RICARDO COSTA

Estas europeias podem ser um totobola para todos partidos

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Passada a moção de censura do CDS, o caminho para as europeias está aberto e sem grande espaço para pausas. O verdadeiro destino desse caminho, como sabemos, é a eleição seguinte, em outubro, porque essa é que decide o Parlamento nacional e o Governo. Mas as europeias são um teste mais complicado e arriscado do que pode parecer, e não deve haver um único partido tranquilo com o desafio de maio.

Estas europeias são as mais importantes e decisivas da UE, serão (nunca se sabe...) o primeiro grande momento depois do Brexit, vão testar a força dos movimentos nacionalistas e antieuropeus, e pôr em causa a hegemonia dos tradicionais partidos mais ao centro. É natural que alguns ventos desse descontentamento possam chegar cá, talvez em proveito de novos partidos, mas ninguém sabe ao certo. Cerro, certo, é que estas eleições podem ser um totobola para todos os partidos.

Começando pelo PS, o maior fantasma no Largo do Rato é o da abstenção e do voto de protesto, muito frequentes em eleições europeias. A mobilização com que o PS conta reforçar a sua vocação em outubro dificilmente acontece neste tipo de eleições; e o voto de protesto é perfeitamente natural, sobretudo no fim de um ciclo legislativo. Quando as sondagens para as legislativas colocam o PS no limiar dos 40%, não vai ser fácil festejar um resultado que fique dez pontos abaixo.

O PSD está muto mais calmo depois do confronto interno ter reforçado Rui Rio, mas precisa de sair bem das europeias, sob pena de a guerra civil regressar de imediato ao partido. Para que isso aconteça, precisa de ficar a uma pequena distância do PS, de não ver o CDS crescer muito, que Santana não eleja e que os novos partidos do centro-direita não lhe roubem demasiados votos. A abstenção e o voto de protesto (neste caso contra o estilo de oposição) também podem prejudicar o PSD.

A matemática (e a política) diz-nos que é impossível que uma eleição destas corra mal a todos em simultâneo. É verdade – e é natural que haja, como sempre, vencedores nessa noite –, mas acho que esta votação coloca uma pressão enorme em todos os partidos, de uma forma muito clara

O PCP vem de um excelente resultado europeu e de um péssimo resultado nas autárquicas. Precisa de regressar a bons números, repetindo o que aconteceu há cinco anos quando o Bloco caiu muito. No atual quadro parlamentar o teste torna-se muito difícil porque pode não ser visto como partido de protesto ao Governo, apesar de beneficiar de posições anti-UE e antieuro muito sólidas.

O CDS parece ser o mais tranquilo de todos, embalado pelo bom resultado nas autárquicas de Lisboa, pela ideia de liderança de facto da oposição (que Cristas repete dia sim dia não) e por boas sondagens. Mas o partido sabe que qualquer recuperação do PSD ou afirmação de Santana lhe come o espaço de crescimento, sendo que o novato André Ventura também quer explorar o território “às direitas”. Um mau resultado será um enorme balde de água fria.

O Bloco parte de um valor muito baixo nas últimas europeias, em que viu Marinho e Pinto conquistar dois deputados e o Livre comer-lhe parte do eleitorado. Está, assim, em boas condições para subir, mas o seu apoio ao Governo, a multiplicidade de votos de protesto possíveis e os novos partidos podem apanhar algum do seu eleitorado europeu.

Tudo o resto, de Santana a Marinho e Pinto, passando pelo Livre ou André Ventura, precisa que a vida corra mal aos incumbentes para se afirmarem. A dispersão de votos pode não ajudar porque o limiar de eleição anda pelos 3 a 3,5%. Mas vão ajudar a complicar um boletim de voto que se aproxima de um totoloto.

A matemática (e a política) diz-nos que é impossível que uma eleição destas corra mal a todos em simultâneo. É verdade – e é natural que haja, como sempre, vencedores nessa noite –, mas acho que esta votação coloca uma pressão enorme em todos os partidos, de uma forma muito clara.