Expresso

Chris Sainty, embaixador do Reino Unido em Portugal, anda a fazer um périplo pelo país para se reunir com os britânicos que cá vivem. Não tem dúvidas de que o Brexit vai mesmo acontecer e, em entrevista ao Expresso, lembra que todos os cidadãos britânicos que vivem em Portugal e não estão registados devem dizer que existem até 29 de março: “Não temos um número exato sobre a quantidade de pessoas que não estão registadas mas suspeitamos que por cada um dos 23 mil que estão registados, existe um residente não registado

Texto Manuela Goucha Soares Foto Tiago Miranda

Chris Sainty assumiu funções como embaixador do Reino Unido em Portugal em outubro último. Fala um português gramaticalmente correto, com pouco sotaque, e sabe que o Brexit é um enorme desafio diplomático: “Enquanto embaixador, o meu principal dever é promover e defender os interesses e os direitos dos cidadãos britânicos em Portugal. Nesta altura, esta tarefa tem um significado especial”.

Tem tido vários encontros com a comunidade britânica residente em Portugal. Vai intensificar esta agenda até 29 de março?

Temos tidos vários encontros e vamos continuar a tê-los antes e depois da data da nossa saída [do Reino Unido da União Europeia].

Com essa resposta dá como adquirido que o Brexit vai mesmo acontecer?

(riso nervoso) Quem sabe!? Todos sabemos que há muita incerteza nesta altura. Mas estamos a trabalhar para essa data com o [nosso] Governo.

Quais os objetivos das reuniões que tem feito e vai fazer com os britânicos que vivem em Portugal?

Os nossos objetivos são ouvir as preocupações das pessoas, tentar responder às suas incertezas e dúvidas, e transmitir às autoridades portuguesas quais são as preocupações [da comunidade britânica residente] para tentar encontrar soluções.

Quais são as maiores preocupações das pessoas que vivem em Portugal?

A preocupação fundamental de quase todos os britânicos que cá vivem são os seus futuros direitos à residência: o direito de permanecer, viver, trabalhar, estudar [etc]. Creio, no entanto, que não há grande motivo para terem essa preocupação. Ambos os Governos – português e britânico – já deram fortes garantias aos cidadãos britânicos residentes em Portugal e aos portugueses que vivem no Reino Unido, de que serão garantidos os direitos destas comunidades qualquer que seja o desfecho do Brexit. Apesar desta garantia, os cidadãos britânicos que vivem em Portugal têm dúvidas de caráter mais prático: como vai ser o acesso aos serviços públicos depois da saída.

Quer especificar que dúvidas são essas?

Querem saber como vão ter acesso aos centros de saúde, às escolas, como vão poder conduzir os seus carros....

Já há respostas para estas dúvidas?

Não temos respostas exatas para todas estas perguntas. No entanto, as reuniões tem sido importantes; para nós é muito útil saber quais são [as dúvidas e inquietações] para as podermos transmitir ao Governo português e saber quais são os problemas fundamentais [que é necessário acautelar] nos próximos meses. De referir as declarações [positivas] que o Governo português fez na semana passada sobre a proteção dos direitos dos cidadãos britânicos que cá vivem, que [mostram que] os britânicos que vivem em Portugal contam com uma abordagem positiva do Governo português.

Quantos britânicos vivem em Portugal?

Não temos um número definitivo. Temos cerca de 23 mil legalmente registadas, mas suspeitamos que por cada pessoa registada possa existir mais uma pessoa não registada. Estimamos que vivam em Portugal entre 45 mil e 50 mil pessoas. No atual contexto, é muito importante que os não registados se registem porque só assim podem garantir os seus direitos depois da nossa saída [da União Europeia]; o registo deve ser feito junto das autarquias.

“Estimamos que vivam em Portugal entre 45 mil e 50 mil pessoas”

Os 23 mil registados são maioritariamente reformados?

A comunidade é muito diversa. No Sul, onde existe a maior concentração de britânicos [quase metade deste número no Algarve], são maioritariamente reformados. Mas a comunidade é diversa, noutros locais há gente jovem [estudantes e empresários], e também está muito dispersa pelo território continental e pelas ilhas.

A comunidade que vive na Madeira é diferente da do Continente?

Os britânicos que vivem na Madeira têm as mesmas preocupações do que no resto do país.

O aproximar do Brexit trouxe novos cidadãos britânicos para Portugal?

Nos últimos dois ou três anos aumentou a população britânica registada em Portugal; alguns voltaram ao Reino Unido, mas vieram outros. Não temos evidência de que exista uma alteração.