EUA-China
Tensões sobem de tom com troca de acusações em várias frentes
Os sucessivos diferendos entre os dois países já mostraram ter potencial para fazer escalar a situação para o nível do confronto se não forem tomadas medidas para diminuir as tensões. A tensão no mar entre navios de guerra e a extradição para os EUA de um agente chinês são alguns dos casos recentes. Pequim acusa Washington de ter iniciado uma nova Guerra Fria
Texto HÉLDER GOMES
Os EUA e a China têm ignorado as regras e restrições que mantêm a rivalidade entre as duas potências sob controlo, abrindo caminho a um conflito crescente em muitas frentes que nenhum dos lados parece disposto ou capaz de parar. O diagnóstico foi feito esta terça-feira pelo jornal inglês “The Guardian”, que ouviu vários especialistas na matéria.
As autoridades chinesas acusam Washington de ter iniciado uma nova Guerra Fria. Mas os sucessivos diferendos entre os dois países já mostraram ter potencial para fazer escalar a situação para o nível do confronto, devido a acidentes ou erros de cálculo, se não forem tomadas medidas para diminuir as tensões.
Nas últimas semanas, em plena disputa comercial entre Washington e Pequim, navios de guerra norte-americanos e chineses ficaram a poucos metros de colidirem no Mar do Sul da China. E o FBI montou uma armadilha na Bélgica para um alto funcionário dos serviços de informação chineses e mandou-o extraditar para os EUA, enfurecendo Pequim.
EUA ACUSAM CHINA DE TENTAR DERRUBAR TRUMP, PEQUIM ROMPE TRÉGUA CIBERNÉTICA
Entretanto, a retórica de guerra tem subido de tom, com os EUA a retratarem a China como um adversário perigoso. Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU em setembro, o Presidente Donald Trump acusou Pequim de o tentar derrubar, interferindo nas eleições de 6 de novembro para o Congresso americano.
O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, secundou a acusação de Trump, afirmando que a China está a adotar métodos “coercivos” para interferir na política interna americana e levar ao poder “um outro Presidente dos EUA”. Nem Pence nem Trump forneceram provas para as suas alegações.
A maioria dos especialistas defende que a China, apesar de ser líder em espionagem económica e ter feito lobbying contra as taxas alfandegárias de Trump, não está a tentar infiltrar-se nas eleições americanas da forma como a Rússia interferiu na votação de 2016 que elegeu Trump.
No entanto, o Governo de Pequim pôs termo a um cessar-fogo cibernético, acordado entre os Presidentes Xi Jinping e Barack Obama em 2015, levando a que piratas informáticos se lançassem novamente em busca dos segredos comerciais das empresas americanas. Também no Mar do Sul da China a ordem é para endurecer posições: a Marinha foi instruída a usar táticas mais agressivas para impedir navios americanos e aliados de navegarem nas proximidades.