda que quis saber - sem resposta de Centeno - como será o aumento de salários dos funcionários públicos e João Oliveira, do PCP, insistiu na necessidade de melhorar “positivamente” várias das medidas durante o debate na especialidade.

O debate da proposta de Orçamento do Estado para 2019 ainda vai no início e só terminará esta terça-feira com a votação na generalidade. Às 17h30, quando fechou este texto do Expresso Diário, decorria a segunda ronda de intervenções dos partidos. (Para toda a informação, acompanhe o liveblog na edição online do Expresso com toda a informação ao minuto.)

Por três décimas apenas...

Poucas horas antes da abertura dos trabalhos no Parlamento, foi conhecida a análise completa da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) que, não só reafirma os problemas que já tinha revelado no documento preliminar, como responde a Centeno. Como avançou o Jornal de Negócios ao final da manhã, sobre os 590 milhões de euros que 'desapareceram' do défice orçamental, a UTAO insiste que, “com o devido respeito”, esta opção “é tecnicamente incoerente”. São três décimas que, diz a UTAO, colocariam o défice em 0,5% e não 0,2% como prevê o Governo. A UTAO refere ainda divergências face às contas do Orçamento no saldo estrutural (devido à diferente classificação de receitas e despesas) e também no efeito das medidas de política orçamental.

O ministro das Finanças não mencionou diretamente a UTAO mas não deixou de lhe responder, logo no início do seu discurso de abertura: “O Orçamento do Estado que o Governo entregou nesta Assembleia no passado dia 15 prevê o saldo orçamental mais equilibrado de que há memória. Um défice de 0,2% do PIB entre receitas e despesas. É uma estimativa, é certo, é a nossa estimativa.”

Cavaco também esteve sempre 'presente'

Um dos ausentes mais presentes foi Cavaco Silva. O livro que o ex-presidente apresentou na semana passada, o segundo volume de “Quinta-feira e Outros Dias - Da Coligação à Geringonça”, protagonizou alguns momentos do debate.

Serviu, por exemplo, para Centeno responder a Adão e Silva, do PSD, que acusava o Governo, PS, Bloco de Esquerda e PCP de andarem “todos às caneladas, às vezes às claras, às vezes por baixo da mesa”. “De caneladas estamos conversados depois do livro da semana passada”, respondeu o ministro das Finanças aludindo à obra que distribuiu 'caneladas' - que Cavaco considera serem, na generalidade, comentários simpáticos - por vários protagonistas políticos.

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Também Assunção Cristas citou Cavaco Silva quando falou em “habilidade”de António Costa, que considerou que, “se não está a altura de apresentar e debater o Orçamento do Estado não está á altura das funções de Primeiro-ministro”.

A líder do CDS disse ainda sentir vergonha alheia por Costa não participar no debate do Orçamento embora tenha estado sempre na bancada do Governo.

Na resposta, Centeno garantiu a Cristas que, daqui a um ano, quando voltassem iriam ver como o crescimento da economia será próximo daquele que o Governo prevê. Só que daqui a um ano não há Orçamento. É ano de eleições. E também não se sabe se Centeno voltará a apresentar algum Orçamento do Estado ou se rumará a outras paragens. “Há mais vida para além do Orçamento do Estado de 2019”, disse o ministro das Finanças na resposta a um deputado. Talvez haja.