EUA-China

Tensões sobem de tom com troca de acusações em várias frentes

À espera de ordens para reagir <span class="creditofoto">Foto Kevin Frayer / Getty Images</span>

À espera de ordens para reagir Foto Kevin Frayer / Getty Images

Os sucessivos diferendos entre os dois países já mostraram ter potencial para fazer escalar a situação para o nível do confronto se não forem tomadas medidas para diminuir as tensões. A tensão no mar entre navios de guerra e a extradição para os EUA de um agente chinês são alguns dos casos recentes. Pequim acusa Washington de ter iniciado uma nova Guerra Fria

Texto HÉLDER GOMES

Os EUA e a China têm ignorado as regras e restrições que mantêm a rivalidade entre as duas potências sob controlo, abrindo caminho a um conflito crescente em muitas frentes que nenhum dos lados parece disposto ou capaz de parar. O diagnóstico foi feito esta terça-feira pelo jornal inglês “The Guardian”, que ouviu vários especialistas na matéria.

As autoridades chinesas acusam Washington de ter iniciado uma nova Guerra Fria. Mas os sucessivos diferendos entre os dois países já mostraram ter potencial para fazer escalar a situação para o nível do confronto, devido a acidentes ou erros de cálculo, se não forem tomadas medidas para diminuir as tensões.

Nas últimas semanas, em plena disputa comercial entre Washington e Pequim, navios de guerra norte-americanos e chineses ficaram a poucos metros de colidirem no Mar do Sul da China. E o FBI montou uma armadilha na Bélgica para um alto funcionário dos serviços de informação chineses e mandou-o extraditar para os EUA, enfurecendo Pequim.

EUA ACUSAM CHINA DE TENTAR DERRUBAR TRUMP, PEQUIM ROMPE TRÉGUA CIBERNÉTICA

Entretanto, a retórica de guerra tem subido de tom, com os EUA a retratarem a China como um adversário perigoso. Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU em setembro, o Presidente Donald Trump acusou Pequim de o tentar derrubar, interferindo nas eleições de 6 de novembro para o Congresso americano.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, secundou a acusação de Trump, afirmando que a China está a adotar métodos “coercivos” para interferir na política interna americana e levar ao poder “um outro Presidente dos EUA”. Nem Pence nem Trump forneceram provas para as suas alegações.

A maioria dos especialistas defende que a China, apesar de ser líder em espionagem económica e ter feito lobbying contra as taxas alfandegárias de Trump, não está a tentar infiltrar-se nas eleições americanas da forma como a Rússia interferiu na votação de 2016 que elegeu Trump.

No entanto, o Governo de Pequim pôs termo a um cessar-fogo cibernético, acordado entre os Presidentes Xi Jinping e Barack Obama em 2015, levando a que piratas informáticos se lançassem novamente em busca dos segredos comerciais das empresas americanas. Também no Mar do Sul da China a ordem é para endurecer posições: a Marinha foi instruída a usar táticas mais agressivas para impedir navios americanos e aliados de navegarem nas proximidades.

Reino Unido

Theresa May quer manter aberta a porta das negociações para o Brexit. Cimeira da UE começa esta quarta-feira

Brexit soma e segue <span class="creditofoto">Foto Hannah MacKay / Reuters</span>

Brexit soma e segue Foto Hannah MacKay / Reuters

A questão da fronteira da Irlanda do Norte continua a ser um dos pontos de maior disputa entre Londres e Bruxelas. A primeira-ministra britânica deseja “manter a integridade da união” entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, que May considera estar ameaçada pela versão de acordo proposta pela UE. A cimeira de dois dias parece condenada a terminar sem acordo

Texto HÉLDER GOMES

A primeira-ministra britânica Theresa May vai pedir esta quarta-feira aos líderes da União Europeia (UE) em Bruxelas que mantenham a porta aberta para a continuação das negociações sobre o Brexit. O apelo é antecipado pelo jornal inglês “The Guardian” e surge na sequência de uma reunião ministerial de duas horas e meia em que se procurou encontrar uma forma de tentar aproximar as posições de Londres e Bruxelas.

“Se nós, como Governo, nos unirmos e mantivermos firmes, conseguimos alcançar isso”, disse May na terça-feira ao seu Executivo. Vários ministros intervieram para sublinhar a importância de garantir que o acordo não separasse a Irlanda do Norte do Reino Unido, um dos pontos de maior disputa entre os dois lados das negociações.

