BRASIL | SÃO PAULO

Entraram numa escola com armas medievais e um revólver: 10 mortos, 10 feridos e vários sobreviventes que não sabem como escaparam

Um dos estudantes que sobreviveram ao ataque <span class="creditofoto">Foto Reuters</span>

Um dos estudantes que sobreviveram ao ataque Foto Reuters

Aconteceu esta quarta-feira em São Paulo, no Brasil: cinco alunos de uma escola e dois funcionários morreram, tal como os dois atacantes e um familiar destes

Texto Sofia Perpétua no Brasil

Um vídeo de segurança mostra dois adolescentes a estacionar um carro branco junto à Escola Estadual Raul Brasil em Suzano, São Paulo, um pouco antes das 9h30. O portão da frente da escola estava aberto, era hora do intervalo. Pouco depois, por entre gritos e tiros, centenas de adolescentes correram desesperados pelo mesmo portão por onde entraram os assassinos.

“Foi muito tiro,” diz Lucas Alves, 16 anos. Lucas começou a correr assim que ouviu os disparos, saltou um muro com quase três metros, não olhou mais para trás, relatou à imprensa. Os adolescentes abrigaram-se em casas de banho, salas de aula, alguns, ainda incrédulos, não sabem como conseguiram saltar os muros da escola para poder correr pela vida naquele momento de pânico. Era hora do lanche da manhã, a funcionária da cantina Silmara Cristina Silva de Moraes reagiu rápido, barricou a cozinha e pediu a cerca de 50 alunos para se deitarem no chão. O ataque demorou cerca de 10 a 15 minutos. Os assassinos dirigiram-se depois para o edifício do centro de línguas, onde uma professora se fechou com os alunos dentro de uma sala. Os dois atiradores acabaram por se suicidar no corredor assim que se depararam com a força tática que os ia deter - antes da entrada desta força na escola estavam prestes a entrar numa sala com dezenas de alunos.

<span class="creditofoto">Foto EPA</span>

Foto EPA

Os moradores do bairro estranharam a correria dos adolescentes e todo o tumulto. Ao abrirem a porta de casa deparam-se com adolescentes a tremer, em choque, a pedir socorro.

A polícia chegou ao local às 9h45. Os dois atiradores foram identificados pela polícia como Guilherme Taucci, 17 anos, e Luís Henrique de Castro, 25 anos, ambos antigos alunos deste estabelecimento de ensino. Guilherme frequentou a escola onde cometeu este massacre até ao ano passado e o acesso pode ter sido facilitado por ser um ex-aluno conhecido.

A cronologia do massacre vai-se compondo aos poucos. Os atiradores mataram primeiro uma coordenadora pedagógica, depois atiraram numa funcionária, dirigiram-se para a cantina, onde mataram mais cinco jovens (quatro morreram no local e um a caminho do hospital), e acabaram por se suicidar no centro de línguas. Antes de chegar à escola, atingiram um homem que lavava carros, tio de Guilherme, com quem antes discutiram. O carro que utilizaram pertencia a esta loja. O homem foi atingido no abdómen e acabou por falecer - está entre as dez pessoas que morreram, sendo que duas são os próprios assassinos.

No hospital mais próximo há relatos de um rapaz que recebeu um golpe de machado no ombro direito e que entrou no hospital com o machado ainda espetado no ombro. Há também casos mais graves de adolescentes que chegaram com tiros na boca, nas pernas e abdómen. Um aluno levou um tiro na cabeça e está em estado muito grave. Aos hospitais chegam também pais desesperados que ainda não sabem onde estão os filhos. Abalados psicologicamente, há adolescentes que não sabem quem sobreviveu, alguns que viram morrer ao seu lado os seus melhores amigos.

<span class="creditofoto">Foto EPA</span>

Foto EPA

As autoridades divulgaram entretanto os nomes dos cinco alunos que morreram. Trata-se de Pablo Henrique Rodrigues, Caio Oliveira, Cleiton Antonio Ribeiro, Samuel Silva de Oliveira e Douglas Murilo Celestino.

Foi entretanto concedido apoio psicológico às famílias e às vítimas. A perícia esteve no local do crime nas horas que se seguiram ao massacre.

Ainda não se sabe a motivação que levou estes dois ex-alunos a cometerem um massacre nesta escola. “É a cena mais triste que vi na vida”, declarou o governador de São Paulo, João Dória, que visitou o local. Foi declarado luto oficial de três dias por esta tragédia.