RICARDO COSTA

Montenegro entrou num jogo onde não se fazem prisioneiros

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A resposta de Rui Rio ao desafio de Luís Montenegro foi boa. Foi a única possível e em reação, mas foi boa. Rio mostrou uma vez mais que só “cresce” em confronto, o que prova que faria melhor oposição se se confrontasse com o Governo, em vez de perder tempo em guerras com jornalistas, corporações imaginárias ou colegas de partido.

Rio foi agressivo e tomou a iniciativa de convocar um Conselho Nacional para discutir uma moção de confiança. No fundo, é o mesmo que os apoiantes de Luís Montenegro pediam, mas numa ordem diferente e num calendário decidido pela atual direção, que assume temporariamente a liderança do processo.

Pelos vistos, muitos apoiantes de Luís Montenegro, bem como próprio, não gostaram muito desta solução. Agora dizem que preferiam uma ida imediata para diretas, mais clarificadoras. Esta “desilusão” mostra uma estranha ingenuidade. Era relativamente óbvio que, perante o desafio da convocatória de um Conselho Nacional para “censurar” Rui Rio, este invertesse o tabuleiro do jogo.

Se alguém vier dizer (ou tentar dizer, antes de se ouvirem gargalhadas) que Montenegro não venceu porque o Conselho Nacional foi a um dia de semana no Porto, o candidato a líder corre sérios riscos de não chegar vivo a outubro. Outros tomarão o seu lugar para a ressaca das eleições

Luís Montenegro devia ter percebido, antes de fazer a sua declaração de desafio, que entrou num jogo onde não se fazem prisioneiros. Um desafio desta natureza joga-se em campo aberto, num um processo político onde só se pode perder ou ganhar. Não há outras soluções. Este processo pode dar cabo de Rui Rio, mas também pode liquidar quem o desafia. Suspiros, lamentos ou protestos são coisas ridículas num momento destes.

Parto do princípio de que Luís Montenegro e o seus apoiantes já tivessem feito o trabalho de casa, com espingardas contadas (e arregimentadas) para o Conselho Nacional. Num momento destes é indiferente que o Conselho Nacional tenha sido marcado para o Porto, numa quinta-feira às cinco da tarde. Se o trabalho preparatório estiver bem feito não é isso que afetará a votação. Se não estiver, então qualquer desculpa será esfarrapada.

Se alguém vier dizer (ou tentar dizer, antes de se ouvirem gargalhadas) que Montenegro não venceu porque o CN foi a um dia de semana no Porto, o candidato a líder corre sérios riscos de não chegar vivo a outubro. Outros tomarão o seu lugar para a ressaca das eleições.

É óbvio que a decisão de Luís Montenegro de avançar não foi fácil. Tem imensos riscos, ganhe ou perca. Mas, depois de dar o tiro de partida, só lhe resta correr e não procurar desculpas. Jogos onde se fazem prisioneiros não existem a este nível.