Tecnologia

A dupla “maldição chinesa” da Apple

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Foto reuters

O gigante norte-americano anunciou ao mercado que afinal não vendeu tanto como esperava no final do ano. A culpa, diz o presidente da Apple, Tim Cook, é da desaceleração da economia chinesa que está a ter impacto nas vendas de iPhones naquele lado do mundo. Mas a concorrência também está a fazer mossa no negócio

Texto Ana Sofia Santos

As receitas da multinacional norte-americana Apple sofreram um trambolhão no último trimestre de 2018, precisamente no período que inclui o Natal, a época de excelência para o comércio.

A justificar as novas previsões, a empresa aponta a desaceleração da economia chinesa e o aumento de tensão nas relações comerciais entre os EUA e a China, que estão a ter consequências nas vendas do iPhone naquela região (onde a Apple gera um quinto das suas receitas). Numa carta dirigida aos investidores, divulgada depois do encerramento da bolsa de Nova Iorque, o presidente da empresa, Tim Cook, revelou que a Apple estima que as vendas no quarto trimestre tenham sido da ordem dos 84 mil milhões de dólares (cerca de €73,6 mil milhões).

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As estimativas anteriores da Apple colocavam as receitas para este período entre os 89 mil milhões de dólares e os 93 mil milhões de dólares (os analistas apontavam para receitas na ordem dos 91,5 mil milhões de dólares, de acordo com dados IBES da Refinitiv). “Apesar de anteciparmos alguns desafios nos principais mercados emergentes, não fomos capazes de ver a magnitude da desaceleração económica, particularmente na China. A maior parte da nossa redução de receita esperada ocorreu na China em relação ao iPhone, Mac e iPad”, mencionou Tim Cook.

A concorrência de outras marcas de smartphones, como a Huawei e a Xiaomi, também estão a ter impacto no desempenho da empresa norte-americana. Aliás, Cook reconhece que, mesmo noutros mercados, os consumidores já não compram tantos iPhone como era hábito, um facto que poderá estar relacionado com o preço base de mil dólares (cerca de 877 euros) com que chegou ao mercado o mais recente modelo.

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Vários especialistas em tecnologia apontam que, apesar da explicação oficial de Cook colocar a China como o fator crítico para as vendas, o preço elevado do iPhone e a pressão da concorrência fazem parte da equação que está a puxar para baixo o desempenho da Apple.

Outro fator de impacto, menciona a Bloomberg, numa newsletter sobre tecnologia, reside noutra alteração ao nível dos consumidores americanos, que estão a ficar mais tempo com os antigos telefones: em média, só trocam de telemóvel passados mais de três anos.

Segundo cita a Aljazeera, com base em informação da empresa International Data Corp, foi a diferença de preço dos modelos da Huawei que fizeram que marca chinesa ultrapassasse a Apple em vendas, entre abril e setembro de 2018, atingindo o segundo lugar do pódio mundial da indústria de smartphones, liderado pela Samsung, que tem a maior quota de mercado (embora também as vendas deste gigante estejam a perder fôlego).

Em finais de janeiro, a multinacional deve publicar os resultados finais (outubro, novembro e dezembro de 2018, mas que constituem o primeiro trimestre fiscal de 2019). A Apple já tinha levantado dúvidas entre os investidores em novembro passado quando, depois de comunicar os resultados de todo o ano fiscal de 2018, anunciou que iria deixar de revelar os números trimestrais de vendas do iPhone, o que Wall Street interpretou como um mau presságio.

É a primeira vez, em quase duas décadas, que a Apple anuncia quebra de vendas e o anúncio caiu, naturalmente, com estrondo nas bolsas internacionais.

De acordo com a Bloomberg os futuros sobre ações norte-americanas caíram ao mesmo tempo que os mercados europeus de títulos da indústria da tecnologia se ressentiram, mal a Apple falou em quebra de receitas e houve movimentos “agitados” nos mercados cambiais, a destacar-se a subida do yen.