
A tempo e a desmodo
Henrique Raposo
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A tempo e a desmodo
Henrique Raposo
Quem defende os trabalhadores dos sectores privados?
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É uma tragédia jornalística, política e a até moral: a maioria dos portugueses não existe nas notícias. Os jornais e televisões são cada vez mais um eco corporativo das pessoas que trabalham no Estado, ou seja, o país partidário e mediático parece que só representa os sindicatos e corporações que compõem a espinha dorsal da esquerda. E os outros, que até são a maioria (80%), não existem? O abismo entre a realidade da maioria dos portugueses e a representação mediática e política é avassaladora. É por isso que, por exemplo, os jornais e comentadores nunca anteciparam a vitória de Passos em 2015. E o espantoso é que estes dois milhões de portugueses que votaram em Passos continuam a não existir.
Os trabalhadores das empresas que exportam salvam-nos todos os dias e são desprezados política e mediaticamente todos os dias Foto Nuno Botelho
Há dias, Daniel Bessa dizia aqui no Expresso que os trabalhadores do sector público são apenas 20% dos trabalhadores e que, em consequência, 80% dos portugueses são do sector privado. Contudo, a atenção política (dos partidos) e mediática (das redações) é a inversa: é a minoria do sector público que tem a maioria da atenção. É isto que torna o país tão (falsamente) inclinado para esquerda, tão injusto para quem é de direita e tão ingovernável: o espaço público é dominado pela voz da minoria (20%) que trabalha no Estado; só se ouve a voz da despesa, nunca se ouve a voz da receita fiscal.
Se recolhesse a sua informação sobre Portugal só a partir da agenda mediática portuguesa, um estrangeiro ou alien até poderia associar Portugal ao comunismo, tal é a hegemonia do sector estatal nas notícias
A maioria dos portugueses trabalha, não faz greve, não se vê na tv e, no final do dia, tem de continuar a perder dinheiro para os impostos que pagam os salários dos privilegiados mediáticos e políticos – os trabalhadores do público. Os trabalhadores do sector privado são de facto portugueses de segunda. É revoltante que os media não pensem nisto. É trágico que PSD e CDS não consigam colocar o seguinte no centro da agenda: se recolhesse a sua informação sobre Portugal só a partir da agenda mediática portuguesa, um estrangeiro ou alien até poderia associar Portugal ao comunismo, tal é a hegemonia do sector estatal nas notícias.