Opinião

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Martim Silva

Cinco pontos para perceber a guerra Montenegro vs. Rio

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O decisivo Conselho Nacional do PSD, que vai decidir se Rui Rio tem ou não condições para continuar líder e se Luís Montenegro tem ou não caminho rápido para chegar a presidente do partido, vai realizar-se já esta quinta-feira. Um encontro que promete ter tanto ou mais picante que o mais picante dos congressos do PSD (e teve muitos nas sua história).

1. Rui Rio Fez bem ao não fingir que não existe um problema no partido. O clima de guerrilha é permanente desde que há um ano se tornou presidente do PSD mas agora, finalmente, Rio agiu como tal. Com firmeza, com veemência, enfrentando o touro pelos cornos, mostrando, enfim, o que tantas vezes lhe tem faltado: capacidade política. Com essa manobra pode ter conseguido o golpe de asa necessário para assegurar a sua sobrevivência política na reunião do Conselho Nacional. Sobrevivência política até às legislativas do outono, entenda-se. Porque depois dessa data não há seguro que valha.

2. Luís Montenegro Está longe de ser aquilo a que se pode chamar um político de topo. Não tem experiência governativa, central ou local. Não se lhe conhece vida empresarial ou no sector privado relevante. Tem dotes de oratória e desempenhou com competência o lugar de líder parlamentar do PSD na legislatura anterior, em que PSD e CDS garantiam uma maioria absoluta, mas em que a capacidade negocial entre os dois partidos e bancadas eram muito relevantes. E aí Montenegro assumiu papel de destaque. Ao longo do último ano, afirmou-se como o candidato melhor colocado para suceder a Rio. Agora, dá mais um passo em frente. Se perder, não hipoteca necessariamente o seu capital político. Pelo contrário, pode ser o primeiro a dizer no pós-legislativas “eu bem avisei”.

Um fator pode pesar decisivamente a favor de Rio na reunião do Conselho Nacional: os que o apoiam vão votar pela sua manutenção, mas nem todos os que o criticam votarão a sua saída, por poderem entender que lançar o partido num processo eleitoral nesta altura é um erro crasso

3. Conselho Nacional vs. Diretas É evidente que não é a mesma coisa levar a liderança a jogo perante 150 dirigentes do partido ou perante 150 mil (ou oitenta mil que sejam) cidadãos que têm o cartão de militante na carteira. O segundo passo seria muito mais ousado e mais clarificador, e até mais esmagador, qualquer que fosse o resultado. Mas Rio, ao fazer a jogada que fez, pôs indiscutivelmente a sua cabeça a jogo. Está ali, ao alcance de um voto, a sua saída da presidência do partido.

4. O resultado Quem melhor conhece o partido e o seu funcionamento evita arriscar prognósticos nesta altura. Será que a moção de confiança de Rio passa ou é chumbada (ou na inversa será que a censura de Montenegro passa ou é chumbada)? Marques Mendes, comentador e ele próprio antigo líder do PSD, afirmou este domingo que dificilmente Rui Rio perderá uma votação em Conselho Nacional. Isto pela simples razão de que tal nunca aconteceu a um líder do partido. O argumento é válido, embora a capacidade do PSD em nos surpreender a todos seja particularmente fértil. Um fator pode no entanto pesar decisivamente a favor de Rio: os que o apoiam vão votar pela sua manutenção, mas nem todos os que o criticam votarão a sua saída, por poderem entender que lançar o partido num processo eleitoral nesta altura é um erro crasso. Até pode existir uma maioria de críticos, mas estes não deverão todos votar da mesma forma.

5. O risco do PSD se tornar pequeno, ou mais pequeno, ou de perder o seu papel central na política portuguesa é algo que tem merecido muita análise e comentário. Até ver, não acredito que tal aconteça. A passagem de votos para a Aliança de Santana Lopes é meramente conjuntural. São cidadãos e eleitores, que quando o partido voltar a estar na mó de cima não terão qualquer problema em voltar a votar no partido laranja. Por outro lado, o crescimento eleitoral do partido de Cristas não se confirmou no último ano. A perda de importância eleitoral dos dois maiores partidos, PSD e PS, é um fenómeno estrutural, e real, que se tem intensificado, mas que nada tem que ver com a liderança de Rio. Ou seja, quando o PS passar o seu estado de graça, vamos seguramente voltar a ver o PSD bem acima dos 30 por cento nas sondagens... e nas eleições.