A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Partido Socialista, o clube da impunidade

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Nem ouvi a cena, só a vi à distância num café do país rural que só aparece nos ‘media’ no verão: ou aparece numa peça que mostra o bailarico pitoresco ou aparece para o registo da tragédia do incêndio. Pitoresco para gozar, ou tragédia para chorar lágrimas de crocodilo – é para isto que a Lisboa mediática quer a província.

Na cena, vejo Eduardo Cabrita a colocar a cara clássica da governação PS: a máscara da impunidade, Ah, não, isso não é nada comigo, Ah, um sistema operativo que está debaixo da minha alçada falhou, mas, ora essa, isso não é nada comigo! É um padrão que se refinou com Costa, com Tancos, com os incêndios, com o colapso do SNS, das escolas, dos transportes. Estou desconfiado que lá no Rato eles devem ter um workshop sobre um fenómeno psicológico conhecido por forclusão ou, neste caso, autoforclusão. A forclusão é o processo mental que permite ao “eu” atravessar a realidade sem que ela o toque. No caso dos socialistas, é o processo mental que permite ao socialista português escapar às suas próprias responsabilidades sem nunca perder a compostura.

António Costa sabe que pode desprezar o mundo rural, pois Lisboa e as outras cidades só querem a ruralidade para dois tipos de discurso: a paródia (gozar com o pitoresco) ou a tragédia (as lágrimas de crocodilo pelos incêndios e desertificação)

No mundo de António Costa, a culpa é dos autarcas do mundo rural a quem Centeno não dá os meios necessários. E António Costa sabe que pode desprezar o mundo rural, pois Lisboa e as outras cidades só querem a ruralidade para dois tipos de discurso: a paródia (gozar com o pitoresco) ou a tragédia (as lágrimas de crocodilo pelos incêndios e desertificação).