800 invisíveis
Podemos discutir a incompetência terceiro-mundista do Governo, podemos criticar a prepotência do Governo, que não quis ouvir um novo sindicato composto por gente invisível e facilmente descartável, mas depois temos de olhar para o problema central que vai ficar por tratar porque não agrada nem à direita nem à esquerda: estes camionistas ganham uma miséria e representam na perfeição um dos nossos maiores problemas – a assimetria entre o topo e a base, a maior da Europa ocidental, só comparável aos abismos búlgaros e romenos.
Se no curto prazo o grande incompetente é o Governo, a longo prazo a grande pergunta é para a Dra. Amorim e afins: como é que o seu negócio milionário e monopolista paga salários miseráveis a quem transporta ouro negro?
Este tema não costuma interessar à direita, porque há à direita uma desconfiança imediata por sindicatos e greves. É um erro. Cada caso é um caso. E, neste caso, há que perguntar às gasolineiras: como é que pagam uma miséria a quem conduz tanta riqueza? Se no curto prazo o grande incompetente é o Governo, a longo prazo a grande pergunta é para a Dra. Amorim e afins: como é que o seu negócio milionário e monopolista paga salários miseráveis a quem transporta ouro negro? Este tema também não interessa à esquerda porque este sindicato está fora da alçada dos sindicatos tradicionais controlados pela esquerda. E, como se vê na comparação enfermeiros/professores, a esquerda só apoia greves controladas pela própria esquerda; greves não ungidas pela esquerda não são greves, são tumultos.
Se é operário numa fábrica de t-shirt, um indivíduo não pode esperar mais do que o salário mínimo. Mas, se é condutor de um dos negócios mais poderosos e lucrativos, esse mesmo indivíduo tem mesmo de ganhar muito acima do salário mínimo. Estes homens conduzem camiões perigosos de um ramo milionário e ganham uma miséria. Isto é inaceitável. Esta greve é mais do que justa e mostra como as elites de Lisboa (de esquerda e de direita) só reparam nos invisíveis quando estes se tornam visíveis à força.