Ténis
Djokovic a cinco passos do céu
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Havia Roger Federer e os outros. Mas agora há um homem que está perto de ultrapassar o deus suíço: Novak Djokovic mostrou este fim de semana que está muito acima de todos os outros. Faltam-lhe cinco títulos para ser o maior de sempre
Texto Rui Gustavo
Há um termo técnico usado no ténis para designar o tratamento que Novak Djokovic aplicou a Rafael Nadal na final do Open da austrália que se disputou este domingo em Melbourne: massacre. O sérvio ganhou ao espanhol por três sets a zero, cometeu apenas 9 erros forçados (contra 28 do adversário) fez mais winners e no primeiro set perdeu apenas um ponto quando estava a servir. “Fez de Nadal um jogador vulgar”, admirou-se Barbara Schett, ex-jogadora e comentadora do Eurosport. Até encontrar Djokovic, Nadal esmagou todos os adversários e não perdeu um único set. O sérvio nunca teve o lugar na final em risco, mas dois jovens lobos deram-lhe luta: Shapovalov e Medvedev foram os únicos a conseguir ganhar-lhe um set.
No final do jogo, que durou pouco mais de duas horas, um jornalista italiano enumerava os feitos do sérvio com num tom quase indolente: “Sétimo título na Austrália, 15.º Grand Slam da carreira...”. “Not too bad, hein?” retorquiu Djokovic numa imitação perfeita de Don Corleone.
Aos 31 anos, o sérvio está a cinco títulos dos vinte de Roger Federer, o melhor tenista de todos os tempos que ainda se mantém ativo mas, pelo menos neste torneio, pareceu muito aquém do nível de Djokovic. E aos 37 anos, já não vai para novo.
Nadal tem 17 títulos, 32 anos, mas passa metade da temporada a lutar contra lesões crónicas nos joelhos. Djokovic, que ganhou os três últimos torneios do Grand Slam que se disputaram - Wimbledon e Open dos Estados Unidos em 2018 e Austrália este ano, parece ter o caminho aberto para ultrapassar os dois grandes rivais. Mas será isso o suficiente para o considerar o maior de sempre? Ou GOAT, em inglês?
“Tenho de viver com isso”
“Ultrapassar os vinte títulos do Roger? Tenho de viver com isso, não é?”, relativizou Djokovic na mesma conferência de imprensa. “Ainda estou muito longe e tento não pensar muito à frente, quero focar-me em manter o bem estar físico e mental e claro que conquistar um lugar na história do desporto que tanto gosto me motiva.”
“Não tenho dúvidas de que vai ultrapassam Federer”, disse Kim Clijsters, a mulher que entrou para a história depois de ter ganhado o US Open já depois de ser mãe. “O mais interessante vai ser ver como é que ele vai manter este nível. Ele gosta de ser todo zen”, disse à BBC.
Vida extra
O sérvio vive uma espécie de segunda vida depois de em 2017 ter saído do top-10 por causa de uma lesão no cotovelo e, acima de tudo, uma relação estranha com um “guru” new age que o tornou vegetariano e o afastou do treinador que sempre teve, Marian Vajda. Agora, a dieta é sem glúten, o treinador voltou a orientá-lo e está a jogar como nunca.
“Quando passei mal na minha carreira tive que parar e respirar, analisar o que fiz na minha vida com este desporto e dar conta do quanto amo o ténis e de como desfruto a jogar”, disse ao Guardian.
Segue-se o torneio de Roland Garros, o único dos Grand Slam que se disputa em terra batida e que o sérvio ganhou uma única vez, em 2016. Depois dessa vitória iniciou uma travessia do deserto que só acabou em 2018. Nadal volta ao sítio onde foi sempre feliz - tem uns incríveis onze títulos conquistados no pó de tijolo de Paris e qualquer resultado que não seja a sua vitória será sempre uma surpresa. Djokovic pode perseguir outro feito só alcançado por dois homens: ganhar todos os torneios do Grand Slam numa única época. O último a consegui-lo, em 1969, foi Rod Laver, o australiano que dá nome ao estádio onde se disputou a final de domingo.
Havia Roger Federer e os outros. Mas agora há um homem que está perto de ultrapassar o deus suíço: Novak Djokovic mostrou este fim de semana que está muito acima de todos os outros. Faltam-lhe cinco títulos para ser o maior de sempre