A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

António Costa no caminho de José Sócrates

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O chico-esperto que legitima o chico-espertismo <span class="creditofoto">Foto Ana Baião</span>

O chico-esperto que legitima o chico-espertismo Foto Ana Baião

Tenho pensado na seguinte hipótese: e se Costa for igual ou pior do que Sócrates do ponto de vista do exemplo moral? Ou seja, e se Costa for moralmente corrosivo para o país numa dimensão parecida ou superior à de Sócrates? É que não precisamos de cair nas malhas da Justiça para sermos um exemplo de amoralidade. Repare-se só nesta epidemia de endogamia política. Aqui está o governo da República a legitimar um dos piores vícios da elite portuguesa, a sua pequenez endogâmica, os círculos fechados e bafientos que fazem lembrar as casas nobres da Guerra dos Tronos.

Estes sucessivos casos de nepotismo são a cara de António Costa e de mais ninguém, porque mais ninguém teve o descaramento de entregar a gestão da TAP renacionalizada a um amigo e de trazer outro amigo para a pasta da economia

Porque é que Costa não diz nada contra este triste espetáculo que é ver ministros a nomear namoradas, filhos e mulheres de secretário de Estado, deputados ou outros ministros? Porque ele é em si mesmo a endogamia política. Estes sucessivos casos de nepotismo são a cara de António Costa e de mais ninguém, porque mais ninguém teve o descaramento de entregar a gestão da TAP renacionalizada a um amigo e de trazer outro amigo para a pasta da economia. Ou seja, estes casos de 2019 mostram o António Costa amoral que está cá desde 2015. O nepotismo está cá desde 2015 e contou desde o início com a complacência da corte lisboeta. Já vimos este filme, ou não?

Sim, já vi e vivi este argumento: um primeiro-ministro do PS protegido por um manto de silêncio acrítico e que se julga acima do bem e do mal costuma ser a antecâmara da bancarrota financeira e, acima de tudo, da bancarrota moral.