MAY QUER “MANTER A INTEGRIDADE DA UNIÃO” ENTRE GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE

O elenco governamental apoiou o apelo da primeira-ministra para “manter a integridade da união” entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, que May disse estar ameaçada pela versão de acordo proposta pela UE. Segundo o porta-voz da chefe do Governo, que cita a própria Theresa May, “não é possível que ela ou qualquer outro primeiro-ministro britânico assine um acordo que conduza a uma fronteira alfandegária no Mar da Irlanda”.

A primeira-ministra sugeriu à UE que a totalidade do Reino Unido permanecesse na união alfandegária depois do Brexit mas Bruxelas disse que precisa de mais tempo para avaliar essa proposta.

Esta parece ser, de resto, a tónica da cimeira de dois dias que se inicia esta quarta-feira em Bruxelas. Os chefes de Estado e de Governo da UE reúnem-se numa cimeira que não deverá levar a qualquer fumo branco em relação a um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia, marcada para 29 de março do próximo ano.

Etiópia

Governo terá 50 por cento de mulheres

O Presidente Abiy Ahmed escolheu mulheres para chefiarem metade dos seus ministérios <span class="creditofoto">Foto Tiksa Negeri / Reuters</span>

O Presidente Abiy Ahmed escolheu mulheres para chefiarem metade dos seus ministérios Foto Tiksa Negeri / Reuters

O primeiro-ministro do país argumentou que as mulheres “são menos corruptas que os homens”. Pela primeira vez a Etiópia terá uma mulher responsável pela pasta da Defesa

Texto MAFALDA GANHÃO

A Etiópia terá um governo com uma forte representação feminina, depois de o primeiro-ministro Abiy Ahmed ter entregue 50% dos cargos ministeriais a mulheres. Ahmed, de 42 anos, argumentou que as mulheres “são menos corruptas que os homens”, o que, segundo ele, contribuirá para restabelecer a paz e a estabilidade no país.

Além da nomeação de mulheres, o chefe do executivo diminuiu o número de postos ministeriais, de 28 para 20, dando continuidade à série de importantes reformas que tem levado a cabo desde que tomou posse, em abril. Ahmed conseguiu, por exemplo, pôr fim a duas décadas de conflito com a vizinha Eritreia e libertou milhares de presos políticos.

A pasta da Defesa será, por exemplo, ocupada por Aisha Mohammed, que antes teve a seu cargo a pasta das Obras Públicas. Já Muferiat Kamil, antiga presidente do parlamento etíope, ocupará o recém-criado cargo de ministra da Paz.

Com estas nomeações, a Etiópia coloca-se ao lado do Ruanda como os dois únicos Estados africanos a respeitarem a igualdade de género na composição do governo.

Caso Khashoggi

“Aqui vamos nós de novo com o ‘culpado até prova em contrário’”, diz Trump

Os sauditas são bons rapazes! <span class="creditofoto">Foto Jonathan Ernst / Reuters</span>

Os sauditas são bons rapazes! Foto Jonathan Ernst / Reuters

O Presidente dos EUA continua a colocar-se do lado da Arábia Saudita, poderoso aliado americano no Médio Oriente, no caso do jornalista saudita desaparecido há duas semanas no consulado do reino em Istambul. O secretário norte-americano do Tesouro deverá marcar presença numa conferência, na próxima semana em Riade, a que muitos já não vão

Texto HÉLDER GOMES

O Presidente dos EUA, Donald Trump, deu esta terça-feira o benefício da dúvida à Arábia Saudita no caso do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi. “Penso que primeiro temos de descobrir o que aconteceu. Aqui vamos nós de novo com o ‘culpado até prova em contrário’. Não gosto disso”, disse numa entrevista à Associated Press (AP).

Antes, Trump escrevera no Twitter que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, negou saber o que se passou no consulado saudita em Istambul, onde Khashoggi desapareceu há duas semanas depois de ter ido buscar os documentos necessários para o casamento com a sua noiva turca.

As autoridades turcas afirmaram acreditar que o jornalista saudita foi assassinado e o seu corpo retirado do local, algo que os sauditas negaram veementemente. Khashoggi vivia nos EUA e escrevia artigos de opinião no jornal “The Washington Post”, criticando o Governo saudita e pedindo reformas.

“Acabei de falar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita que nega totalmente qualquer conhecimento do que aconteceu no seu consulado turco. Ele estava com o secretário de Estado Mike Pompeo durante a chamada e disse-me que já tinha começado – e iria rapidamente expandir – uma investigação total e completa sobre o assunto. As respostas chegarão em breve”, escreveu Trump no Twitter.

