Política

Quatro cenários para o futuro do PSD

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Foto FERNANDO VELUDO/LUSA

O Porto Palácio Hotel pode ficar hoje na história do PSD - pela primeira vez, um líder social-democrata pode cair em Conselho Nacional como consequência de um desafio à liderança. Há “ganhar e perder”, como cantava Paulo de Carvalho, mas para ambos os lados, a dimensão da vitória ou da derrota pode ser decisiva para os próximos capítulos

Texto Filipe Santos Costa

RUI RIO ESMAGA NO CONSELHO NACIONAL

Se a moção de confiança apresentada por Rui Rio for aprovada por uma maioria clara dos conselheiros nacionais, o líder social-democrata arruma os críticos pelo menos até às eleições. No rioísmo os prognósticos são prudentes, mas há quem acredite que o presidente do PSD conseguirá esmagar os críticos. "Vamos ganhar, e por uma grande margem", disse ao Expresso um membro da Comissão Política Nacional completamente alinhado com Rio.

Se for assim, o líder do PSD terá provavelmente via verde até às legislativas. Mesmo que as europeias eventualmente lhe corram mal (e essas são eleições normalmente ingratas para o Governo, favorecendo a oposição com um voto mais livre e de protesto), um forte revês dos críticos deverá inibi-los pelo menos até Rio, ele próprio, ir a votos e mostrar o que vale. Se valer pouco nas legislativas, a luta continua.

RIO VENCE POR POUCO

Uma vitória magra pode ser o resultado mais ingrato para Rio e menos clarificador para o PSD. Se a moção de confiança for aprovada à tangente, e ainda mais se for numa votação de braço no ar, é garantido que a oposição interna não se calará. Por duas razões. Primeiro, porque os críticos de Rio desde o início têm exigido o voto secreto, que dá maiores garantias de liberdade aos conselheiros nacionais. Em segundo lugar porque esta não foi a clarificação pedida por Montenegro.

É verdade que a oposição interna se preparava para apresentar uma moção de censura, caso Rio fizesse ouvidos surdos ao desafio de Montenegro. Mas também é um facto que o ex-líder parlamentar se focou apenas no desafio para diretas já, sem desvios, e que a resposta de Rio, ao colocar a moção de confiança, poupou os críticos a avançar com o seu plano B.

Se Rio, no seu terreno, com as suas armas, e com a forma de votação que exige, não tiver mais do que três ou quatro votos de vantagem, não faltarão vozes a argumentar que não houve clarificação, nem o líder se reforçou internamente - mesmo que a exigência de diretas já seja deixada cair, o clima de paz podre poderá ficar ainda mais podre.

MOÇÃO DE CONFIANÇA É CHUMBADA POR POUCO

Os críticos têm destacado que foi Rui Rio quem escolheu este método - uma moção de confiança - e este terreno - o Conselho Nacional - para medir forças e, por isso, o expectável é que a direção do PSD saia vencedora. Se assim não for, a derrota implica imediatamente a queda da direção. Não é uma questão de opinião, é de estatutos.

A vitória de Rio pode ter interpretações e consequências diferentes de acordo com a sua maior ou menor robustez, mas uma derrota é uma derrota - por um voto que seja, Rio cai.

No entanto, a dimensão da vitória dos críticos não é indiferente do ponto de vista dos capítulos seguintes. Sendo certo que o chumbo da moção de censura implica diretas e congresso, se Rio perder por pouco, pode tentar virar esse resultado no voto direto dos militantes.

Uma das grandes linhas do líder do PSD tem sido um discurso antissistema, que vale também para dentro do partido. Do seu lado não tem faltado quem argumente que as jogadas de poder interno são motivadas apenas pela sede de poder e luta por "lugarzinhos" nas listas. Se sentir que foi derrotado por essa lógica, e por conselheiros nacionais que dizem uma coisa e fazem outra, Rio pode ter aí a motivação para voltar a ir a jogo, em nome da "ética", da decência e de uma revolução no PSD. Mas, para isso, convém que não perca por muitos.

MOÇÃO DE CONFIANÇA É DERROTADA POR MUITOS

O líder social-democrata não tem alimentado essas especulações, e a decisão de voltar a disputar novas diretas é exclusivamente sua. Contudo, no círculo mais próximo de Rio há quem tema que este, pela atitude de desapego ao poder que sempre demonstrou, poderá interpretar uma derrota por muitos no Conselho Nacional de hoje como um cartão vermelho de um partido que, afinal, não o quer - e deitar simplesmente a toalha ao chão.

Se tal acontecer, a questão passa a ser quem irá fazer frente a Montenegro assumindo a herança de Rio. O vice-presidente Salvador Malheiro tem essa ambição, mas, apesar das muitas movimentações do último ano, pode ainda ser cedo para dar esse passo. Nuno Morais Sarmento é visto como o elemento mais talentoso e combativo da equipa de Rio mas tem dado prioridade à sua vida profissional. Aliás, o seu relativo afastamento ao longo de todo este ano (a primeira entrevista que deu em defesa de Rio foi... ontem) indicia que a sua prioridade não será o partido.

Fora do núcleo-duro do rioísmo, surge o nome de Paulo Rangel. Há um ano, teria sido o preferido dos passistas para fazer frente a Rio. Porém, não avançou, manteve-se relativamente distante das convulsões partidárias e, agora, tem alinhado pelas teses da direção, contra o desafio de Luis Montenegro. Não tem aparelho próprio, mas pode herdar o de Rio, da mesma forma que, em 2010, recebeu o apoio da máquina ligada à tendência Ferreira Leite / Rui Rio.