Chamem-me o que quiserem

Chamem-me o que quiserem

Henrique Monteiro

Partido Social Do manda o Rio

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Há duas formas de liderar sem contestação: uma é pelo exemplo e carisma. Outra, é pelo afastamento dos críticos e pela crispação. A segunda parece infinitamente mais fácil, ainda que seja transitória, porque estrategicamente desastrosa. Ao PSD, depois da ‘guerra civil’ que a liderança iniciou, resta esperar que o PS continue a cometer erros e pecadilhos para não chegar à maioria absoluta. Porque não será a eficácia do maior partido da oposição que impedirá esse objetivo de Costa.

O PSD sempre teve um problema de tribos, tendências, maledicência e falta de unidade quando não está no poder. Desde o tempo de Sá Carneiro. O PS, nesse aspeto, não é muito diferente. Num e noutro partido os períodos de oposição são conturbados. Depois dos líderes históricos (Sá Carneiro e Soares) terem abandonado as direções, sucederam-se líderes e lideranças ineficazes no que respeita à tomada do poder.

No caso do PSD foram líderes do partido, mas não do Governo (exceto Mota Pinto, que foi líder e vice-primeiro-ministro no chamado ‘Bloco Central’), nomes como Emídio Guerreiro, Sousa Franco, Menéres Pimentel, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. Agora (ou até agora), temos Rio.

O PS foi mais estável. Mas Constâncio, Sampaio, Ferro Rodrigues e António José Seguro (assim como Costa, embora seja primeiro-ministro) também jamais ganharam legislativas. Todos estes nomes estiveram em circunstâncias e conjunturas diferentes nas lideranças. Todos os que se tornaram primeiros-ministros o conseguiram por desgaste dos Governos anteriores ou por sucessão. Sá Carneiro, com uma grande aliança, destronou o PS (que havia ganho as primeiras eleições) após três Governos de iniciativa do Presidente, que então os podia formar. Sucedeu-lhe Balsemão, minado por intrigas internas do PSD e da coligação com o CDS. Soares voltou a vencer eleições, mas fez um Governo com o PSD em que a intervenção do FMI e a contestação social dominaram. Desse desgaste resultaram 10 anos de Cavaco; tentando sem sucesso a presidência, permitiu que a pasta passasse para o PS de Guterres. Depois de o atual secretário-geral da ONU afirmar que o país estava num pântano (2002), Durão Barroso ganhou as eleições (por pouco) e aliou-se ao CDS. Mais tarde saiu para Bruxelas e deixou Santana como herdeiro. Mais uma vez este foi minado pelas intrigas e pelo seu modo peculiar (digamos assim) de atuação, abrindo a maioria a Sócrates. Que deixou o país com a intervenção da troika e tornou Passos, que ganhara o PSD, como primeiro-ministro. A gestão dos anos da troika desgastou o Governo de Passos, que ainda assim, em coligação, venceu as eleições. Mas Costa conseguiu o poder através da constituição da chamada geringonça.

Nenhum líder venceu eleições por ser incontestado. Recebeu o poder que se esfarelava nas mãos de quem estava no poder. Nenhum líder venceu por controlar mais ou controlar menos o seu partido

Nenhum líder venceu eleições por ser incontestado. A heroicidade de líderes foi coisa dos primeiros Governos (Soares e Sá Carneiro). Os outros receberam um poder que se esfarelava nas mãos de quem estava no poder. Nenhum líder venceu por controlar mais ou controlar menos o seu partido. O partido que venceu as eleições beneficiou da derrota e desgaste do poder dos outros e não, particularmente, da sua própria pujança (e depois das legislativas de 2015 as vitórias e derrotas são contabilizadas por blocos de esquerda e direita e não por partidos isoladamente).

Tudo isto deveria fazer pensar Rui Rio. O que quer ele com as movimentações que faz? Se não tem hipóteses (ou parece não ter hipóteses) de derrotar o bloco oposto, não faria melhor em tentar unir o seu próprio bloco? No entanto, todos os esforços que parece fazer são no sentido inverso – reforçar o seu poder, perdendo cada vez mais apoios. Esse movimento dá força a quem está no Governo, porque, por mais erros que faça, não tem uma alternativa credível. A questão nem sequer é ideológica ou política. A questão é se Rio tolera diferenças dentro de um bloco que vai obviamente da social-democracia pura à direita quase integrista.

Já se viu que não sabe federar, nem liderar pelo exemplo, nem nada que se pareça. A sensação visível daqueles que estão à direita do PS é a desilusão.

A ideia que Rio dá é a de um homem que quer ter todo o jogo na mão, sem cedências nem acordos. Mas ninguém, partindo em desvantagem, ganha uma guerra sem aliados. Por muitos 80% que tenha nas votações em órgãos que ele próprio, em grande parte, já determinou.