DIRETORA DO FMI ENGROSSA LISTA DE CANCELAMENTOS PARA CONFERÊNCIA “DAVOS DO DESERTO”

Sinalizando desconforto com o caso, meios de comunicação internacionais e mulheres e homens de negócios têm cancelado a sua presença na conferência de investimento, conhecida como “Davos do deserto”, que decorre na próxima semana na Arábia Saudita. A diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, e o diretor executivo da Bolsa de Valores de Londres, David Schwimmer, juntaram-se a uma lista de cancelamentos que já conta com os CEO do JP Morgan, HSBC, Credit Suisse e BNP Paribas, entre outros.

A marcar presença estará o secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin, a menos que as conclusões da investigação sobre o desaparecimento de Khashoggi obriguem a uma alteração de planos, revelou Trump na entrevista à AP. A Arábia Saudita já avisou que irá retaliar contra qualquer pressão ou sanções económicas, enquanto Trump indicou que as vendas de armas ao reino não seriam interrompidas porque a medida custaria muito dinheiro e muitos empregos aos EUA.

ALGUMAS PARTES DO CONSULADO FORAM PINTADAS, DIZ ERDOGAN

Na segunda-feira, a CNN e o jornal “The New York Times” noticiaram que a Arábia Saudita se preparava para reconhecer que o jornalista foi morto durante um interrogatório que correu mal. No mesmo dia, Trump especulou que atiradores por conta própria estariam por detrás do desaparecimento.

Por sua vez, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que algumas partes do consulado saudita em Istambul tinham sido pintadas desde o desaparecimento do jornalista. “A investigação está a examinar muitas coisas, como materiais tóxicos e aqueles materiais que foram removidos pela pintura”, disse.

Relatório da OMS

Há “fortes indícios” de um surto de microcefalia ligada ao zika em Angola

À espera da consulta no Centro de Trataento de Neurocirurgia e Hidrocefalia de Luanda <span class="creditofoto">Foto Steohen Eisenhammer / Reuters</span>

À espera da consulta no Centro de Trataento de Neurocirurgia e Hidrocefalia de Luanda Foto Steohen Eisenhammer / Reuters

A falta de dados e meios de diagnóstico e um sistema de saúde inadequado têm dificultado o acompanhamento do surto. No entanto, investigadores portugueses sugerem que este é o primeiro surto no continente africano com a estirpe asiática da doença, a mesma que causou pelo menos 3762 casos de defeitos congénitos relacionados com o zika no Brasil desde 2015

Texto HÉLDER GOMES

Pelo menos 72 bebés nasceram com microcefalia em Angola entre fevereiro de 2017 e maio de 2018, suspeitando-se que sejam vítimas de um novo surto de zika. Os casos não foram amplamente divulgados mas um relatório interno da Organização Mundial de Saúde (OMS), a que a agência Reuters teve acesso, conclui que dois casos de uma estirpe potencialmente perigosa do zika confirmados no início de 2017, juntamente com casos de encefalia identificados desde então, fornecem “fortes indícios” de um surto de microcefalia ligada ao zika em Angola.

A falta de dados e de meios de diagnóstico e um sistema de saúde inadequado têm dificultado o acompanhamento do surto. No entanto, uma equipa de investigadores portugueses sugere que este é o primeiro no continente africano com a estirpe asiática da doença.

Foi essa estirpe que causou pelo menos 3762 casos de defeitos congénitos relacionados com o zika, incluindo microcefalia, no Brasil desde 2015, assim como graves surtos noutros países da América Latina. Os médicos e investigadores temem que o surto se espalhe de Angola para outros países do continente africano.

“PROVAVELMENTE NEM TODOS OS CASOS DE MICROCEFALIA PODEM SER ATRIBUÍDOS AO ZIKA”, DIZ MINISTÉRIO DA SAÚDE

Contactado pela Reuters, o Ministério angolano da Saúde informou que tinha registo de 41 casos de zika e 56 casos de microcefalia desde janeiro de 2017, quando começou a reunir os dados. Os números fornecidos diferem dos apresentados no relatório interno da OMS. “Provavelmente nem todos os casos de microcefalia podem ser atribuídos ao zika”, acrescentou o Ministério, listando uma série de outras causas potenciais, como a sífilis e a rubéola.

Por outro lado, a falta de capacidade de diagnóstico significa que muitos casos de microcefalia não são detetados, acrescenta a tutela, segundo a qual há apenas um laboratório em Angola que atualmente testa o zika.

O surto angolano acontece numa altura em que a atenção mundial já se desviou da doença. A epidemia do Brasil levou a OMS a declarar emergência de saúde pública global em fevereiro de 2016.