Economia

Investimento foi a estrela do crescimento no primeiro trimestre

A TAP deu uma ajuda ao crescimento do investimento no primeiro trimestre. A transportadora iniciou o aumento da frota este ano através de contratos de locação operacional, o que equivale a um investimento <span class="creditofoto">Foto Luís Barra</span>

A TAP deu uma ajuda ao crescimento do investimento no primeiro trimestre. A transportadora iniciou o aumento da frota este ano através de contratos de locação operacional, o que equivale a um investimento Foto Luís Barra

A economia portuguesa acelerou para 1,8% nos primeiros três meses do ano graças a uma “contribuição significativa” do investimento, destacou o Instituto Nacional de Estatística esta quarta-feira. Mas o crescimento no conjunto de 2019 vai abrandar em relação ao ano passado, podendo ficar no intervalo entre as previsões da Comissão Europeia e do Governo

Texto Jorge Nascimento Rodrigues Infografia Carlos Esteves

A economia portuguesa acelerou no primeiro trimestre deste ano, segundo a estimativa rápida para o crescimento divulgada esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,5% em cadeia, de um trimestre para o seguinte, o ritmo mais elevado desde o segundo trimestre do ano passado, e 1,8% em termos homólogos, ou seja, em relação ao mesmo período de 2018. O empurrão foi dado sobretudo pelo investimento, refere o INE.

A boa notícia junta-se ao anúncio esta quarta-feira de que a economia alemã saiu da estagnação de fim de ano e Itália se libertou da recessão em que mergulhara no segundo semestre do ano passado.

A aceleração na economia portuguesa significa que não abrandou em relação à fraca dinâmica homóloga observada nos últimos três meses de 2018, quando o crescimento da economia foi o mais baixo desde 2016. Em vez de continuar nessa desaceleração, a economia arrebitou graças sobretudo a “uma aceleração significativa do investimento”, destaca o INE.

Um dos contributos para esse aumento do investimento foram as importações de bens de capital associados ao transporte, com o início do processo de locação operacional de mais aviões para a TAP que vai ocorrer ao longo do ano, sublinha Paula Carvalho, economista-chefe do BPI.

Acima da média, mais abaixo dos ‘tigres’

Outro traço positivo é o facto de o país continuar a crescer acima da média da zona euro, mantendo a tendência de convergência. Em termos homólogos, o espaço da moeda única cresceu no primeiro trimestre 1,2% face a 1,8% para Portugal.

Mas, Portugal continua a registar um crescimento inferior a pelo menos sete economias do euro, para as quais há já dados sobre o primeiro trimestre, algumas delas com crescimentos acima de 3%. Algumas delas são consideradas os ‘tigres’ atuais do euro. Mas o nosso país fica à frente da quase estagnação em Itália (0,1%) e dos crescimentos muito fracos da Alemanha (0,7%), França (1,1%), Bélgica (1,1%) e Áustria (1,4%).

O aspeto mais negativo do primeiro trimestre foi o comportamento da economia portuguesa no comércio internacional. Verificou-se um abrandamento das exportações, em virtude da guerra comercial em curso e das múltiplas incertezas que dominam a economia da União Europeia e mundial, e um aumento das importações.

Mas, neste caso, o Ministério das Finanças sublinha, no comunicado publicado esta quarta-feira, que houve “um crescimento expressivo de importações de bens de equipamento, como no caso de máquinas e outros bens de capital, material de transporte e produtos transformados destinados à indústria”. Os analistas ouvidos pelo Expresso, em antecipação, na semana passada já haviam sublinhado que se tratou de uma dinâmica “virtuosa”, apesar do “contributo da procura externa líquida ter sido mais negativo que o observado no trimestre anterior”, sublinha o INE na estimativa divulgada esta quarta-feira. A evolução positiva dos volumes de negócios no mercado nacional de bens intermédios e de investimento, que registaram crescimentos de 2% e 2,3%, respetivamente em termos homólogos nos primeiros três meses do ano, refere a economista do BPI.

Crescimento anual pode ficar em 1,8%

A dinâmica positiva do investimento poderá estar a continuar no segundo trimestre. Apesar da aceleração nos primeiros três meses do ano, “o investimento permanece em níveis baixos, comparativamente ao PIB, quer em termos históricos quer comparando com economias semelhantes”, refere-nos Paula Carvalho, economista-chefe do BPI. A especialista sublinha ainda que “os inquéritos ao investimento elaborados pelo INE continuam a apontar para uma evolução positiva, e o custo de financiamento está em níveis historicamente reduzidos, suportando essa tendência”.

Salvo eventos externos disruptivos, se a economia portuguesa continuar a um ritmo de crescimento homólogo similar ao do primeiro trimestre, o crescimento no conjunto do ano poderá ser de 1,8%, segundo uma projeção feita pelo Expresso, que coincide com a previsão que Paula Carvalho avança. “Os indicadores de alta frequência apontam para uma estabilização em torno do atual ritmo de crescimento, ainda que esteja a ocorrer uma ligeira deterioração dos níveis de confiança sobretudo devido ao ambiente internacional e ao respetivo aumento de riscos. Mas estamos confortáveis com a nossa previsão de 1,8% para o conjunto do ano”, diz a economista.

Em cadeia, o crescimento da economia portuguesa poderá ainda acelerar mais no segundo trimestre, mas no último semestre do ano deverá abrandar, sem, contudo, colocar em causa a possibilidade do crescimento para 2019 se situar no intervalo entre a previsão mais pessimista da Comissão Europeia, que aponta para 1,7%, e a mais otimista de Mário Centeno no Programa de Estabilidade enviado para Bruxelas que aponta para 1,9%.