Debate quinzenal | Análise
Uma árvore ou uma floresta? Três enguiços na “geringonça”
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De repente, parecia que Bloco e PCP tinham voltado à oposição. Num só debate com o primeiro-ministro, o quinzenal desta quinta-feira, Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa trouxeram para público não uma mas três fortes divergências sobre três temas centrais na reta final da legislatura: as PPP da Saúde, as leis laborais e as carreiras dos professores.
Texto David Dinis Foto Ana Brígida
Foi um momento raro, nesta legislatura, o da confrontação ideológica entre parceiros da “geringonça”. No Parlamento, foi Catarina Martins quem lançou a primeira pedra - sobre as PPP na Saúde, o assunto mal resolvido das últimas semanas: “Temos um problema, quero resolvê-lo consigo”, disse a líder bloquista, vincando desde logo que o seu partido não recuaria.
“O que é que mudou?”, perguntou, desafiando Costa sobre o recuo do Governo e PS na proibição de novas parcerias com privados em hospitais do SNS. O chefe de Governo respondeu como no dia anterior, num artigo no “Público”: desafiando o Bloco a que “não confunda a árvore com a floresta” e aprove a nova lei face a outros progressos nas negociações à esquerda. É preciso “não desperdiçar a oportunidade”, desafiou. Sem sucesso. Dizendo que o PS está a pedir à esquerda é que o privado se mantenha e possa aumentar no futuro, Catarina Martins remataria sem dar margem a dúvidas: “Com o voto do BE isso não acontecerá”.
Na Saúde, Costa recebeu um tom menos agressivo do lado do PCP - mas a mesma recusa: os comunistas consideraram “inaceitável” a nova posição do PS; e ironizaram com a metáfora de Costa da árvore e da floresta: lembra “o perigo de só haver uma acácia que de repente invade todo o terreno”.
Costa fechou este tema com o desafio final, no auge da tensão que foi visível no hemiciclo: “Só não haverá acordo sobre a Lei de Bases se não houver vontade política”.
Segundo enguiço: lei laboral
Quem levantou o problema outra vez foi Jerónimo de Sousa, a propósito das reivindicações do 1º de Maio: “Quando precisamos de fixar novas gerações, são precisas medidas concretas, como o combate à precariedade”, disse o líder comunista, desafiando o Governo a mudar a sua proposta e não a aprová-la “com os votos do PSD e CDS”.
Costa não repetiu a metáfora, mas repetiu o desafio: a esquerda pode não concordar com tudo, mas ou aceita a proposta do Governo ou a lei laboral fica como está (sem as medidas que lá estão e ajudam, diz Costa, nesse combate à precariedade). “Conhece a nossa proposta de lei de combate à precariedade. Se a nossa proposta for chumbada não se reduzem os contratos a prazo”, afirmou o primeiro-ministro.
O terceiro enguiço: professores
Foi Costa o primeiro a puxar o tema da recuperação do tempo de serviço dos professores, cuja votação estava marcada para logo a seguir ao plenário, em comissão parlamentar.
À boleia da preocupação de Cristas com a possível perda de 1600 milhões de euros em sete anos no novo quadro de fundos comunitários, o primeiro-ministro ironizou para a centrista com um recado que também seguiu para as bancadas à esquerda: “Como é que é possível estar tão preocupada com 1600 milhões em sete anos e tão pouco com a irresponsável proposta do seu partido?”.
Lembrete: Bloco e PCP juntaram-se nas últimas semanas ao PSD e CDS (embora em moldes diferentes), propondo a recuperação de todo o tempo de serviço dos professores que ficou congelado, ou seja, nove anos. No plenário, Costa vincou que isto, somado à recuperação do tempo das restantes carreiras especiais, custará 800 milhões de euros por ano. E usou uma expressão para classificar o buraco que a proposta abriria nas contas públicas: “Gigantesco”. Um adjetivo tão pesado como o ambiente desta quinta-feira dentro da “geringonça”. Como é que se sai desta?
P.S. Falta um mês para as europeias e faltam seis para as legislativas.
De repente, parecia que Bloco e PCP tinham voltado à oposição. Num só debate com o primeiro-ministro, o quinzenal desta quinta-feira, Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa trouxeram para público não uma mas três fortes divergências sobre três temas centrais na reta final da legislatura: as PPP da Saúde, as leis laborais e as carreiras dos professores.