Arte

Quadro preferido de Ricardo Salgado (e guardado religiosamente pelo banqueiro) vai ser mostrado ao público pela 1ª vez em 70 anos

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Foto d.r.

Obra-prima da coleção do BES, agora Novo Banco, vai ser entregue ao museu de Évora

Texto Alexandra Carita

Trata-se da obra-prima da coleção do BES, agora Novo Banco, acervo que está a ser distribuído pelos museus portugueses. É um quadro raríssimo, mais celebrado ainda porque é uma versão de uma “Festa de Casamento” pintada por Bruegel, o Velho, em 1567.

A obra encontrava-se na família Espírito Santo até passar para o banco e se tornar na peça preferida de Ricardo Salgado, que a guardava religiosamente no seu gabinete privado, em Lisboa, na sede do BES. A obra do pintor flamengo, pintada em 1620, não é mostrada em público há 70 anos. O quadro mostra uma festa de camponeses que assinala um casamento. As diferenças entre os quadros do pai e do filho são de cromatismo e de pormenor.

Arraste o cursor que está no meio da imagem para o lado esquerdo e para o lado direito para verificar as diferenças entre as duas obras


A obra, que agora ocupará um lugar de destaque no Museu Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, é proveniente de uma coleção particular inglesa. É uma quinta versão do tema, e uma das mais antigas datadas, constituindo um importante contributo para o corpus da obra de Peter Bruegel, o Jovem. A assinatura P. BREVGHEL, com ortografia idêntica à das restantes versões, bem como a data, 1620, encontram-se à direita, inscritas na espessura da mesa de madeira.

Imagens dos Pieter Bruegel, pai e filho (o Velho e o Jovem)

Imagens dos Pieter Bruegel, pai e filho (o Velho e o Jovem)

Esta pintura de Pieter Bruegel, o Jovem, retoma uma composição do pai, Pieter Bruegel, o Velho, um dos primeiros pintores flamengos a interessar-se pela representação de temas rurais e a integrar nas suas composições, com um profundo sentido de observação, diversos géneros de pintura: retrato, paisagem, natureza morta, tipos e costumes, e, sobretudo, a narrativa de algo que estava a acontecer num momento específico. Captar o ambiente do acontecimento, traduzir pictoricamente a “narrativa em movimento”, observar o comportamento humano foram inovações marcantes na pintura da época.

Apesar de não ter tido muito contacto com o pai, que morre quando o jovem Pieter Bruegel tem apenas cinco anos, cresce num meio de artistas, neto do célebre pintor Pieter Coeck d’Alost e de Mayken Verhulst Bessmers, igualmente pintora, que o terá iniciado na arte da pintura. Aos 16 anos encontra-se inscrito na Guilda dos pintores de Antuérpia como “Peter Bruegel filho de mestre pintor”. Como primogénito, herda a oficina do pai e o respetivo acervo artístico - desenhos, esboços, gravuras, pinturas.

Ao longo de mais de meio século dará continuidade à sua obra. Faz várias pinturas ao estilo do pai, algumas cópias exatas, outras baseadas em originais ou em gravuras, nas quais insere variantes, e outras de composição original que, sendo da sua invenção, estilisticamente se mantêm “à maneira de”.

A sua obra, de exímia competência técnica no desenho e na pintura, traz também novos contributos no modo de representar a narrativa, com diversas inovações na iconografia dos temas rurais e populares. As suas composições originais transmitem uma visão pragmática e realista do mundo. É uma pintura que reflete um interesse sensível pelo ser humano, pelas suas preocupações quotidianas, filosóficas e espirituais.

Esta iniciativa enquadra-se no programa NOVO BANCO CULTURA e resulta de uma parceria estabelecida em 2018 com o Ministério da Cultura no sentido de disponibilizar ao público cerca de 90 obras do património artístico e cultural daquela entidade bancária.