EUA

“Todos os olhos postos” em Elizabeth Warren no primeiro debate democrata

Eçizabeth Warren apresentou mais propostas políticas do que qualquer outro dos candidatos democratas <span class="creditofoto">Foto Leah Millis / Reuters</span>

Eçizabeth Warren apresentou mais propostas políticas do que qualquer outro dos candidatos democratas Foto Leah Millis / Reuters

Na primeira de duas noites de debates, dez candidatos à nomeação democrata para as presidenciais de 2020 defrontam-se esta quarta-feira. Elizabeth Warren assume claro protagonismo, já que os nomes mais fortes – Joe Biden e Bernie Sanders – só integram o lote de outros dez na segunda noite. “Será que vai atacar Sanders e Biden? Ou será que as suas críticas serão mais subtis?”. São várias as interrogações no arranque de uma contenda com um objetivo assumido: apurar quem poderá “derrotar Trump”

Texto HÉLDER GOMES

São 24 os candidatos à nomeação do Partido Democrata para defrontar Donald Trump, recandidato às eleições presidenciais americanas que se realizam em novembro do próximo ano. Daquelas duas dúzias, 20 defrontam-se esta quarta e quinta-feira em dois debates televisivos, com dez candidatos em cada uma das noites. O sorteio ditou que os candidatos que lideram as sondagens – o antigo vice-Presidente Joe Biden e o senador Bernie Sanders – se encontrassem apenas na segunda noite. Elizabeth Warren, senadora do Massachusetts, é a única candidata com sondagens de dois dígitos (12%) nesta primeira noite.

Warren apresentou mais propostas políticas do que qualquer outro dos candidatos, incluindo uma taxa sobre bens acima dos 50 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de euros). Antes de se tornar senadora em 2013, foi professora de Direito em Harvard com especialidade em direito comercial e insolvência. Para Farrah Alexander, colaboradora do jornal “Huffington Post”, a senadora “deu o mote ao definir objetivos verdadeiramente ambiciosos para o futuro do país”. Warren foi “a primeira candidata a fazer acompanhar os objetivos de planos detalhados sobre como os tornar possíveis”, comenta ao Expresso.

O gestor de relações públicas Russell Schaffer lembra que as propostas da senadora são tão abrangentes que vão “desde os direitos de voto às dívidas dos estudantes”. “Warren faz parte de um tipo raro de candidatos que gostam não apenas de fazer campanha e de se encontrar com os eleitores, mas também de discutir perspetivas complexas sobre política. Penso que todos os olhos estarão postos nela esta noite. Será que vai atacar Sanders e Biden e designá-los pelo nome? Ou será que as suas críticas serão mais subtis?”, questiona-se ao Expresso. “Até ao momento, a campanha democrata tem sido tímida. Todos os candidatos estão a guardar a artilharia para Trump, mas isso pode mudar”, arrisca o gestor.

O antigo congressista texano Beto O’Rourke tem destacado as baixas taxas de criminalidade na sua terra natal de El Paso como prova de que o muro de Trump não é necessário <span class="creditofoto">Foto Leah Millis / Reuters</span>

O antigo congressista texano Beto O’Rourke tem destacado as baixas taxas de criminalidade na sua terra natal de El Paso como prova de que o muro de Trump não é necessário Foto Leah Millis / Reuters

WARREN, BOOKER, O’ROURKE E KLOBUCHAR COM MIRA APONTADA AO IOWA

Além de Warren, o jornal “The New York Times” destaca três outros candidatos que levam a dianteira nesta primeira noite: o senador de New Jersey Cory Booker, o antigo congressista texano Beto O’Rourke e a senadora do Minnesota Amy Klobuchar. Booker, ex-mayor de Newark, tem focado a sua campanha numa mensagem de unidade e otimismo. O’Rourke tem destacado as baixas taxas de criminalidade na sua terra natal de El Paso como prova de que o muro de Trump não é necessário: “Não estamos seguros por causa de muros mas apesar deles.” E Klobuchar copatrocinou mais projetos de lei que passaram no Senado, detido pelos republicanos, do que qualquer outro senador desde que Trump assumiu funções.

Segundo o diário norte-americano, estes quatro candidatos têm “ideologias, propostas e estilos políticos diferentes, mas partilham uma estratégia: todos estão a apostar muito no Iowa”. Este é um dos “swing states” (“estados oscilantes”, numa tradução livre), ou seja, um dos 12 estados norte-americanos que tiveram disputas renhidas nalgumas das últimas eleições. Tendo em conta que tanto o candidato democrata como o republicano podem vencer nesses estados, estes assumem o papel decisivo de ditarem o resultado a nível nacional, isto é, de definirem a escolha do Presidente. O Iowa foi um dos estados que muito contribuíram para a eleição de Trump em 2016.

“O CAMPO DEMOCRATA MAIS TALENTOSO E EXPERIENTE NA HISTÓRIA AMERICANA”

Russell Schaffer também estará atento aos candidatos que tentarem criar “um momento viral”. “Todos os candidatos querem dizer algo incisivo, espirituoso ou mesmo brutal para despertarem a atenção. O caminho para a Casa Branca está pejado de candidatos derrotados que cometeram grandes erros durante os debates”, refere, sublimando a importância destes. “Há muitas décadas que os debates são uma parte integrante do processo de nomeação dos dois maiores partidos políticos nos Estados Unidos. Os eleitores, particularmente nas etapas iniciais como New Hampshire ou Iowa, levam-nos a sério e estão atentos a eles”, reforça.

Além dos quatro nomes acima referidos, às 21h locais (2h da madrugada de quinta-feira em Lisboa), subirão ao palco o presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, o congressista do Ohio Tim Ryan, o ex-secretário da Habitação Julián Castro, a congressista do Hawai Tulsi Gabbard, o governador de Washington Jay Inslee e o antigo congressista de Maryland John Delaney. “Este é o campo democrata mais talentoso, experiente e concorrido na História americana. Quem afirmar saber o que irá acontecer não está a dizer a verdade”, sintetiza o gestor de relações públicas.

Os candidatos Corey Booker, Amy Klobucher e Bernie Sanders (em primeiro plano) Foto ERIK S. LESSER / EPA

IRÁ DESTACAR-SE QUEM TIVER “A MAIOR PROBABILIDADE DE DERROTAR TRUMP”

Para Farrah Alexander, irá destacar-se entre os candidatos democratas “aquele que apresentar um plano viável para cumprir os objetivos e tiver a maior probabilidade de derrotar Trump”. “Penso que o povo americano quer mais do que metas ambiciosas não planeadas e promessas eleitorais vazias, e irá exigir isso dos candidatos. Julgo também que num campo ainda dominado por homens brancos [apenas seis mulheres concorrem], os eleitores querem saber de que modo os candidatos irão apoiar as mulheres e as comunidades hispânica e negra”, remata.

Russell Schaffer já está a pensar no debate de quinta-feira, que “será muito interessante porque Biden, Sanders e [a senadora Kamala] Harris estarão no mesmo palco”. Os dois debates têm lugar no Arsht Center de Miami, na Florida, e a duração de duas horas, sendo que cada candidato tem direito a um minuto para cada resposta.

Até ao arranque das primárias democratas em fevereiro, está prevista mais uma dezena de debates. A próxima etapa, também dividida em duas noites, está agendada para o final de julho em Detroit, no Michigan.

Do lado republicano, só o antigo governador do Massachusetts Bill Weld se apresentou para disputar a nomeação com Trump, mas tudo indica que não terá quaisquer hipóteses num partido rendido ao atual Presidente.