Economia

De Aveiro para o mundo, para fazer de cada carro uma pequena central elétrica

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Em 2018 a Magnum Cap duplicou as vendas de postos rápidos Foto D.R.

A Magnum Cap, empresa portuguesa com 33 trabalhadores, duplicou no ano passado a faturação com a venda de postos de carregamento de carros elétricos. As máquinas permitem não só uma carga rápida, mas também fornecer energia de volta à rede, redesenhando a forma de funcionamento do sistema elétrico

Texto Miguel Prado

Fundada em 2010 pelos donos do grupo Martifer, e pouco depois comprada por José Henriques, um ex-quadro daquela empresa, a Magnum Cap iniciou em 2013 uma aposta que hoje a coloca no radar de algumas das maiores companhias de eletricidade do mundo. Há seis anos que a empresa portuguesa, instalada em Aveiro, produz postos de carregamento rápido para carros elétricos, com uma diferença face a muitos equipamentos hoje existentes: são postos bidirecionais, isto é, permitem que um veículo não só compre energia como também a possa vender à rede.

A Magnum Cap não está sozinha. Hoje outras empresas fabricam e fornecem este tipo de solução, também conhecida como V2G, de Vehicle to Grid, por permitir a transmissão de energia do carro para a rede elétrica. “Não somos o único fabricante desta tecnologia, e ainda bem. Significa que existe mercado. Quando começámos com a tecnologia éramos nós e mais um ou dois construtores”, conta ao Expresso o diretor de marketing da empresa portuguesa, João Guerra.

A Magnum Cap, que esta quinta-feira participa no evento Tech Portugal (que apresenta no Porto uma centena de projetos inovadores), já vendeu em termos acumulados 400 postos bidirecionais, principalmente para França, Holanda e Inglaterra, mas também para Espanha, Estados Unidos da América e África do Sul. O crescimento está agora a acelerar. Em 2018 a Magnum Cap vendeu cerca de 200 máquinas, o dobro do que tinha vendido no ano anterior.

E os planos para 2019? “Na tecnologia V2G achamos que vamos vender mais que no ano passado e a perspetiva é uma vez mais duplicar as vendas”, avançou João Guerra.

Segundo o responsável da empresa aveirense, que emprega 33 pessoas, os carregadores rápidos bidirecionais têm um preço entre 10 mil e 12 mil euros. O que significa que só no ano passado geraram para a Magnum Cap vendas de 2 milhões de euros.

De acordo com João Guerra, a empresa ainda não vendeu em Portugal, com exceção de um carregador que está a ser testado pela EDP e de um outro equipamento que vai ser instalado na Universidade de Coimbra, também em regime de teste.

Um negócio de escala

O responsável pelo marketing da Magnum Cap admite que no mercado dos postos de carregamento para carros elétricos “a concorrência é feroz”. “Sem dúvida, é um negócio de escala”, admite. Em Portugal, por exemplo, existe um outro fabricante de referência de carregadores de carros elétricos, a Efacec.

Nada impede que potências industriais como a China apostem no fabrico de postos de carregamento como sucedeu no passado com os painéis solares: há vários anos que os fabricantes europeus de painéis fotovoltaicos têm sérias dificuldades em concorrer com o baixo preço dos módulos fabricados na China.

Por isso, aponta João Guerra, a Magnum Cap está empenhada não apenas em ganhar escala e tração, mas também em começar a desenvolver uma série de serviços associados ao filão da mobilidade elétrica.

O sucesso da tecnologia V2G será tendencialmente maior nos países que mais apostam em energias renováveis, já que uma das principais vantagens destes carregadores é fazer de cada carro elétrico uma potencial micro-central elétrica móvel.

Uma das funções da solução V2G é fazer de cada carro elétrico um estabilizador da rede: enquanto estiver ligado a um carregador, o veículo pode abastecer a sua bateria, mas pode também, por frações de segundo ou de minuto, suspender o abastecimento e disponibilizar a sua potência e energia para reforçar a capacidade da rede elétrica numa determinada área de consumo.

Quanto mais carros elétricos estiverem ligados à rede, maior será a resistência do sistema elétrico às flutuações da produção de fontes renováveis intermitentes, como o vento e o sol.

Em Portugal, contudo, o mercado nacional não está ainda desenhado para que os veículos elétricos forneçam este serviço à rede (e sejam remunerados por isso).

Para a Magnum Cap o foco tem estado, portanto, em mercados mais maduros. A empresa de Aveiro tem uma parceria com a norte-americana Nuvve, dona do software que corre nos equipamentos da Magnum Cap. A companhia portuguesa tem a esperança de poder vir a associar-se a uma parceria que a Nuvve recentemente firmou com a gigante francesa EDF, para implementar a solução V2G em vários países onde a EDF vende eletricidade.