A tempo e a desmodo
Henrique Raposo
A hipocrisia Vox
O Vox representa e canaliza ódio, um ódio que tem orgulho em ser como é, não se esconde, não põe maquilhagem. É um ódio que se julga belo. Os do Vox andam a pintar o retrato de Dorian Gray mas não o escondem no quarto, pintam-no na praça pública. Ou seja, são um retrato invertido do Podemos, do BE, do PCP. Eles, os do Vox, são os puros, todos os outros são impuros. Este sentimento de pureza legitima o ódio pegajoso contra a “direita cobarde”, contra os “separatistas”, contra a “islamização de Espanha”.
Quando os andaluzes eram os “ilegais” à mercê dos Vox franceses na Argélia. Confusos? É o Mediterrâneo
Em relação ao separatismo e à islamização, há muitos pontos legítimos em cima da mesa. É verdade que há partes de Espanha, sobretudo no sul, que têm percentagem altíssimas de habitantes muçulmanos, muitos deles ilegais. É verdade que isto pode provocar problemas de assimilação como noutros países da Europa. Este problema tem de ser debatido, mas com linguagem civilizada e sobretudo sem a profunda hipocrisia que sustenta a campanha do Vox. Os do Vox dizem que querem expulsar os imigrantes ilegais, quase todos muçulmanos do norte de África. Mas quem é que trabalhará na apanha da fruta e vegetais se os ilegais forem expulsos? Os andaluzes? Os outros espanhóis?
Quantos empresários andaluzes usam muçulmanos ilegais de manhã para logo a seguir participarem num comício do Vox contra a “islamização de Espanha”?
Em Espanha, a economia sulista depende dos muçulmanos. Se não querem mais muçulmanos ilegais, o Vox tem de começar pela crítica aos empresários espanhóis que usam esses ilegais, tem de começar a pôr em causa a própria horticultura intensiva. Quantos empresários andaluzes usam muçulmanos ilegais de manhã para logo a seguir participarem num comício do Vox contra a “islamização de Espanha”? É fácil disparar sobre os imigrantes que só vêm ocupar postos de trabalhos que os locais não querem. Porque é que não querem? Acham demasiado cansativo? Acham que é trabalho de escravo? Acham que os empresários pagam pouco? Estas são as discussões sérias que se escondem atrás da “islamização de Espanha”.