Combustíveis
Vulnerabilidades e revelações: 5 factos que ficámos a saber com a crise energética em Portugal
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Vulnerabilidades e revelações: 5 factos que ficámos a saber com a crise energética em Portugal
Milhares de postos sem combustível devido a centenas de trabalhadores em greve filiados num sindicato até hoje desconhecido. O que a crise da semana nos revelou
Texto Miguel Prado
É ainda incerto o impacto económico da crise de combustíveis desta semana, apesar de os efeitos se terem feito sentir de forma alargada de norte a sul do país. A crise, que ficará resolvida nos próximos cinco dias, graças ao acordo entre os motoristas em greve e a associação de empresas transportadoras, deixou a descoberto as vulnerabilidades logísticas do país e trouxe algumas revelações.
1. Um sistema de distribuição vulnerável
O mercado português, com mais de 3 mil postos de combustível, está totalmente dependente de um sistema logístico calibrado para reabastecer as bombas a cada três dias. Mas uma greve como a desta semana em poucos dias pode instalar o caos. Grande parte dos postos ficou rapidamente sem gasóleo e muitos sem gasolina também. O facto de a maior parte das frotas empresariais (de pesados e veículos comerciais) usar gasóleo agravou a crise desta semana, levando associações de várias atividades económicas a alertar para constrangimentos nas suas operações.
2. O poder dos novos sindicatos
O Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) é relativamente recente (foi criado há cinco meses). Agrega 600 trabalhadores que até hoje eram praticamente desconhecidos na realidade sindical portuguesa, mas conseguiram lançar uma greve que semeou o caos, em parte pelo incumprimento dos serviços mínimos que tinham sido decretados pelo Governo.
3. Quanto ganham os motoristas dos camiões-cisterna
Segundo a ANTRAM, a associação das empresas de transporte de mercadorias, os motoristas das matérias perigosas auferem um rendimento bruto global de 1294 euros mensais, que inclui o salário-base (cerca de metade) e um conjunto de suplementos, subsídios e ajudas de custo. Nesta greve reclamaram uma subida dos salários, mas também mais direitos ao nível da formação, subsídio de risco, seguro de vida e exames médicos.
4. Como racionar combustíveis
Na quarta-feira, ainda antes do cancelamento da greve, o Governo aprovou a criação de uma Rede Estratégica de Postos de Abastecimento, um dispositivo que está legalmente previsto há mais de uma década para situações de crise. No seu despacho, o Executivo decidiu que em 310 postos (cerca de 10% da rede nacional) terá de haver volumes reservados para veículos das autoridades, bem como um limite de abastecimento a carros particulares de 15 litros por automóvel. O racionamento durará enquanto o abastecimento dos postos não for normalizado, o que se prevê que aconteça nos próximos cinco dias.
5. Dependência dos produtos petrolíferos
A crise energética reconhecida pelo Governo logo na terça-feira veio evidenciar a dependência que o país mantém dos produtos petrolíferos, não apenas na mobilidade dos cidadãos, mas também na atividade de empresas dos mais diversos ramos de atividade, cujas frotas tiveram de parar ou cancelar agendamentos de serviços para reduzir ao mínimo o consumo de gasóleo. Várias indústrias dependentes de abastecimento de gás ou de outros produtos transportados em camiões-cisterna ficaram igualmente vulneráveis.
Milhares de postos sem combustível devido a centenas de trabalhadores em greve filiados num sindicato até hoje desconhecido. O que a crise da semana nos revelou