A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Centro-direita vs. extrema-direita

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The centre cannot hold? <span class="creditofoto">Foto Reuters</span>

The centre cannot hold? Foto Reuters

Com o fim (temporário, definitivo?) das esquerdas na Europa, o quadro político europeu joga-se neste momento apenas e só à direita, entre o centro-direita clássico e herdeiro do mundo que criámos desde 45 e a revolução prometida pela direita nacionalista (não lhe chamem “populista”). Isto é tão revolucionário que acontecem coisas inacreditáveis como esta: jornalistas a tratar Macron como alguém de “esquerda”. Lamento, mas Macron é um político clássico do centro-direita conservador e liberal, um patriota em luta com a vaga nacionalista. Já não há esquerda, lamento. As sensibilidades da esquerda, o globalismo pós-estado de um lado, e o tribalismo politicamente correto, por outro, desapareceram.

Macron representa um patriotismo que acolhe o “outro” (ao contrário de Le Pen), mas que também exige a integração desse “outro” (contra a esquerda que está a desaparecer). É o centro-direita que grita, No Pasarán!

Fareed Zakaria (CNN), há dias, perguntou a Macron se ele não era a nova reencarnação da terceira vaga de Blair e Clinton. A resposta não podia ser mais clara: não. Como qualquer liberal clássico, Macron promove a economia de mercado, até porque tem de resolver o maior problema francês (o desemprego jovem). No entanto, não entra no globalismo quase pós-estado e pós-nação dos anos 90. É por isso que fala tanto em recuperar "soberania" em todas as suas dimensões: militar, policial e cultural. É aqui que surge o patriotismo como resposta ao politicamente correcto da esquerda e ao nacionalismo da extrema-direita. Um patriotismo que promove a integração do "outro", não o rejeitando como o faz o nacionalismo. Mas, lá está, exige a integração, rejeitando assim o tribalismo politicamente correcto. É um patriotismo que devolve ao povo o orgulho pela sua história e cultura, recusando de uma vez por todas a culpa pós-colonial e o permanente auto flagelação ocidental.

Macron recusa falar em esquerda e direita, o que faz sentido eleitoral. Se calhar, os eleitores querem mesmo coisas novas. Mas aqui é mesmo o caso em que algo deve mudar para que tudo fique na mesma. Macron não podia ser mais de centro-direita. Está lá tudo. Em primeiro lugar, a defesa de uma pátria cosmopolita, mas que recusa os globalismos pós-nação. Em segundo lugar, a defesa da soberania como factor fundamental da segurança, da identidade e da própria democracia. Em terceiro lugar, abertura comercial e económica, sim, mas sem cedências mais uma vez aos globalismos, desde vez os globalismos libertários que só vêem mercado. Em quarto lugar, Macron representa um patriotismo que acolhe o "outro" (ao contrário de Le Pen), mas que também exige a integração desse "outro" (contra a esquerda que está a desaparecer). É o centro-direita que grita, No Pasarán!